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15/08/2002
-
04h53
ROGERIO WASSERMANN
da Folha de S.Paulo
A Fedecámaras, principal entidade empresarial da Venezuela, voltará a pedir a renúncia do presidente Hugo Chávez e analisa a possibilidade de organizar, com trabalhadores, uma nova greve geral no país contra o governo.
"Há elementos que justificam uma greve geral. O país está convulsionado", disse à Folha o empresário Carlos Fernández, 52, presidente da entidade.
Em 11 de abril, uma greve geral e manifestação convocadas pela Fedecámaras e pela CTV (Confederação dos Trabalhadores da Venezuela) provocaram confrontos com 17 mortes e levaram ao golpe que tirou Chávez do poder por dois dias. O então presidente da Fedecámaras, Pedro Carmona, hoje exilado na Colômbia, assumiu a Presidência no período.
Para Fernández, a situação hoje é pior que a de abril. Ele não descarta a ocorrência de novos episódios de violência. "A situação é extremamente delicada e pode gerar qualquer tipo de desenlace", disse o líder, por telefone, de Caracas.
Folha - Membros da oposição acusam Chávez de armar um plano para suspender a Justiça. O sr. acha que existe esse perigo?
Carlos Fernández - O presidente da República disse agora há pouco que se o juiz quer ficar tem de ter elementos para ficar. Há um pedido feito por alguns deputados do MVR [Movimento Quinta República, partido de Chávez] para criar uma Constituinte para desconhecer os Poderes públicos, entre eles o Supremo Tribunal, para evitar que a corte tomasse sua decisão no dia de hoje [ontem]. Também queriam tomar a Polícia Metropolitana [controlada pelo prefeito de Caracas, Alfredo Peña, adversário de Chávez], mas parece que já se debelou esse propósito.
Aparentemente, há um plano de criar uma espécie de autogolpe, um estado de exceção, com o argumento da violência provocada pelos próprios simpatizantes do governo. Há duas semanas que os chavistas vêm praticando atos de violência e provocando a oposição para que ela cometa erros e vá a um enfrentamento. Mas a oposição não está jogando esse papel que o governo espera, não vai cair nessa armadilha. O governo quer os enfrentamentos para justificar um estado de exceção que lhe daria liberdade para desfazer todas as situações que não lhe favorecem.
Folha - Chávez acusou os juízes da corte de corrupção...
Fernández - Mas não apresentou provas. Se tem provas e não apresenta, se transforma em cúmplice.
Folha - A Fedecámaras prepara um protesto contra Chávez?
Fernández - Estamos analisando a possibilidade de uma paralisação, mas não tem relação com a decisão do Supremo Tribunal. O problema é a grave situação econômica por que passa o país, que estamos analisando junto com os trabalhadores. A paralisação cívica seria para chamar a atenção para a busca de uma saída que permita encontrar caminhos diferentes para a reativação econômica.
Folha - Vocês pensam em uma manifestação conjunta com a CTV, como a de 11 de abril [que antecedeu o golpe]?
Fernández - Isso, mas não está totalmente certo. Ainda estamos analisando alguns elementos para tomar a decisão. Mas, sem dúvida, a situação econômica é tão precária hoje, com o fechamento de empresas, perda de postos de trabalho, aumento de impostos, perda de capacidade aquisitiva. Há uma série de elementos que poderiam justificar uma greve geral. O país está convulsionado.
Folha - O sr. considera a situação hoje pior do que a do começo de abril [antes do golpe]?
Fernández - Sem dúvida. Economicamente, está muito pior. No plano político, também, porque há uma deterioração muito forte, sobretudo pela debandada daqueles que antes estavam ao lado do governo e hoje o enfrentam. O governo cada dia se debilita mais, tem cada vez menos base política, não tem capacidade para resolver os problemas e está simplesmente baseado em um presidente da República que tem retórica capaz de chegar a certos setores da população, mas que não é capaz de compreender a maioria dos venezuelanos. Ele vai ficando sozinho. Isso pode desencadear um conflito social ou o pedido de renúncia do presidente.
Folha - Os acontecimentos de 11 de abril podem se repetir?
Fernández - Claro. Poderia haver ainda outros acontecimentos de violência. A situação é extremamente delicada e pode gerar qualquer tipo de desenlace. O dia de hoje [ontem] é muito particular, porque de acordo com a decisão do tribunal pode haver violência na capital.
Folha - Chávez vem oferecendo possibilidade de diálogo com a oposição, que diz que a oferta não é sincera. O que o sr. acha?
Fernández - Não há vontade de diálogo. Ele só quer estabelecer espaços nos quais o governo dá as pautas e dita as condições. É um monólogo. Não há vontade para um diálogo construtivo, no qual haja entendimentos para encontrar um caminho. O que existe agora é uma negociação para encontrar uma saída para a crise. Mas essa saída passa pela renúncia do presidente da República.
Folha - Vocês defendem a renúncia de Chávez?
Fernández - A renúncia é a saída menos traumática para o país. Porque, lamentavelmente, não houve capacidade para a administração dos graves problemas por que passa a Venezuela. Chávez é um fator de desunião da sociedade venezuelana, da fratura que vivemos. Para podermos recuperar a situação, soldar a fratura, é preciso que ele saia de cena.
