Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
22/09/2002 - 06h00

Alemães escolhem novo governo na disputa mais acirrada do país

LIGIA BRASLAUSKAS
Editora de Mundo, em Berlim

A Alemanha escolhe hoje seu 15º governo na eleição mais concorrida da história política do país dos últimos 20 anos. Os dois maiores partidos, o SPD (Partido Social Democrata), do atual chanceler e candidato à reeleição, Gerhard Schröder, 58, e a coalizão CDU-CSU (União Democrata Cristã e União Social Cristã), do candidato conservador Edmund Stoiber, 60, estão tecnicamente empatados e os cerca de 61 milhões de eleitores (3,5 milhões votam pela primeira vez) só vão conhecer o provável novo governo depois da divulgação dos primeiros números das pesquisas de boca-de-urna após o encerramento da votação, às 18h (13h de Brasília).

Além da expectativa para saber quem vai chefiar a Alemanha nos próximos quatro anos, há muita curiosidade sobre o resultado dos partidos menores que representam uma importante oportunidade de coalizão: o Partido Liberal (FDP) e o Partido Verde.

De acordo com o última pesquisa de opinião divulgada ontem pelo instituto Forsa, o SPD tem 39,5% das intenções de votos contra 38% da CDU-CSU. Os liberais aparecem com 8%, e os Verdes, com 7,5%. O Partido do Socialismo Democrático (PDS), herdeiro dos comunistas que governavam a Alemanha Oriental, na região leste de Berlim, tem 4,5% das intenções de voto e pode não conseguir chegar aos 5% necessários que permitiriam a entrada do partido no Parlamento.

Durante a campanha, Schröder mostrou abertamente sua disposição para fazer uma coalizão com os Verdes -elogiando frequentemente em seus comícios o trabalho do ministro Joschka Fischer (Partido Verde), afirmando que não gostaria que o Ministério das Relações Exteriores caísse em outras mãos. Stoiber não deixou por menos e na quarta-feira (18), em declaração à revista "Stern", tornou praticamente oficial seu convite para uma coalizão com os liberais. "Eu posso imaginar que nós formaríamos um ótimo time", disse, referindo-se a Guido Westerwelle, candidato a chanceler pelo FPD.

As eleições na Alemanha acontecem em 299 distritos do país, que terão suas urnas abertas das 8h às 18h (das 3h às 13h, no horário de Brasíla). O chefe de governo alemão não é eleito diretamente pelo voto popular, mas pelos 598 deputados que compõem o Parlamento e têm até 30 dias para fazer a votação que determina o novo chanceler. Por essa razão é importante que os candidatos a chanceler consigam eleger o maior número de deputados dos partidos que os apóiam ou que farão algum tipo de coalizão com o partido ao qual pertencem.

Cada eleitor alemão tem direito a dois votos: um para o candidato que escolher e outro para um partido. Assim, metade dos 598 deputados é eleita de forma direta, enquanto a outra metade se elege pelos seus respectivos partidos -de acordo com a votação.

Os dois candidatos que têm chance de chegar ao cargo de chanceler, Schröder e Stoiber, alternaram suas posições nas pesquisas em dois períodos: antes e depois das enchentes que atingiram o país no mês passado. O problema do desemprego ajudou Stoiber. A solução rápida para as enchentes que atingiram principalmente o Estado da Saxônia "salvaram" Schröder.

Em Dresden, uma das cidades mais castigadas, onde o rio Elba chegou a 9,42 metros de altura e invadiu o centro histórico da cidade, as enchentes deixaram outras consequências: 15 mil pessoas tiveram de abandonar seus empregos temporariamente até que as empresas onde trabalham voltem a funcionar. Mas, até lá, as 15 mil pessoas recebem entre 60% e 67% de seus salários pagos pelo governo.

No entanto, se a chuva ajudou o atual chanceler, o desemprego continua assombrando sua reeleição até o últmo momento. O problema dos desempregados na Alemanha e as reformas econômicas foram as principais armas de Stoiber contra o governo do SPD.

Em 1998, Schröder disse que seu governo não mereceria ser reeleito se não reduzisse significativamente as filas do desemprego. Em janeiro de 1999 a Alemanha tinha 4,5 milhões de desempregados, no final de 2000 Schröder quase alcançou sua promessa de reduzir este número para 3,5 milhões. Porém, agora em 2002, os desempregados no país somam 4,046 milhões, de acordo com informações do departamento de imprensa alemão.

Mas essa não é a primeira vez que o tema desemprego assombra a campanha de um candidato na Alemanha. O governo de Helmut Kohl, o ex-chanceler que chefiou o país por 16 anos , vendia de forma insistente a idéia de que iria reduzir o desemprego pela metade, mas, ao passar o cargo a Schröder, deixou uma herança de mais de 4 milhões de desempregados no país.

Imigração e EUA
Embora pouco utilizado na campanha, 57% dos eleitores alemães queriam que a política de imigração fosse um dos temas de discussão entre os dois principais candidatos a chanceler do país. E, apesar de o candidato da CDU ter citado várias vezes ser a favor de reformas nessa área, apenas nesta semana Stoiber abraçou o tema e falou "mais duro" sobre a imigração na Alemanha.

Na sexta-feira (20), durante seu último discurso, Stoiber disse que a Alemanha é um país amigo dos estrangeiros, mas que é preciso que o governo faça primeiro as melhorias necessárias para os alemães e depois ajude os imigrantes.

Ele afirmou ser necessária a criação de uma política de controle para que os estrangeiros que chegam ao país falem o idioma e não aumentem o número de desempregados.

A questão EUA-Iraque se transformou no principal tema na reta final da campanha eleitoral. Sobre isso, tanto Schröder como Stoiber tem a mesma opinião: eles dizem que a Alemanha não participará de uma ação militar conjunta com os EUA contra o Iraque. Mas analistas dizem ser muito provável que inpendentemente do candidato que venha a assumir a chefia do país, este decisão terá de ser revista e possivelmente alterada.

No ano passado, quando Schröder ofereceu apoio "ilimitado" aos EUA depois dos atentados de 11 de setembro, os parlamentares alemães criticaram a posição do chanceler dizendo que "ilimitado" era um termo "muito forte", o que fez com que Schröder tivesse de explicar-se ao Congresso.

A jornalista Ligia Braslauskas viajou a convite do governo da Alemanha.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página