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09/06/2002 - 03h50

Armas estão proibidas na tenda da Loya Jirga

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da Agência Folha

Uma das mais peculiares instituições afegãs, a Loya Jirga será realizada em uma tenda gigante climatizada, de 2.800 metros quadrados, trazida da Alemanha - onde serviu à Oktoberfest, o festival da cerveja de Munique.

Lá, seus 1.501 delegados irão se reunir para debater o novo governo, as indicações para o gabinete e os procedimentos para a confecção da nova Constituição.

A megatenda será instalada no campus da Politécnica de Cabul, amontoado de prédios semidestruídos que receberam algumas demãos de tinta para o evento.

Nos sete dias de debate, sobre tapetes e almofadas (embora mesas e cadeiras estejam disponíveis), os delegados não estarão autorizados a portar armas ou a trazer seguranças armados.

É uma mudança e tanto para os padrões de discussão afegãos. Quando o Taleban caiu, em novembro, a Folha testemunhou uma mini-Loya Jirga em Jalalabad. Eram cerca de 50 líderes pashtus do leste afegão. Nenhum tinha menos que quatro homens armados com fuzis Kalashnikov e lança-foguetes ao seu lado.

A tensão das discussões lembrava aquela dos dignitários árabes reunidos em Damasco após a derrota otomana para os ingleses na Primeira Guerra, retratada no filme ''Lawrence da Arábia''. Briga para cada pequeno item.

A coisa quase descambou para guerra civil, só evitada porque a Aliança do Norte aceitou se aliar aos pashtus do leste.

Há algumas regras para poder participar dos debates, como nunca ter matado ''alguém inocente'' e não estar ligado a nenhum grupo violento ou a atividades ilícitas como o narcotráfico. Aparentemente, as exigências são mais formais do que reais.

Dos 1.501 participantes, 1.051 foram escolhidos pelo voto, em 370 distritos eleitorais. Sobraram acusações de fraude e de compra de votos, mas os monitores da ONU deram sinal verde para o processo continuar. Diversos pedaços da sociedade afegã, como clérigos, cientistas, mulheres e refugiados, terão participação.

A origem da Loya Jirga remonta ao século 18, quando foram estabelecidos os primeiros conselhos tribais. A mais famosa delas ocorreu em 1747 e proclamou o primeiro rei do Afeganistão. Era Ahmad Shah Durrani, que, segundo a lenda, foi o único líder presente a não proferir uma palavra sequer nos nove dias de debate.

Em 1773, a Loya Jirga foi chamada de forma secreta —e, secretamente, todos os seus integrantes foram mortos pelo desconfiado rei Zaman Shah. Em 1928, o rei Amanullah pediu à sua mulher, a rainha Soraya, para tirar o véu em plena Loya Jirga. Queria apoio às suas propostas modernizantes e acabou gerando uma revolta.

O ex-rei Zahir Shah, que vai liderar a nova Loya Jirga por ser considerado o mais velho e sábio presente, presidiu a última reunião do gênero, em 1964, para definir a adoção de uma Constituição parlamentarista. Havia presidido outras, como a de 1955, que decidiu pelo pedido de ajuda à então União Soviética.
 

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