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07/08/2002 - 09h39

Ministra colombiana nega mais violência

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ROGERIO WASSERMANN
da Folha de S.Paulo

Mão dura, mas sem violência. Segundo a nova ministra da Defesa da Colômbia, Marta Lucía Ramírez, 47, que toma posse hoje com o novo governo de Álvaro Uribe, a promessa de campanha de combate aos grupos armados ilegais deve ser lida como a retomada da autoridade do Estado e não como uma perspectiva de intensificação do conflito, que já dura quatro décadas e vem matando mais de 3.500 pessoas ao ano.

Em entrevista à Folha por telefone, de Bogotá, a nova ministra disse que um novo processo de paz com a guerrilha é possível, mas somente com um cessar-fogo prévio. "Hoje é perfeitamente claro que o país quer que qualquer espaço político se desenvolva sobre a base do fim das hostilidades e dos sequestros", disse.

Ramírez, a primeira mulher a comandar a Defesa no país, é uma das poucas integrantes do governo de Andrés Pastrana, que passa a faixa a Uribe hoje, a compor o novo gabinete. Ela foi ministra do Comércio e, mais recentemente, embaixadora em Paris.

Folha - A mão dura que Álvaro Uribe prometeu na campanha significará mais guerra?
Marta Lucía Ramírez - Não sei por que há essa interpretação. Eu lhe pergunto se você, em seu país, tem instituições que se comprometem com o cumprimento das normas e da Constituição e se isso significa gerar violência. Devemos ver as coisas no contexto adequado. Quando um governo legítimo permite às instituições cumprir seu dever, isso não quer dizer mais violência. Mão dura quer dizer compromisso firme com o cumprimento da Constituição e das leis. No sentido político da campanha, significa que não vamos permitir abusos à liberdade e aos direitos dos cidadãos colombianos.

Infelizmente aqui, na Colômbia, os direitos mais elementares, como a liberdade, não podem ser desfrutados, porque esses grupos à margem da lei se dedicam a desenvolver uma guerra contra toda a sociedade civil. O que vamos fazer é restabelecer o uso pleno desses direitos, através de instituições e de uma democracia cada vez mais sólidas e cada vez mais enfocadas nas liberdades individuais.


Folha - E qual a estratégia do governo para neutralizar a ação dos grupos armados ilegais?
Ramírez - Acreditamos que isso seja possível com uma política de segurança baseada não somente nas forças militares e policiais, mas também na presença mais integral do Estado colombiano. Isso quer dizer mais Justiça eficaz, mais promotores, mais serviços de saúde, mais serviços de educação. Esse Estado mais presente e mais legítimo é que dará aos cidadãos mais confiança e trará mais comprometimento com as instituições e com a democracia.


Folha - Essa estratégia pressupõe gastos maiores e um efetivo militar maior. Como financiar isso?
Ramírez - Vou lhe contar uma coisa. Curiosamente, a Colômbia é o país que tem o maior conflito interno e a menor porcentagem de gastos militares e de defesa em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) entre os países latino-americanos, sobretudo em relação às economias de tamanho médio e grande. Então, se falarmos em aumentar os impostos para financiar um aumento nos gastos de defesa, é o mínimo para conseguirmos melhores condições para as nossas Forças Armadas.


Folha - Isso depende também de ajuda externa?
Ramírez - Acho que essa é uma questão sobre a qual nenhum país pode se sentir ausente ou espectador. Assim como a globalização econômica serve para o desenvolvimento, para o crescimento, para o maior comércio entre os países, ela também permitiu o desenvolvimento de organizações criminosas transnacionais. Isso que estamos vivendo hoje na Colômbia, com narcotráfico e terrorismo, pode afetar também a democracia e a estabilidade de qualquer outro país da região. Por isso é tão importante que haja um compromisso solidário dos governos da região para apoiar a Colômbia.


Folha - Esse apoio estrangeiro pode significar uma ação direta, como a presença de tropas americanas na Colômbia?
Ramírez - Essa hipótese está totalmente descartada. Por sorte, temos um país grande, com 42 milhões de habitantes, com homens suficientes e capazes de ingressar nas Forças Armadas. Acreditamos ter condições suficientes para desenvolver uma ação militar com nossas Forças Armadas. Mas é claro que necessitamos cooperação militar em outros campos. É excelente a notícia de que podemos complementar nossos esforços com os do Brasil em relação aos radares para vigiar o espaço aéreo, para frear qualquer expansão do narcotráfico. Essa tecnologia é mais importante como ajuda do que o que poderíamos ter com tropas estrangeiras no país, o que, repito, está totalmente descartado.


Folha - Com o atual quadro de degradação do conflito e com a rejeição provocada pelo processo de paz promovido por Pastrana, a sra. vê possibilidade de que no governo Uribe haja um novo diálogo?
Ramírez - O presidente Uribe vem dizendo o tempo todo que o nosso conflito requer espaços políticos, mas, com a experiência dos últimos quatro anos, pensamos que não podemos antepor o espaço político a essa ação muito integral e muito comprometida do Estado colombiano. Deve-se desenvolver toda a estratégia de presença estatal em todo o território colombiano sem prejuízo de que, no momento que seja oportuno e as condições estejam dadas para sentarmos novamente à mesa, haja toda a disposição do governo para um novo espaço de conversações, com a condição de que acabem as ações terroristas e as hostilidades.

Hoje é perfeitamente claro que o país quer que qualquer espaço político se desenvolva sobre o fim das hostilidades e dos sequestros, porque não é possível dar um espaço político para um grupo que está sequestrando 3.500 pessoas ao ano [em 2001, houve 3.041 sequestros no país, dos quais 58% foram atribuídos às guerrilhas e 9% aos paramilitares].


Folha - E a lógica é a mesma para guerrilhas e paramilitares?
Ramírez - É exatamente igual. Não importa quem seja o agressor, se se chama guerrilha ou paramilitar, o rigor da lei e a ação das forças do Estado devem ser aplicados por igual.

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