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28/04/2002 - 07h30

Bush falha em seu primeiro teste na AL

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MARCIO AITH
da Folha de S. Paulo, em Washington

O governo do presidente George W. Bush atrapalhou-se no primeiro grande teste de sua política para a América Latina. Essa é a opinião unânime de embaixadores e de analistas em Washington consultados pela Folha sobre a reação polêmica dos EUA ao fracassado golpe na Venezuela.

Na última sexta-feira, a segunda maior autoridade do Departamento de Estado responsável pela política dos EUA para a região, Lino Gutierrez, afirmou que tal opinião é injusta e "conspiratória".

"Os EUA não participaram do golpe nem aceitaram as ações inconstitucionais tomadas por aqueles que tentaram depor o presidente (Hugo) Chávez", disse à Folha. "Achar que os EUA patrocinaram o golpe é uma teoria conspiratória sem qualquer fundamento".

No entanto, diplomatas latino-americanos dizem ter presenciado fatos que, segundo eles, ferem a credibilidade do discurso com que Bush se dirige aos países do hemisfério desde que assumiu o poder, em janeiro de 2001. Esse discurso, baseado na defesa do comércio livre e da democracia como princípios inseparáveis e fundamentais, teria sido manchado logo nos primeiros momentos do golpe na Venezuela.

Os EUA dizem que não condenaram o golpe desde o primeiro momento porque achavam que Chávez havia renunciado. Também argumentam que nenhum dos fatos divulgados até agora prova a participação direta da Casa Branca no golpe.

No entanto, para alguns embaixadores latino-americanos em Washington, essas explicações não são suficientes para apagar a maneira com a qual o subsecretário de Estado para a América Latina, o cubano-americano Otto Reich, abordou o problema durante reunião de emergência realizada no dia 12 de abril (um dia depois do golpe e um dia antes de Chávez voltar ao poder).

Nem todos os embaixadores participaram. A Folha conversou com três que estavam presentes. Segundo eles, foi lida uma proposta classificando a troca de governo na Venezuela como uma ruptura da ordem democrática. Após ouvi-la, Reich teria respondido: "Não foi ruptura de ordem democrática, foi renúncia. O presidente renunciou e outro assumiu o cargo. Foi simples assim."

Quando diplomatas tentaram convencê-lo de que um presidente eleito não pode ser forçado a sair do poder naquelas circunstâncias, Reich teria feito uma segunda intervenção: "Como não? Tem país na região que teve cinco presidentes em uma semana."

Para os presentes, foi uma referência indelicada e equivocada à Argentina, país que também tinha um representante na reunião e que passa por série crise financeira. Incomodados, vários embaixadores disseram a Reich que as raízes da instabilidade política nos dois países são distintas, e que as trocas de governo na Argentina, embora preocupantes, obedeceram à ordem constitucional.

Reich teria se expressado como se os problemas da América Latina fossem os mesmos da década de 80 e como se, em vez de proteger a ordem democrática, a prioridade da Casa Branca fosse substituir governos de orientação de esquerda por administrações favoráveis à Casa Branca.

Da mesma maneira que Lino Gutierrez, Reich deixou Cuba ainda jovem. Nos anos 80, durante o governo Reagan, trabalhou para a queda do governo sandinista da Nicarágua, no que depois ficou conhecido como o escândalo Irã-contras. Foi empossado por George W. Bush em janeiro passado por meio de uma brecha legal, já que os democratas, que são maioria no Senado, haviam bloqueado sua nomeação.

"Se existia uma política de Bush para a América Latina, ela foi sequestrada por um grupo de cubano-americanos cuja única prioridade é derrubar Fidel Castro", disse à Folha Larry Birns, diretor do Conselho de Assuntos do Hemisfério, que estuda as relações entre os EUA e a AL.

Segundo ele, essas autoridades teriam aumentado a oposição a Chávez porque o presidente venezuelano aproximou-se de Fidel, passando a vender petróleo barato a Cuba. Birns diz que, dos dez mais altos funcionários do governo Bush para a América Latina, sete são cubano-americanos que nunca esconderam sua obsessão anti-Castro.

Gutierrez nega veementemente que o ódio a Castro esteja guiando a política dos EUA para a América Latina. "Derrubar Castro não é uma obsessão para mim nem para o governo dos EUA, embora o regime em Cuba seja uma vergonha para o hemisfério", disse ele.
 

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