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23/08/2002 - 03h21

Chávez não aceita coalizão, diz vice

JUAN JESÚS AZNÁREZ
do "El País", em Caracas

Um novo golpe de Estado na Venezuela seria impossível, na opinião do vice-presidente do país, José Vicente Rangel, 73. Isso porque, segundo ele, a oposição perdeu força após o golpe de abril, uma greve com tempo indeterminado não seria acatada e a maioria dos militares e os EUA rechaçam uma nova aventura.

"A estrutura golpista ficou desmantelada", afirma Rangel. Ele rejeita também a formação de um governo de coalizão para tirar o país da crise. "Isso não está planejado, entre outras coisas, porque aqui temos uma oposição deplorável, pura sucata", diz.

Ao comentar a decisão do Supremo Tribunal de Justiça que negou o julgamento, na semana passada, de quatro militares acusados pelo golpe que tirou Hugo Chávez da Presidência por dois dias, em abril, Rangel afirma: "Algumas pessoas pretendem agora continuar o golpe através da administração da Justiça, que é a pior coisa que pode acontecer em uma nação".

Rangel acompanha Chávez desde a campanha para sua primeira eleição presidencial, em 1998, e já ocupou os cargos de ministro das Relações Exteriores e da Defesa.

Pergunta - Um governo de coalizão é possível na Venezuela?
José Vicente Rangel - Não está planejado. Entre outras coisas, porque aqui temos uma oposição deplorável. Como uma piada, mas que não é piada, pode-se dizer que, se o governo é ruim, a oposição é pior. É um saco de gatos, brigando entre si todos os dias, porque estão pensando em quem vai ser candidato. Quem dera tivéssemos uma oposição com senso de responsabilidade.

Pergunta - Quer dizer que não há interlocutores?
Rangel - Não temos. É um dos dramas deste país. Um governo sem interlocutores. Estão convencidos de que Chávez vai cair no dia seguinte.

Pergunta - A reconciliação, a julgar pela nova confrontação, parece impossível.
Rangel - Eu tenho outra visão. Entendo que, para os meios de comunicação, a notícia é o enfrentamento, não o diálogo. E temos de assumir essa realidade, mas eu acho que estamos avançando bastante no diálogo com os diferentes setores sociais e econômicos através da Comissão Presidencial para o Diálogo.

Pergunta - Os líderes dos sindicatos de empresários e de trabalhadores não vão às reuniões.
Rangel - Os líderes não vão, mas a base vai.

Pergunta - Há divisões entre as organizações sindicais?
Rangel - Sim, verticais e horizontais. O que isso indica? Por que eles não fazem uma nova greve? Não têm força. Se tivessem, já teriam feito. Perderam força. Isso se nota nas manifestações. Cansaram as pessoas. Não têm saída, não têm alternativas.

Pergunta - Dizem que a solução passa pela saída de Chávez.
Rangel - A única proposta é a saída de Chávez, e isso não é um programa.

Pergunta - Boa parte da oposição pede intervenção militar.
Rangel - Isso indica desespero. Eles acreditam que os militares irão resolver o problema. Os militares já se expuseram com o golpe de 11 de abril. Falei com muitos militares que estiveram comprometidos com o golpe. Não esqueça de que eu era ministro da Defesa. Disseram-me que não voltarão a embarcar numa aventura desse tipo, na qual jogam suas carreiras, para que os civis, depois, fujam para o exterior.

Pergunta - Não pode vir outro golpe?
Rangel - Pode escrever: não haverá mais golpes.

Pergunta - Que garantias o sr. tem?
Rangel - Primeiro, eles não têm apoio militar. A estrutura golpista ficou desmantelada. Segundo, não eles não têm força popular. Terceiro, eles não têm um elemento-chave para um golpe, que é o apoio dos EUA. Os EUA já fizeram reiteradas declarações de apoio à democracia venezuelana e alertaram contra qualquer golpe.

Pergunta - Antes de 11 de abril os EUA também fizeram esse alerta.
Rangel - Mas agora eles fizeram de maneira mais concreta.

Pergunta - De acordo com sua análise, a oposição perdeu quase tudo.
Rangel - À oposição resta uma projeção midiática, que é a que incide neste momento, porque algumas TVs e alguns jornais mantêm uma postura praticamente irracional.

Pergunta - O governo não atuou contra as empresas jornalísticas?
Rangel - Absolutamente não. Atuou contra negócios particulares de donos dessas empresas. Não acho que haja na Terra um país com mais liberdade de expressão que este.

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