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05/06/2002 - 04h03

Vídeo sugere novo golpe na Venezuela

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CLÓVIS ROSSI
Colunista da Folha de S.Paulo

Um grupo de dez pessoas, em uniforme de combate e se dizendo oficiais das Forças Armadas venezuelanas, emitiu ontem comunicado em que dão um ultimato ao presidente Hugo Chávez, no que soa como início de um novo processo golpista.

No texto, os supostos oficiais se dizem dispostos a "ir às últimas consequências a fim de resgatar a dignidade do povo e das instituições".

Como todos os dez supostos oficiais estavam encapuzados, há dúvidas, entre as fontes consultadas pela Folha, sobre a sua real identidade. Mas não há dúvidas de que, no mínimo, se trata de mais um episódio da guerra psicológica e de propaganda entre Chávez e seus adversários.

No dia 11 de abril, a guerra tornou-se cruenta, com a morte de manifestantes anti-Chávez, seguida de uma tentativa de golpe, liderada por setores das Forças Armadas e da sociedade civil, que entregaram o poder ao então principal líder empresarial venezuelano, Pedro Carmona.

O golpe durou apenas 48 horas. No fim da noite do dia 13, Chávez reassumiu, com respaldo em outra parte das Forças Armadas e dos setores mais pobres da população caraquenha. Carmona é que acabou preso, depois fugiu e obteve asilo na Colômbia.

Chávez aproveitou a volta ao poder para promover um expurgo nas Forças Armadas, mas o comunicado de ontem parece indicar que há importantes focos de resistência ao presidente.

Quem assume a responsabilidade pelo pronunciamento é um grupo chamado "comacates" (iniciais de comandantes, majores, capitães e tenentes-coronéis). Usaram como intermediária uma jornalista que é desafeta de Chávez, Patricia Poleo, diretora do jornal "El Nuevo País".

No vídeo que enviaram a Poleo, os supostos "comacates" avisam que, "dentro de pouco tempo", uma nova classe política terá a oportunidade de dirigir "os destinos de nossa nação".

Da mesma forma que as fontes ouvidas pela Folha, o ministro do Interior e Justiça, Diosdado Cabello, um dos mais fiéis chavistas, duvidou de que os encapuzados sejam de fato oficiais.

"Não me atrevo a assegurar que não haja um um oficial, mas isso parece muito com o pronunciamento de 11 de abril", afirmou.

No dia 11 de abril, houve o falso anúncio de que Chávez havia renunciado, o que descaracterizaria o golpe. Seria, então, apenas o preenchimento do vazio de poder, como alegaram os golpistas, inclusive Carmona.

De fato, a linguagem empregada no vídeo recupera questões utilizadas em abril, como a acusação de que o governo Chávez tem "ideologia política de extrema esquerda" e a crítica aos Círculos Bolivarianos, criados por Chávez para apoiá-lo.

Para o presidente, são grupos de defesa do que ele chama de Revolução Bolivariana. Para a oposição, não passa da reprodução na Venezuela dos CDRs cubanos (Círculos de Defesa da Revolução), acusados de elo da cadeia repressiva do regime cubano.

O comunicado investe contra três autoridades "chavistas" —o procurador-geral, o Defensor do Povo e o responsável pela vigilância das contas públicas— e também contra os juízes do Tribunal Supremo.

Pede que todos sejam destituídos.

Seja o comunicado apenas uma tentativa de manter a tensão política no grau mais elevado, seja de fato um ultimato, é provável que só se venha a saber dentro de uma semana. No dia 11, dois meses exatos após a tentativa de golpe, a oposição pretende organizar uma grande marcha em direção ao Palácio de Miraflores, a sede do governo.

O Movimento Quinta República, coluna vertebral do chavismo, já anunciou que não haverá uma contramarcha, o que, em tese, deixará as ruas em poder da oposição.

Como há evidente divisão nas Forças Armadas, demonstrada pelos acontecimentos de 11 a 13 de abril, e como há, igualmente, um certo consenso na Venezuela de que a saída de Chávez só é possível por meio dos mecanismos institucionais, o ruído das ruas acaba sendo decisivo.

"Trata-se de popularidade", escreveu Edgar López para o jornal "El Nacional", ao analisar as possibilidades de afastamento legal do presidente.

A única via seria o Congresso, no qual Chávez é majoritário, aceitar a redução do seu período de governo, que vai até 2007.

Ou, como hipótese intermediária, a utilização de mecanismo criado pela própria Constituição Bolivariana, impulsionada por Chávez. Trata-se do referendo revogatório, pelo qual qualquer eleito pode ser destituído, a partir da metade de seu mandato, se 20% dos eleitores solicitarem a consulta popular e, claro, se a destituição for aprovada pela maioria do eleitorado venezuelano.

A metade do mandato de Chávez cai em janeiro de 2004, o que parece longe demais para a temperatura política da Venezuela.

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