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17/09/2002
-
04h06
Enviado especial da Folha de S.Paulo a Bonn
A participação das Forças Armadas da Alemanha numa eventual ofensiva militar contra o Iraque para depor o ditador Saddam Hussein esquenta a campanha eleitoral alemã a uma semana do pleito legislativo e já é a segunda maior preocupação da população, de acordo com pesquisas de opinião, atrás somente da questão do desemprego.
Desde o segundo debate na TV, ocorrido há uma semana, o chanceler (premiê) social-democrata Gerhard Schröder é categórico: sob seu comando, a Alemanha não fará parte de um cada vez mais provável ataque a Bagdá.
Seu principal oponente, o conservador Edmund Stoiber, governador da Baviera, não se arrisca a defender a participação alemã numa guerra, pois mais de 60% dos eleitores são avessos à idéia. Contudo acusa o chanceler de isolar o país e de pôr em risco suas relações com os EUA.
"Stoiber não aceita que Schröder use esse assunto para lucrar eleitoralmente e busca "desmascará-lo' em público. É verdade que, em parte, a posição do chanceler tem fins eleitorais, mas ele aposta em que a Rússia ou a China usarão seu direito de veto no Conselho de Segurança da ONU, impedindo, assim, que haja uma coalizão internacional contra Saddam", diz Gerhard Göhler, da Universidade Livre de Berlim.
"Isso permitiria que o chanceler não tivesse de lidar com o problema, já que nem Stoiber é favorável à participação alemã numa ação militar desprovida da anuência das Nações Unidas. Ademais, se reeleito, Schröder poderá mudar de opinião, argumentando ser necessário respeitar decisões tomadas consensualmente pela comunidade internacional. Isso, é claro, se a ONU aprovar o ataque", acrescenta.
Amizade
Num comício realizado em Aachen (centro-oeste), ao qual a reportagem da Folha esteve presente, o chanceler refutou a acusação de pôr em risco as boas relações da Alemanha com os EUA. "Numa amizade, pode haver divergências de opinião. Não devemos aceitar que algo [a ofensiva contra Saddam] seja imposto ao restante do planeta", declarou.
A coalizão liderada por Stoiber, composta pela União Democrata Cristã (CDU) e pela União Social Cristã, vinha liderando as pesquisas de opinião havia meses. Porém uma enquete realizada pelo instituto Politbarometer, divulgada na última sexta-feira, mostrou que o Partido Social-Democrata inverteu a situação, obtendo 40% das intenções de voto contra 37% da coalizão adversária (embora a diferença esteja dentro da margem de erro).
"Schröder deve a mudança da tendência eleitoral a vários fatores. Primeiro, houve o modo como ele geriu a crise provocada pelas inundações, que foi muito bem-visto pela população. Segundo, como o interesse pela política vem caindo, o fato de ele ser muito mais simpático do que seu adversário o ajuda. Terceiro, ele obteve uma vitória clara no último debate na TV. E, finalmente, sua oposição à guerra agrada à maioria dos eleitores", explicou Manfred Nitsch, também da Universidade Livre de Berlim.
O jornalista Márcio Senne de Moraes viajou a convite do Escritório Federal de Imprensa da Alemanha
Schröder cresce com oposição a guerra
MÁRCIO SENNE DE MORAESEnviado especial da Folha de S.Paulo a Bonn
A participação das Forças Armadas da Alemanha numa eventual ofensiva militar contra o Iraque para depor o ditador Saddam Hussein esquenta a campanha eleitoral alemã a uma semana do pleito legislativo e já é a segunda maior preocupação da população, de acordo com pesquisas de opinião, atrás somente da questão do desemprego.
Desde o segundo debate na TV, ocorrido há uma semana, o chanceler (premiê) social-democrata Gerhard Schröder é categórico: sob seu comando, a Alemanha não fará parte de um cada vez mais provável ataque a Bagdá.
Seu principal oponente, o conservador Edmund Stoiber, governador da Baviera, não se arrisca a defender a participação alemã numa guerra, pois mais de 60% dos eleitores são avessos à idéia. Contudo acusa o chanceler de isolar o país e de pôr em risco suas relações com os EUA.
"Stoiber não aceita que Schröder use esse assunto para lucrar eleitoralmente e busca "desmascará-lo' em público. É verdade que, em parte, a posição do chanceler tem fins eleitorais, mas ele aposta em que a Rússia ou a China usarão seu direito de veto no Conselho de Segurança da ONU, impedindo, assim, que haja uma coalizão internacional contra Saddam", diz Gerhard Göhler, da Universidade Livre de Berlim.
"Isso permitiria que o chanceler não tivesse de lidar com o problema, já que nem Stoiber é favorável à participação alemã numa ação militar desprovida da anuência das Nações Unidas. Ademais, se reeleito, Schröder poderá mudar de opinião, argumentando ser necessário respeitar decisões tomadas consensualmente pela comunidade internacional. Isso, é claro, se a ONU aprovar o ataque", acrescenta.
Amizade
Num comício realizado em Aachen (centro-oeste), ao qual a reportagem da Folha esteve presente, o chanceler refutou a acusação de pôr em risco as boas relações da Alemanha com os EUA. "Numa amizade, pode haver divergências de opinião. Não devemos aceitar que algo [a ofensiva contra Saddam] seja imposto ao restante do planeta", declarou.
A coalizão liderada por Stoiber, composta pela União Democrata Cristã (CDU) e pela União Social Cristã, vinha liderando as pesquisas de opinião havia meses. Porém uma enquete realizada pelo instituto Politbarometer, divulgada na última sexta-feira, mostrou que o Partido Social-Democrata inverteu a situação, obtendo 40% das intenções de voto contra 37% da coalizão adversária (embora a diferença esteja dentro da margem de erro).
"Schröder deve a mudança da tendência eleitoral a vários fatores. Primeiro, houve o modo como ele geriu a crise provocada pelas inundações, que foi muito bem-visto pela população. Segundo, como o interesse pela política vem caindo, o fato de ele ser muito mais simpático do que seu adversário o ajuda. Terceiro, ele obteve uma vitória clara no último debate na TV. E, finalmente, sua oposição à guerra agrada à maioria dos eleitores", explicou Manfred Nitsch, também da Universidade Livre de Berlim.
O jornalista Márcio Senne de Moraes viajou a convite do Escritório Federal de Imprensa da Alemanha
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