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09/07/2002 - 03h53

Eleição boliviana reforça poder indígena

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RODRIGO UCHÔA
da Folha de S.Paulo

O líder cocaleiro Evo Morales, 42, assumiu ontem o segundo lugar na apuração dos votos da eleição presidencial boliviana do dia 30 de junho e pode ir para o segundo turno contra Gonzalo "Goni" Sánchez de Lozada, 72, candidato do MNR (Movimento Nacionalista Revolucionário), o mais tradicional e antigo partido do país. Mesmo que Morales não avance na disputa, analistas dizem que os movimentos indígenas chacoalharam definitivamente o equilíbrio político da Bolívia.

Reuters
O candidato à Presidência da Bolívia, Evo Morales
Somados os votos de Morales e de seu aliado Felipe Quispe, líder do Movimento Indígena Pachakuti, a votação ultrapassaria a de Goni, como o ex-presidente liberal (1993-97) é conhecido.

Morales tinha ontem pouco mais de 700 votos sobre o populista Manfred Reyes Villa, da NFR (Nova Força Republicana).

Com 99,76% da apuração, o liberal Sánchez de Lozada tinha 623.830 votos (22,45% dos votos válidos), contra 581.870 (20,94%) de Morales e 581.051 (20,91%) de Reyes. O ex-presidente social-democrata (1989-93) Jaime Paz Zamora seguia em quarto, com 453.153 (16,31%). Quispe estava em quinto, com 169.237 (6,09%).

Os dois primeiros colocados disputarão um segundo turno indireto no Congresso.

Juntos, os dois principais líderes indígenas do país somavam 27% dos votos válidos.

"É sem dúvida uma evolução na representatividade dos indígenas", afirmou o analista político Tito Zambra. "Na Bolívia, a mobilização dos indígenas já é impressionante, mas faltava representatividade política", concluiu.

O presidente da Bolívia, Jorge Quiroga, aplaudiu ontem os resultados eleitorais alcançados pelos movimentos indígenas.

A inesperada e imprevista votação no MAS (Movimento ao Socialismo), partido de Morales, pode estar ligada a dois fatores, dizem os analistas: a desilusão crescente com os partidos tradicionais e o voto de protesto contra a excessiva ingerência dos EUA nos assuntos internos da Bolívia.

Três dias antes do pleito, o embaixador dos EUA no país, Manuel Rocha, disse que Washington fecharia seus mercados aos produtos bolivianos caso o líder cocaleiro fosse eleito presidente.

Morales é crítico dos programas de erradicação das plantações de coca e, por isso, foi acusado pelo diplomata americano de manter ligações com o narcotráfico.

"Há uma demonização sem sentido do líder cocaleiro", afirmou o brasileiro Wálter Maierovitch, que foi secretário nacional antidrogas do governo FHC.

"Ele é bem-visto pelas entidades internacionais de defesa dos direitos humanos, já que luta pelo desenvolvimento sustentável das populações indígenas que hoje são extremamente dependentes das plantações de coca," disse.

Deputado eleito em 1997, Morales teve seu mandato cassado menos de dois anos depois, acusado de incitar a violência nos conflitos das forças de segurança bolivianas com os cocaleiros.

Agora ele liderará uma bancada de oito senadores e quase 30 deputados. Ele, porém, se nega a fazer alianças com os partidos de direita. "Não podemos trair o voto do povo, que elegeu esta representação", disse.

Segundo Isaac Bigio, analista internacional da London School of Economics, Reyes poderia querer formar um bloco com o MIR e o MAS contra os "partidos do sistema", mas o MAS se recusa a qualquer contato com o populista.

Paz Zamora agora é procurado como o fiel a balança na eleição. Bigio não descarta uma aliança dele com Morales. "O MIR já se coligou com todo o espectro político nacional." Nascido em 1971 como um movimento guerrilheiro contra a ditadura Hugo Bánzer (1971-78), o MIR se aliou em 1989 ao próprio Bánzer e, de 1997 a 2002, foi uma das bases de sustentação do banzerismo.

Processo indireto
No dia 30 de junho, os bolivianos votaram para a sucessão presidencial e para a renovação das 130 cadeiras na Câmara dos Deputados e das 27 cadeiras do Senado. Como nenhum dos candidatos a presidente alcançou mais da metade dos votos válidos, o Congresso fica responsável pelo segundo turno indireto entre os dois mais votados.

Os parlamentares devem se reunir no dia 4 de agosto para eleger o sucessor do presidente Jorge Quiroga, que entrega o cargo no dia 6 de agosto.

Cerca de 4,2 milhões dos 8 milhões de bolivianos estavam registrados para votar, mas mais de 30% dos eleitores não compareceram às urnas. Ao menos 55% dos bolivianos são indígenas das etnias quêchua e aymará, 30% são mestiços e 15% são brancos.

O país tem as maiores reservas de gás natural da América do Sul.

Evo Morales defende a reestatização das empresas de gás e o fim do modelo "neoliberal" adotado nas duas últimas décadas.

Sánchez de Lozada terá o controle de uma bancada de 11 senadores e 42 deputados. Principal implementador dos programas de privatização, ele promete criar empregos com obras públicas.

A Confederação Sindical Única dos Trabalhadores Camponeses prometeu bloquear as principais rotas rodoviárias da Bolívia se Sánchez de Lozada for eleito.

Com agências internacionais
 

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