Leia mais no especial Venezuela
Empresários pedem renúncia de Chávez
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da Folha de S.Paulo
A Fedecámaras, principal entidade empresarial da Venezuela, voltará a pedir a renúncia do presidente Hugo Chávez e analisa a possibilidade de organizar, com trabalhadores, uma nova greve geral no país contra o governo.
"Há elementos que justificam uma greve geral. O país está convulsionado", disse à Folha o empresário Carlos Fernández, 52, presidente da entidade.
Em 11 de abril, uma greve geral e manifestação convocadas pela Fedecámaras e pela CTV (Confederação dos Trabalhadores da Venezuela) provocaram confrontos com 17 mortes e levaram ao golpe que tirou Chávez do poder por dois dias. O então presidente da Fedecámaras, Pedro Carmona, hoje exilado na Colômbia, assumiu a Presidência no período.
Para Fernández, a situação hoje é pior que a de abril. Ele não descarta a ocorrência de novos episódios de violência. "A situação é extremamente delicada e pode gerar qualquer tipo de desenlace", disse o líder, por telefone, de Caracas.
Folha - Membros da oposição acusam Chávez de armar um plano para suspender a Justiça. O sr. acha que existe esse perigo?
Carlos Fernández - O presidente da República disse agora há pouco que se o juiz quer ficar tem de ter elementos para ficar. Há um pedido feito por alguns deputados do MVR [Movimento Quinta República, partido de Chávez] para criar uma Constituinte para desconhecer os Poderes públicos, entre eles o Supremo Tribunal, para evitar que a corte tomasse sua decisão no dia de hoje [ontem]. Também queriam tomar a Polícia Metropolitana [controlada pelo prefeito de Caracas, Alfredo Peña, adversário de Chávez], mas parece que já se debelou esse propósito.
Aparentemente, há um plano de criar uma espécie de autogolpe, um estado de exceção, com o argumento da violência provocada pelos próprios simpatizantes do governo. Há duas semanas que os chavistas vêm praticando atos de violência e provocando a oposição para que ela cometa erros e vá a um enfrentamento. Mas a oposição não está jogando esse papel que o governo espera, não vai cair nessa armadilha. O governo quer os enfrentamentos para justificar um estado de exceção que lhe daria liberdade para desfazer todas as situações que não lhe favorecem.
Folha - Chávez acusou os juízes da corte de corrupção...
Fernández - Mas não apresentou provas. Se tem provas e não apresenta, se transforma em cúmplice.
Folha - A Fedecámaras prepara um protesto contra Chávez?
Fernández - Estamos analisando a possibilidade de uma paralisação, mas não tem relação com a decisão do Supremo Tribunal. O problema é a grave situação econômica por que passa o país, que estamos analisando junto com os trabalhadores. A paralisação cívica seria para chamar a atenção para a busca de uma saída que permita encontrar caminhos diferentes para a reativação econômica.
Folha - Vocês pensam em uma manifestação conjunta com a CTV, como a de 11 de abril [que antecedeu o golpe]?
Fernández - Isso, mas não está totalmente certo. Ainda estamos analisando alguns elementos para tomar a decisão. Mas, sem dúvida, a situação econômica é tão precária hoje, com o fechamento de empresas, perda de postos de trabalho, aumento de impostos, perda de capacidade aquisitiva. Há uma série de elementos que poderiam justificar uma greve geral. O país está convulsionado.
Folha - O sr. considera a situação hoje pior do que a do começo de abril [antes do golpe]?
Fernández - Sem dúvida. Economicamente, está muito pior. No plano político, também, porque há uma deterioração muito forte, sobretudo pela debandada daqueles que antes estavam ao lado do governo e hoje o enfrentam. O governo cada dia se debilita mais, tem cada vez menos base política, não tem capacidade para resolver os problemas e está simplesmente baseado em um presidente da República que tem retórica capaz de chegar a certos setores da população, mas que não é capaz de compreender a maioria dos venezuelanos. Ele vai ficando sozinho. Isso pode desencadear um conflito social ou o pedido de renúncia do presidente.
Folha - Os acontecimentos de 11 de abril podem se repetir?
Fernández - Claro. Poderia haver ainda outros acontecimentos de violência. A situação é extremamente delicada e pode gerar qualquer tipo de desenlace. O dia de hoje [ontem] é muito particular, porque de acordo com a decisão do tribunal pode haver violência na capital.
Folha - Chávez vem oferecendo possibilidade de diálogo com a oposição, que diz que a oferta não é sincera. O que o sr. acha?
Fernández - Não há vontade de diálogo. Ele só quer estabelecer espaços nos quais o governo dá as pautas e dita as condições. É um monólogo. Não há vontade para um diálogo construtivo, no qual haja entendimentos para encontrar um caminho. O que existe agora é uma negociação para encontrar uma saída para a crise. Mas essa saída passa pela renúncia do presidente da República.
Folha - Vocês defendem a renúncia de Chávez?
Fernández - A renúncia é a saída menos traumática para o país. Porque, lamentavelmente, não houve capacidade para a administração dos graves problemas por que passa a Venezuela. Chávez é um fator de desunião da sociedade venezuelana, da fratura que vivemos. Para podermos recuperar a situação, soldar a fratura, é preciso que ele saia de cena.
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