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18/09/2002 - 15h03

Eleição alemã continua indefinida a quatro dias da votação

LIGIA BRASLAUSKAS
Editora de Mundo da Folha Online, em Dresden

A quatro dias das eleições para a escolha do novo governo da Alemanha, as pesquisas de opinião mantêm um empate técnico entre os dois principais partidos do país: a coalizão da União Democrata Cristã (CDU, centro-direita) e da União Social Cristã (CSU), do conservador Edmund Stoiber, e o Partido Social Democrata (SPD), do atual chanceler do país e candidato a reeleição, Gerhard Schröder.

Ontem, o instituto Allensbach divulgou uma pesquisa que dava 0,3% de vantagem à CDU, mas os números não representam nada mais que um empate técnico: 37,3% , da CDU, contra 37% do SPD.

Segundo a mesma pesquisa, o Partido Liberal (FDP) aparece com os mesmos 10,1%, os Verdes, com 7,2%, e o Partido do Socialismo Democrático (PDS), herdeiro dos comunistas que governavam a Alemanha Oriental na região leste de Berlim, com 4,4%, apresentando uma queda de 0,5%, o que pode fazer com que o partido não consiga a quantidade mínima de 5% que permitiria sua entrada no Parlamento.

De acordo com Michael Schrader, presidente do PDS em Dresden, embora as pesquisas e a mídia divulguem números que mostrem uma tendência ruim para o partido, ele diz acreditar que será possível chegar aos 5%. "Acho que vamos conseguir. O fato de a imprensa estar mostrando nossa desvantagem faz com que as pessoas vejam nossa real situação e votem no PDS. Não conseguir chegar ao Parlamento seria um fracasso que nós sentiríamos bastante", disse.

Sobre uma possível coalizão com o SPD ou com Verdes, Michael Schrader disse que o partido está fechado para qualquer negociação nesse momento.

Hoje o instituto Forsa divulgou os resultados de uma pesquisa na qual o SPD tem uma vantagem de 2 pontos percentuais sobre a CDU. O partido de Shröder aparece com 40% contra 38% do de Stoiber.


Em cima do muro
O candidato a chanceler da Alemanha pelo FDP, Guido Westerwelle, disse na segunda-feira (16) em comício na cidade de Munique -reduto do candidato conservador Stoiber- que os liberais ainda não decidiram com quem vão fazer uma coalizão no próximo governo e que isso depende de negociações.

Em um discurso longo e repetitivo, ao qual a Folha Online esteve presente, Westerwelle insistiu na posição de que a Alemanha deve baixar os impostos e apostar na educação e na preparação dos jovens para o mercado de trabalho. Ele faz desses dois temas suas principais armas para tentar conseguir mais votos para o partido, mas já dá sinais de abertura para uma coalizão.

Westerwelle disse que Stoiber e Schröder estão cada vez mais parecidos e que tanto um como outro não representam nenhum tipo de melhoria para o país.

Apesar disso, uma reportagem divulgada hoje pela revista "Stern" mostra que Stoiber tornou praticamente oficial seu convite para uma coalizão com os liberais. "Eu posso imaginar que nós formaríamos um ótimo time", diz Stoiber referindo-se a Westerwelle.

Efeitos das enchentes
Mas, enquanto os partidos negociam coalizões, o SPD ainda recebe "os benefícios" de sua atuação nas enchentes, depois de o governo ter agido com rapidez contra os estragos causados pelas inundações que atingiram o leste do país em agosto. De acordo com as pesquisas, o SPD teria melhorado de posição depois de tomar decisões rápidas e liberar verba para ajudar as famílias que tiveram de deixar suas casas.

Em Dresden, uma das cidades mais atingidas, onde o rio Elba chegou a 9,42 metros de altura e invadiu o centro histórico da cidade, as enchentes deixaram outras consequências: 15 mil pessoas tiveram de deixar seus empregos temporariamente até que as empresas onde trabalham possam voltar a funcionar normalmente. Um mês após as enchentes, muitas das empresas atingidas pelas águas ainda não retomaram suas atividades ou funcionam apenas parcialmente.

Para ajudar essas empresas, o governo paga entre 60% e 67% do salário dos funcionários que estão impossibilitados de trabalhar. Atualmente, a taxa de desemprego de Dresden é de 14,7% (44 mil pessoas), mas o Estado da Saxônia tem 600 mil desempregados (17,7%).

