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08/09/2002 - 20h00

Paramilitares da Colômbia se reagrupam sob liderança de Castaño

da Reuters, em Serrana de Abibe (Colômbia)

Os grupos paramilitares da Colômbia concordaram em se reunificar em um poderoso exército regular, conferindo novamente um papel central na guerra interna do país a um carismático ex-camponês, que negou ser narcotraficante e disse estar disposto a submeter-se à Justiça dos Estados Unidos.

As AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia), com mais de 10.000 combatentes e inimigas da guerrilha de esquerda, superaram a crise que desarticulou o movimento em julho e ratificaram a liderança do antigo comandante, Carlos Castaño, disse ele em entrevista com a Reuters.
Sentado em uma cadeira de plástico em uma rústica construção de madeira e teto de palha, Castaño disse que todas as frentes das AUC, a não ser uma, concordaram em não participar mais de atividades de produção ou exportação de cocaína.

''Anunciamos o restabelecimento das Autodefesas Unidas da Colômbia. Nunca fui narcotraficante, sou um inimigo convencido e declarado do narcotráfico. As Autodefesas estavam caindo nas mãos do narcotráfico, estavam atuando como mercenárias do narcotráfico'', afirmou.

A reunificação, decidida há poucos dias em uma ''cúpula'' de 80 chefes paramilitares, encabeçada por Castaño na selva, aconteceu um mês depois da posse do presidente Alvaro Uribe, que prometeu combater os paramilitares e a guerrilha e aumentar os gastos com defesa. Os paramilitares resolveram não atacar o Estado e deixar a porta aberta para o diálogo com o governo de Uribe.

O reagrupamento das AUC coloca fim na sua separação em grupos armados sem uma direção militar clara e reconduz Castaño ao papel de protagonista do conflito colombiano, segundo analistas. Recentemente, Castaño publicou uma autobiografia que vendeu 100.000 cópias em oito edições.

Castano disse que, se as versões de que a Justiça dos EUA pedirá sua extradição forem confirmadas, estará disposto a se entregar. ''Se me quiserem por vínculos com o narcotráfico, estou disposto a submeter-me à Justiça dos Estados Unidos, não tenho outra opção'', disse o chefe paramilitar, que vestia um uniforme camuflado e portava uma pistola e um bracelete com a bandeira da Colômbia.

Ele admitiu que suas forças foram financiadas por cultivadores de coca, que entregavam US$ 4 milhões por mês, além das contribuições voluntárias e dos roubos de gasolina e petróleo de oleodutos estatais, que lhes rendiam outros US$ 4 milhões. O comandante disse que os paramilitares recebem cerca de US$ 20 milhões por mês, o que considera suficiente para financiar e armar os combatentes.

Clandestinidade
Castaño continua combatendo clandestinamente a guerrilha, que sequestrou e assassinou seu pai quando era adolescente. A família pagou resgate, mas o corpo nunca foi devolvido. Ele negou que a reunificação seja uma estratégia para limpar a imagem dos esquadrões e ganhar reconhecimento político internacional, conforme alguns analistas sustentam.

''As boas intenções sempre são difundidas como estratégias por parte dos nossos inimigos'', disse, cercado por dezenas de homens armados na região em que a equipe da Reuters chegou depois de três horas de viagens por estradas empoeiradas, em um carro com tração nas quatro rodas, no norte do país. Castaño vive na selva, mas entra na Internet todos os dias e sabe o que está acontecendo na Colômbia e no mundo. Ele afirmou que está comprometido em evitar que os paramilitares se transformem em mercenários. ''O que posso garantir para a Colômbia e para o mundo é que estes 10.000 homens não são uma ameaça terrorista, nem para a Colômbia nem para o mundo'', afirmou.

Castaño pensou em formar um partido político, mas agora descarta a idéia. Mantém a decisão de combater a guerrilha até que ela desista da luta ou que o governo seja capaz de conter seu avanço militar, mas não está de acordo com uma solução bélica de ''terra arrasada''.

As duas principais forças de esquerda do país são as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), com 17.000 homens, e o Exército de Libertação Nacional (ELN), com 5.000. ''As Farc não podem acabar militarmente, mas a um custo desnecessário ao país, em três ou quatro anos, mediante uma guerra de terra arrasada, seria possível. Mas, acabar com 20.000 guerrilheiros custaria 500.000 colombianos mortos, seríamos um país pária em direitos humanos'', disse Castaño.

Temido por muitos e acusado de vários crimes, Castaño disse confiar na paz na Colômbia e que gostaria de dedicar-se à família no dia em que deixar as armas. Disse que gostaria de estudar política internacional e ficar com os filhos de seu primeiro casamento e com um terceiro que está por vir, em seu segundo matrimônio. ''Minhas expectativas são a favor da paz antes de tudo. Que a guerra termine para poder me educar e me dedicar aos meus filhos e a uma bebê que minha mulher está esperando'', concluiu, com o olhar firme e seguro de sempre.
 

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