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02/09/2002 - 08h36

Atentados podem causar diferentes traumas a sobreviventes

LIGIA BRASLAUSKAS
Editora de Mundo da Folha Online

Ataques de pânico, medo, alto nível de estresse, aumento do preconceito. Esses são alguns dos distúrbios de comportamento apresentados pelos sobreviventes dos atentados ocorridos no dia 11 de setembro nos EUA, que destruíram as duas torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York, e parte do Pentágono, nas proximidades de Washington.

De acordo com uma pesquisa divulgada hoje pela revista "Time" e pela rede de TV Nickelodeon, a maioria das crianças americanas continua marcada pelos atentados de 11 de setembro e pensando neles muito frequentemente.

Os números mostram que 58% das crianças e jovens com idades entre 8 e 18 anos pensam nos atentados várias vezes por mês e 17% deles várias vezes por semana. A metade deles (51%) acredita que é "provável" que ocorram novos atentados terroristas nos Estados Unidos num futuro próximo.

O psicólogo americano Jared Daniel Seltzer, 36, especialista em traumas, incluindo abuso sexual infantil e violência doméstica, disse em entrevista à Folha Online, durante visita ao Brasil, que o trauma causado pelo impacto de uma cena como as que atingiram os EUA em 11 de setembro pode ter duração diferente em cada pessoa.

Seltzer atendeu sobreviventes dos ataques terroristas que atingiram os EUA, além de profissionais das equipes de resgate e pessoas que tinham amigos ou parentes desaparecidos.

"Algumas pessoas necessitam de uma terapia a longo prazo, que pode levar meses ou anos, até que consigam superar uma catástrofe como essa. Realmente o tempo de tratamento ou superação depende de cada pessoa."

Segundo Seltzer, trabalhar com os sobreviventes de ataques terroristas causa muita pressão diária. "As pessoas ficaram chocadas, assustadas e falando o tempo todo sobre isso. [Após os ataques aos EUA] Eu vi um aumento de fobias, ataques de pânicos, paranóias, preconceito. Para muitos, esses sintomas vão passar, mas, para os que têm predisposição para problemas assim, será mais complicado", diz.

As reações das pessoas que passam por uma situação como essa também são inúmeras. "Alguns falam que não acreditam que os prédios caíram. Outros experimentam emoções intensas quando falam sobre as imagens da mídia, quando falam de pessoas que se jogaram dos prédios. Uma paciente falou do orgulho dela por aqueles passageiros que lutaram com os sequestrados no avião que caiu na Pensilvânia. Para ela, era difícil lidar com a perda desses passageiros heróis ´lutando pelo país`."

Com os sobreviventes, Seltzer utilizou um método chamado "Debriefing", que não pode ser considerado uma terapia, mas que, na opinião dele, parece bastante adequado para esses pacientes. Ele explica que o método ["Debriefing"] é uma técnica específica usada para auxiliar as pessoas a lidarem com sintomas psicológicos ou físicos que geralmente são associados a um incidente que é uma ameaça severa à segurança e à saúde.

O "Debriefing" permite àqueles que sofreram o impacto do terrorismo processarem e refletirem sobre o assunto.

Ele explica que o método deve ser executado próximo ao local onde a pessoa foi afetada -no caso dos atentados de 11 de setembro, o mais próximo possível das torres gêmeas do World Trade Center (WTC)- e dentro das primeiras 24 a 78 horas após o impacto do choque, para que o resultado seja mais efetivo. O "Debriefing" consiste em aproximar o paciente da causa e das situações do trauma para que, com isso, ele consiga exteriorizar as sensações e pensamentos ruins que o afligem.

"Um importante componente é permitir ao paciente manifestar seus pensamentos, emoções e experiências associados ao acontecimento", explica Seltzer.

As reações das pessoas que passaram por um choque como o atentado do WTC são muitas. De acordo com Seltzer, as pessoas podem ter insônia, distúrbios alimentares, dor de cabeça, problemas de concentração, irritabilidade, agressividade, nervosismo. Os sobreviventes podem experimentar também "flashbacks" -como imagens, sons e cheiros- associados ao atentado. "Eu ouvi um sobrevivente que escapou do WTC que tinha medo de objetos inanimados que de repente ´iam` em sua direção", diz.

Ele explica que o sentimento de culpa também é um reação que os sobreviventes podem sentir. "Por exemplo, um bombeiro que perdeu seu sargento ou sua equipe durante os resgates pode se sentir culpado. Ele pensa que se, de alguma maneira, tivesse feito com que essas pessoas permanecessem com ele, elas sobreviveriam."

De acordo com ele, muitas pessoas envolvidas em catástrofes podem ter sintomas a curto prazo, como pesadelos e sentimento de ódio, mas poucos terão essas sequelas para o resto da vida. "Muita gente consegue lidar bem com traumas. Para essas pessoas, ele [o trauma] se transforma em um tipo de força. Mas, se a vítima já tem uma história de trauma anterior ou não lida bem com problemas desse gênero, a solução para problema pode ser bastante demorada.

Na época em que atendeu os sobreviventes dos atentados, Seltzer trabalhava na clínica de saúde mental da Universidade de Medicina e Odontologia de New Jersey. Em maio deste ano, ele veio para o Brasil para passar quatro meses a fim de descansar. "Eu precisava sair de Nova York", disse.
 

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