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30/06/2002 - 04h16

Em crise, Bolívia elege novo presidente hoje

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RODRIGO UCHÔA
Enviado especial da Folha de S.Paulo a La Paz

Dezessete anos depois de iniciar uma reforma liberal profunda e acabar com o "capitalismo de Estado", a Bolívia vai às urnas hoje com seus três favoritos à Presidência -Manfred Reyes Villa, Gonzalo Sánchez de Lozada e Jaime Paz Zamora- pregando a volta do Estado à economia.

"É um refluxo: à mesma época em que o país foi redemocratizado, o modelo liberal foi 'vendido' como uma panacéia; agora, com uma crise econômica aguda e o descrédito da classe política, a população parece se voltar para o Estado", afirma o cientista político peruano Tito Zambra, especialista em América Latina pela Universidade da Flórida (EUA).

Onze candidatos a presidente disputam o pleito de hoje, porém apenas os três citados têm chances de ir para o segundo turno indireto. Como nenhum deles deve alcançar mais da metade dos votos válidos, o que garantiria a eleição agora, a responsabilidade pela indicação do chefe do Executivo fica a cargo do Legislativo.

Esse processo eleitoral acaba revestindo a votação de uma dupla importância, pois dela sairá a renovação do Congresso.
Os três favoritos prometem, cada um a seu modo, novas subvenções estatais, bancos de fomento e um Estado mais ativo no desenvolvimento. Manfred Reyes Villa, 47, lidera as pesquisas com cerca de 20% das intenções de voto.

Ele está à frente da NFR (Nova Força Republicana). Apesar de o partido ser novo e desafiar os mais antigos e estruturados, Reyes não pode ser visto como um "outsider", pois foi prefeito de Cochabamba por quase dez anos.

Acusado de populista, ele promete "uma nova política social", o que significaria a intervenção ativa do Estado.

Gonzalo Sánchez de Lozada tem atrás de si a maior máquina partidária do país, o MNR (Movimento Nacionalista Revolucionário).

O partido foi fundado em 1942 e liderou a revolução de 1952, que implementou uma das maiores reformas agrárias do continente: "Maior do que a mexicana, menor do que a cubana", diz Guillermo Bedregal, dirigente partidário que já foi ministro do Planejamento e chanceler.

Talvez por isso Goni, como Sánchez de Lozada é popularmente chamado, esteja liderando nas áreas rurais: 19%, contra 15% de Reyes e 15% do líder cocaleiro Evo Morales, 42. Nas áreas urbanas, Reyes lidera com folga: 24%, contra 16% de Goni.

Apesar de o MNR ter raízes nos movimentos de esquerda, Sánchez de Lozada é tido como um dos candidatos mais conservadores e afinados com Washington. Autor da privatização da estatal boliviana de petróleo e gás, ele é cauteloso ao falar de intervenção, mas não deixa de dizer que é preciso um "Estado agente do desenvolvimento".

Se não conseguir uma recuperação de última hora, Jaime Paz Zamora deve ficar alijado da disputa direta pela Presidência, mas ficará na importante posição de fiel da balança. "Será a noiva, cortejada por todos", diz Zamba.

Paz Zamora é um político experiente, foi presidente de 1989 a 1993. Deve focalizar suas atenções, depois de hoje, na formação da bancada do MIR (Movimento da Esquerda Revolucionária), que deve ficar também como a terceira força do Congresso.

Líderes indígenas
Depois de ter seu mandato de deputado cassado pelo Congresso, que o acusava de incitar a violência entre os plantadores de coca, Morales segue em quarto nas pesquisas, perto de Paz Zamora.

Suas chances de passar ao segundo turno são remotas, mas ele espera se aproveitar das declarações do embaixador dos EUA, Manuel Rocha. Na quarta-feira, Rocha advertiu os bolivianos de que a votação em "apoiadores do narcotráfico" implicaria a suspensão de auxílio americano e o fechamento do importante mercado de gás da Califórnia.

A gritaria contra as declarações do diplomata foi generalizada, forçando o presidente Jorge Quiroga a exortar a soberania boliviana na hora de escolher seus candidatos. O Conselho Nacional Eleitoral, órgão responsável pelo pleito, acusou o embaixador de "atentar contra a Constituição".

David Ramos, dirigente do sindicato dos mineiros, disse que o caso foi "uma humilhação para a Bolívia". Morales, por sua vez, disse que o embaixador passou a ser seu maior cabo eleitoral.

Ele deve capitalizar votos com a indignação dos bolivianos, mas o principal dessa eleição para os movimentos indígenas deve mesmo ser a maior participação representativa no Congresso.

O MAS (Movimento ao Socialismo), de Morales, deve obter até 20 cadeiras das 130 da Câmara Baixa. Há também 27 senadores.

O outro candidato indígena é Felipe Quispe, 59, ex-dirigente do Exército Guerrilheiro Tupac Katari e líder sindical que vem comandando importantes manifestações no país. Apesar de não ter chances, ele estréia o Movimento Indígena Pachakuti, que representa uma das principais etnias da Bolívia, os aymarás.
 

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