Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
04/08/2002 - 08h29

Colômbia espera por Uribe e mais guerra

Publicidade

ROGERIO WASSERMANN
da Folha de S.Paulo

Há quatro anos, os colombianos aguardavam com esperança a posse do presidente Andrés Pastrana, eleito com uma promessa de alcançar a paz por meio do diálogo e terminar com uma guerra civil que já durava três décadas e meia. Pastrana fracassou, e a intensidade da guerra só fez aumentar nesses quatro anos. Agora, os colombianos esperam novamente a posse, na quarta-feira, de um novo presidente que promete acabar com a guerra.

Ao contrário de Pastrana, porém, Álvaro Uribe, 50, quer terminar com a guerra com mais guerra. Com o lema 'mão firme, coração grande', Uribe foi eleito já no primeiro turno, em maio, prometendo 'autoridade' para combater os grupos rebeldes.

"O panorama para a Colômbia é muito complicado para os próximos meses, porque o nível de violência deve aumentar muito", avalia o analista Adam Isacson, coordenador do Projeto Colômbia do Centro de Política Internacional, de Washington.

As perspectivas para o país são ainda mais sombrias quando se toma como base a atual situação. Cerca de 40 mil colombianos morreram somente nos últimos dez anos por conta do conflito. A Colômbia é o país campeão mundial de sequestros -em 2001 foram 3.041, mais de 8 por dia.

O narcotráfico, outro problema que aflige o país desde a década de 80, incorpora-se cada vez mais à guerra, utilizado pelos grupos ilegais como fonte de financiamento. Nem mesmo a ajuda americana de US$ 1,3 bilhão conseguida por Pastrana para combater o tráfico deu resultado -as plantações de coca continuam crescendo, e a oferta da droga aos mercados consumidores é estável.

Na semana passada, o Congresso americano autorizou o uso dessa ajuda para o combate à guerrilha e aos grupos paramilitares de direita, antevendo a intensificação do confronto.

Desde fevereiro, quando o processo de paz iniciado por Pastrana no final de 1998 foi rompido, as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), principal guerrilha do país, intensificaram suas ações, com ataques à infra-estrutura, atentados à bomba e ameaças a autoridades. Os analistas vêem essa ofensiva como uma tentativa de se fortalecer diante da perspectiva de um embate mais violento no futuro governo Uribe.

Tanto o futuro presidente como a guerrilha dizem estar abertos ao diálogo, mas as condições que impõem são consideradas inviáveis.

"Não vai haver negociação nem no curto prazo nem no médio prazo, porque, apesar de ambos se dizerem dispostos a negociar, as condições que impõem são difíceis de aceitar", afirma o senador Antonio Navarro Wolff, eleito com a segunda maior votação na eleição parlamentar de março.

Navarro tem experiência no assunto. Ex-dirigente do grupo guerrilheiro M-19, ele participou das negociações de paz com o presidente César Gavíria, em 1990, que transformaram o grupo em partido político.

Zona desmilitarizada
Em um comunicado divulgado em sua página na internet, poucos dias antes da eleição presidencial, as Farc admitiam a possibilidade de voltar à mesa de negociações com o próximo presidente, mas exigiam para isso que o governo deixasse de chamá-las de "terroristas" ou "narcoterroristas", que promovesse um combate aos paramilitares de direita e que desmilitarizasse dois Departamentos (Estados) ao sul do país.

A concessão de uma zona desmilitarizada foi justamente uma das maiores críticas ao processo de paz formulado por Pastrana. Segundo os críticos, a área de 42 mil km² (equivalente ao território da Suíça) concedida por Pastrana às Farc no sul do país era utilizada pelos guerrilheiros como campo de treinamento, esconderijo de reféns e área de cultivo e processamento de drogas. A área acabou sendo retomada pelo Exército em fevereiro, quando o sequestro de um senador pela guerrilha precipitou o fim do processo.

O próprio Uribe também já admitiu negociar com os rebeldes, mas impõe condições igualmente duras, como um cessar-fogo prévio e o fim do envolvimento da guerrilha com sequestros e narcotráfico, o que deixaria o grupo sem fontes de financiamento.

No primeiro discurso como presidente eleito, na noite do pleito, Uribe sugeriu uma negociação com a mediação da ONU (Organização das Nações Unidas).
Apesar da resposta positiva das Nações Unidas, mesmo aliados de Uribe se dizem pessimistas quanto à possibilidade de um diálogo.

"Parece muito difícil que no prazo de alguns anos Uribe chegue a uma negociação como a que chegou Pastrana, porque a situação agora é de intensificação do conflito", diz o senador Rafael Pardo, ex-ministro da Defesa.

Navarro e Pardo discordam frontalmente sobre as perspectivas da Colômbia com a "mão firme" prometida por Uribe. "A mão dura não vai dar resultado. O que veremos é as Farc adotando cada vez mais a pura tática guerrilheira, numa guerra desigual que não se vence militarmente", diz Navarro. "Creio que assim nos aprofundaremos cada vez mais no pântano no qual já estamos metidos", afirma.

Para Pardo, a opção de Uribe não é "utilizar a força ou não utilizar a força". "Não há alternativas. O que a Colômbia precisa agora é de autoridade, pré-requisito para qualquer negociação futura", diz.

Segundo ele, o que os colombianos podem esperar dessa política é "uma presença maior da força pública, de maneira contínua e permanente, em todo o território nacional, para reocupar os espaços que foram tomados pelos grupos armados ilegais".

Aumento do efetivo
A futura ministra da Defesa, Marta Lucía Ramírez, adiantou na última semana algumas das propostas que pretende seguir para aumentar o poderio militar no combate aos grupos armados ilegais: aumento nos gastos na área, financiado pela criação de um novo imposto, e o aumento no efetivo das Forças Armadas, seguindo a sugestão do governo dos EUA de incorporar reservistas.

Para o general da reserva Álvaro Valencia Tovar,ex-comandante-geral das Forças Armadas, um aumento no efetivo não basta. "Aumenta-se a mobilidade, pode-se ocupar regiões abandonadas, mas nunca será o bastante para derrotar a guerrilha, porque o território nacional é muito extenso. Além disso, a guerrilha se esconde nas montanhas, região que domina e onde a luta é mais difícil", diz.

Em sua avaliação, o aumento dos gastos deve ser financiado por ajuda externa, para não correr o risco de quebrar o caixa do governo e piorar ainda mais a situação de pobreza e desigualdade que serviu de caldo de cultura para o avanço da guerrilha.

Leia mais

  • Paramilitares colombianos tentam limpar imagem


  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página