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27/04/2002 - 05h59

Jogadores pedem voto contra Le Pen

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MARK JOHN
da Reuters, em Paris

"Esta é a França que vence e que, pelo menos uma vez, está unida na vitória", declarou o presidente Jacques Chirac, sorridente, perante a nação em júbilo depois que sua seleção multirracial de futebol ganhou a Copa de 1998.

Quatro anos mais tarde, os comentários sobre uma "nação do arco-íris", dominada pela tolerância étnica, foram silenciados pelo avanço do líder de extrema direita Jean-Marie Le Pen, que mostrou que, fora dos campos de futebol, a França ainda tem um longo caminho a percorrer na área das relações raciais.

"Como a imensa maioria dos franceses, estou chocado", disse em seu site o capitão da seleção francesa, o ganense de nascimento Marcel Desailly, sobre a ascensão eleitoral de Le Pen. "Espero que, no dia 5 de maio, os franceses recobrem o bom senso e votem contra ele", exortou o jogador do britânico Chelsea.

Outros jogadores da seleção de 1998 se disseram não tão surpresos. "Parte de mim está surpresa, mas outra parte, não", explicou o ex-goleiro Bernard Lama, filho de um imigrante das Guianas. "Há muita insatisfação, muitas pessoas vivendo na pobreza, e Le Pen explorou todos os males sociais. Os valores que representávamos em 1998 foram para o espaço."

Por algumas semanas cheias de esperança, a seleção de 1998, que tinha oito jogadores não nascidos na França, foi saudada como precursora de uma era de entendimento entre a França branca e sua população imigrante.

O franco-argelino Zinedine Zidane brilhou. Lilian Thuram, nascido na ilha de Guadalupe, foi reverenciado como o herói.

Quando a equipe francesa derrotou o Brasil na final e levou o maior troféu do futebol mundial, Le Pen foi obrigado a cumprimentar uma seleção que ele havia classificado de "artificial".

Alguns analistas chegaram a afirmar que a vitória francesa na Copa teria representado o toque fúnebre da Frente Nacional de Le Pen, na medida em que mais e mais filhos de imigrantes correram para os clubes na esperança de se sucederem Zidane. Alguns deles se sentiram verdadeiramente franceses pela primeira vez.

"Os políticos pensaram que tinham resolvido todos os problemas por meio do futebol", disse o militante anti-racista Mouloud Aounit, falando do sentimento de tolerância étnica que tomou a França quando o país comemorou a vitória. "Na realidade, porém, o efeito durou apenas o tempo dos fogos de artifício."

A França, há muitos anos um país de imigrantes, já concedeu cidadania a muitos entre os milhões de recém-chegados de suas antigas colônias no norte da África e outras partes, mas, segundo Aounit, demora para assimilá-los.

A vitória de 1998 pode ter atuado como poderoso símbolo de união, mas não modificou as realidades sociais que dividem o país.

"Não haverá integração racial até serem derrubados os guetos onde as políticas discriminatórias de habitação social confinaram os imigrantes", disse o ativista Mamadou Gaye, do SOS Racisme.

A situação não é inteiramente sombria. Autor de uma biografia de Zidane, Jean Philippe insiste que o astro do Real Madrid é filho de uma família que "deu certo" socialmente, apesar de todas as desvantagens. "Pergunte a Zidane se ele foi vítima de racismo, e ele lhe dirá que não", afirma Philippe. "Mas nem todos podem ser Zidane, é claro."

É o caso de outro jogador campeão de 1998, Christian Karembeu, canaca do arquipélago de Nova Caledônia, no Pacífico, que se nega a cantar o hino francês.

Num jogo recente da seleção, ele foi vaiado a cada toque que deu na bola -um contraste marcante com o que se viu há quatro anos. Sobre o incidente, o atacante negro francês Thierry Henry, que joga no Arsenal, não hesita: "Não dá vontade de voltar para casa e jogar num time francês".


  • Tradução de Clara Allain
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