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22/05/2002 - 05h07

Medellín é teste para favorito na Colômbia

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ROGERIO WASSERMANN
da Folha de S.Paulo, em Medellín

Com o tema da violência praticamente monopolizando o debate para a eleição presidencial do próximo domingo na Colômbia, a polêmica experiência do candidato favorito, o direitista Alvaro Uribe Vélez, como governador de Antioquia, Departamento (Estado) que concentra cerca de 35% de todo o conflito do país, deverá ser posta à prova nas urnas.

Em Antioquia estão presentes todos os atores do conflito colombiano: guerrilheiros das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e do ELN (Exército de Libertação Nacional), paramilitares das AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia) e narcotraficantes, além de dezenas de grupos organizados remanescentes da época em que a capital do Departamento, Medellín, era mundialmente conhecida por abrigar o cartel do narcotráfico chefiado por Pablo Escobar (morto em 1992).

"Imagine os morros do Rio de Janeiro tomados pelo tráfico. Acrescente aí guerrilha e paramilitares e você terá uma dimensão do conflito em Antioquia", diz Manoel Alberto Alonso, diretor do Centro de Estudos Políticos da Universidade de Antioquia.

A violência faz parte do dia-a-dia da região. Ontem, oito pessoas morreram, entre eles duas crianças, durante confrontos de tropas do Exército com as Farc e o ELN em plena rua em um bairro central de Medellín. Outras 35 pessoas ficaram feridas.

O atual governador do Departamento, Guillermo Gaviria, foi sequestrado há um mês pelas Farc quando participava de uma marcha pacifista pelo interior.

Autoridade
Em sua campanha, baseada principalmente na idéia da autoridade contra os grupos armados ilegais, Uribe, que aparece nas últimas pesquisas com 49,3% das intenções de voto, tem defendido sua gestão como governador, entre 1995 e 1997, como exitosa em conseguir a "pacificação" do Departamento.

Os adversários, como o candidato liberal Horacio Serpa (centro, 23% das intenções de voto), porém, o acusam de ter facilitado a proliferação dos paramilitares na região, por meio do estabelecimento de cooperativas privadas de segurança, chamadas Convivir. Uribe nega.

A ativista Gloria Cuartas, prefeita de Apartadó, cidade de 100 mil habitantes de Antioquia, no mesmo período de Uribe como governador, diz que a ação das Convivir, ao contrário do que o candidato alega, agudizou o conflito na região.

"Cerca de 140 mil pessoas deixaram a região por causa da violência durante seu governo. Na minha cidade, 1.200 pessoas foram assassinadas por paramilitares nesse período, entre eles muitos professores, ativistas de direitos humanos e sindicalistas", afirma ela.

Para Freddy Escobar, professor da Universidade de Antioquia, a aparente calma em algumas regiões do Departamento é consequência da proliferação dos paramilitares. "Quando as Farc são desalojadas pelos paramilitares, em algumas zonas, a violência cai. Mas isso é porque não é a mesma coisa você ter dois grupos disputando territórios que um só grupo controlando totalmente a região."

A população, dividida, vê com desconfiança as mensagens recebidas durante a campanha. "Ainda não decidi meu voto. Dizem que Alvaro Uribe está na frente, mas, se é verdade que ele apóia os paramilitares, como é que vai haver paz?", questiona a aposentada Irene Gaviria, 74, moradora de favela na zona norte de Medellín.

Já sua vizinha Yomar Astrid Sánchez, 29, dona-de-casa, declara seu voto no ex-governador, que, segundo ela, "pode melhorar a situação". "Nunca votei na minha vida, mas quero votar no domingo por Alvaro Uribe", diz.

Relatório da ONU
Uma missão da ONU que investigou a matança de 119 civis na cidade de Bojayá (Departamento de Chocó, vizinho a Antioquia), há três semanas, divulgou ontem um relatório no qual responsabiliza as Farc pelas mortes, mas adverte sobre a suposta conivência do Exército com a ação dos paramilitares na região.

Os civis foram mortos após a explosão de uma bomba na igreja do povoado, na qual buscavam refúgio para o confronto entre paramilitares e guerrilheiros pelo controle territorial. O massacre foi o pior em quase quatro décadas de guerra civil.

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