Segundo Reiner Führer, porta-voz da repartição de trabalho de Dresden (Arbeitsamt), as enchentes não apenas contribuíram para que aumentasse o número de desempregados no país, mas também causaram um atraso no serviço de formação para aqueles que buscam uma vaga no mercado de trabalho oferecida pelo Estado. "Muitos desempregados e jovens que começariam seus cursos profissionalizantes no dia 1º de agosto terão de esperar até o início do próximo ano", disse.

Um exemplo disso é a moçambicana Júlia Martins Manhiça, 28. Casada com um alemão e mãe de uma menina de dois anos, ela deveria ter começado um curso de formação para trabalhar como enfermeira (que dura cerca de três anos) no mês passado, mas já foi comunicada que seu curso foi adiado. "Agora só vou começar em janeiro de 2003. Até lá, continuo com trabalhos esporádicos fazendo limpeza em escritórios uma semana por mês", afirma.

Enquanto não começa o curso para trabalhar como enfermeira, Manhiça visita frequentemente a repartição de trabalho em busca de outras oportunidades. "Neste momento, estou procurando emprego para trabalhar com qualquer coisa." Segundo ela, seu marido vai votar no SPD.

Günter Rotten, 42, que trabalha na área de construção civil e está desempregado há cerca de oito meses, disse que espera poder conseguir uma vaga para trabalhar na reconstrução das áreas atingidas na cidade. "Mais pessoas serão convocadas, espero conseguir uma vaga." Ainda indeciso quanto a seu voto, Rotten afirmou que simpatiza com as idéias de Stoiber.

O alto índice de desemprego no país é uma das principais armas utilizadas pela oposição para conseguir tirar votos do SPD. Na semana passada, durante um comício de seu partido na cidade de Aachen, Schröder admitiu que os objetivos propostos por seu governo para diminuir o desemprego na Alemanha não foram alcançados. "Eu tenho de admitir que nossas metas foram muito ambiciosas", disse.

Imigração
De acordo com as pesquisas, 57% dos eleitores alemães queriam que a política de imigração fosse um dos temas de discussão entre os dois principais candidatos a chanceler da Alemanha. Ambos, Schröder e Stoiber, não se utilizaram desse tema, embora o candidato da CDU tenha citado várias vezes ser a favor de reformas nesse sentido. E sobre esse tema ele teria apoio da população. Cerca de 60% dos eleitores acham que há muitos estrangeiros no país e 76% dizem que os imigrantes podem agravar a situação do desemprego.

Ontem à noite, durante uma entrevista para o canal de TV alemão SAT1, Stoiber disse que considera o tema imigração fundamental para ser discutido no governo. "A Alemanha é um país muito atrativo para quem vem de fora. Mas é preciso ter um programa", afirmou.

Questionado sobre se conseguiria diminuir as taxas de desemprego no país para números inferiores aos atuais, Stoiber, que completa 61 anos no dia 28 de setembro, esquivou-se da pergunta. "Se um chanceler diz que pode baixar o número de desempregados e não consegue cumprir o que prometeu, então tem de assumir as consequências", disse, fazendo uma alusão à promessa de Schröder. Em 1998, Schröder disse que seu governo não mereceria ser reeleito se não reduzisse significativamente as filas do desemprego. Mas se ele soubesse que o tema desemprego seria a grande arma da oposição, talvez tivesse guardado a frase para si próprio. Em janeiro de 1999 a Alemanha tinha 4,5 milhões de desempregados, no final de 2000, Schröder quase alcançou sua promessa de reduzir este número
para 3,5 milhões e, atualmente, os desempregados no país somam 3,97 milhões.

O chefe de governo alemão não é eleito diretamente pelo povo, mas pelos 598 deputados que compõem o Parlamento. Por isso é importante que os candidatos a chanceler da Alemanha consigam eleger o maior número de deputados dos partidos que apóiam ou que farão algum tipo de coalizão com o partido ao qual pertencem. As eleições acontecem no domingo, 22, em 299 distritos do país, que terão suas urnas abertas das 8h às 18h (das 3h às 13h, no horário de Brasíla).

A jornalista Ligia Braslauskas viaja a convite do governo da Alemanha

Leia mais:
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