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26/04/2002 - 02h31

Governo dos EUA financiou grupos de oposição a Chávez

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CHRISTOPHER MARQUIS
do "The New York Times"

No último ano, os EUA canalizaram centenas de milhares de dólares em doações para grupos norte-americanos e venezuelanos que se opõem ao presidente Hugo Chávez, incluindo o grupo sindical cujos protestos levaram ao breve afastamento do presidente venezuelano do poder neste mês.

Os fundos foram fornecidos pelo grupo NED (Dotação Nacional para a Democracia, na sigla em inglês), órgão sem fins lucrativos criado e financiado pelo Congresso dos EUA. À medida que as condições na Venezuela foram se deteriorando e que Chávez foi se chocando com diversos grupos empresariais, sindicais e da mídia, a organização quadruplicou seu orçamento anual destinado à Venezuela, chegando a US$ 877 mil.

Embora o objetivo expresso do grupo seja fomentar a democracia em todo o mundo, o escritório de direitos humanos do Departamento de Estado está estudando a possibilidade de que um ou mais dos receptores do dinheiro tenham conspirado ativamente contra Chávez. O escritório tem uma doação de US$ 1 milhão à organização que está suspensa até a conclusão da investigação.

"Queremos nos assegurar de que recursos do governo norte-americano não serão utilizados para financiar a derrubada inconstitucional do governo da Venezuela", disse um representante do escritório, pedindo anonimato. O porta-voz interino do Departamento de Estado, Philip Reeker, afirmou não ter conhecimento da doação proposta.

É motivo de preocupação especial uma verba de US$ 154,4 mil dada pelo NED ao Centro Americano de Solidariedade Sindical Internacional, o braço internacional da AFL-CIO (a principal central sindical americana), para ajudar a principal central sindical venezuelana a promover os direitos dos trabalhadores no país. A CTV (Confederação dos Trabalhadores Venezuelanos) liderou as greves que ativaram a oposição a Chávez. Seu líder, Carlos Ortega, cooperou estreitamente com Pedro Carmona, o líder empresarial que ocupou por dois dias a Presidência durante o golpe.

O NED também forneceu recursos significativos aos departamentos de política externa dos partidos Republicano e Democrata para trabalhos na Venezuela. Eles patrocinaram viagens a Washington de críticos de Chávez.

Em 12 de abril, dia do golpe, o Instituto Republicano Internacional, que recebeu US$ 349 mil, saudou a queda de Chávez. "A população venezuelana ergueu-se em defesa da democracia em seu país", disse o seu presidente, George A. Folsom, em um comunicado. "Os venezuelanos foram impelidos a agir como resultado da repressão sistemática promovida pelo governo de Chávez."

O principal responsável para a América Latina e o Caribe do NED, Chris Sabatini, disse que as verbas de sua organização são direcionadas a projetos específicos visando fortalecer a oposição democrática na Venezuela —incluindo formação em civismo, jornalismo e resolução de conflitos—, e não contribuíram para a tentativa de derrubada de Chávez.

Ele reconheceu que o NED aumentou seus gastos na Venezuela no último ano, na medida em que Chávez e seus seguidores foram limitando a liberdade de imprensa e procurando reprimir a crescente dissidência contra suas políticas de esquerda. O objetivo era criar um espaço político para os adversários de Chávez, afirmou Sabatini, e não contribuir para sua deposição.

Com orçamento anual de US$ 33 milhões, o NED todos os anos faz centenas de doações a grupos pró-democracia em diversos países e continentes. Seus defensores dizem que seu status independente permite que os EUA apoiem agentes democráticos em países onde a ajuda do governo americano poderia ser mal recebida.

Jane Riley Jacobsen, porta-voz do NED, disse que sua organização se conserva rigorosamente independente do governo federal e evita se imiscuir em discussões de política externa americana.

Os EUA negam acusações de que deram apoio aos golpistas. Mas o país não condenou o golpe e disse que ele ocorreu por causa das políticas de Chávez, cujas políticas se chocam com as posições dos EUA.

Tradução de Clara Allain
 

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