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24/09/2002 - 04h17

Mercado alemão cobra reformas imediatas

MÁRCIO SENNE DE MORAES
da Folha de S.Paulo, em Berlim

Após conquistar a reeleição por uma estreita margem graças a seu carisma, a seu brilho midiático e, sobretudo, ao excelente resultado dos Verdes _parceiros na coalizão governamental_ na eleição legislativa de anteontem, o chanceler (premiê) alemão, Gerhard Schröder, deverá urgentemente realizar reformas para enfrentar os desafios que já se apresentam para os próximos quatro anos, segundo analistas ligados ao mercado financeiro.

Internamente, o maior problema do chanceler, cujo Partido Social-Democrata (SPD) obteve apenas 38,5% dos votos (a mesma porcentagem da aliança conservadora formada pela União Democrata Cristã e pela União Social Cristã), é a morosidade econômica em que o país se encontra, o que dificulta a redução do desemprego, estacionado em cerca de 10% há algum tempo. Para tanto, a coalizão de centro-esquerda terá de fazer reformas impopulares.

"A Alemanha precisa flexibilizar seu mercado de trabalho, reformar seu sistema de proteção social, que é generoso demais, e cortar parte dos benefícios oferecidos por seu sistema público de saúde. Se essas reformas forem feitas, o país terá boas chances de reencontrar o caminho do crescimento econômico. Contudo, por enquanto, não há sinais de que isso venha a ser feito", disse à Folha de S.Paulo Juergen Michels, analista econômico do Citigroup.

A Bolsa de Valores de Frankfurt respondeu negativamente à reeleição da coalizão SPD/Verdes, com queda de mais de 4%. O mercado esperava que uma coalizão entre os conservadores e os liberais do Partido Democrata Liberal (FDP) vencesse, pois ela era vista como mais apta a reduzir os impostos e as contribuições sociais das empresas.

Apesar de sua riqueza, de sua ótima infra-estrutura e de sua poderosa indústria, a Alemanha _terceira economia do planeta_ não consegue bancar seu nível de vida por causa do envelhecimento de sua população e do lento crescimento de sua economia, que não consegue produzir riquezas suficientes para financiar os "ganhos sociais" de que seus trabalhadores se orgulham.

Para reduzir o desemprego, Schröder pretende aplicar os planos concebidos por uma comissão comandada por Peter Hartz, diretor de pessoal da Volkswagen, revelados no mês passado. Todavia analistas não crêem que eles possam resolver o problema.

"Os planos de Hartz não atingem verdadeiramente a questão, já que não prevêem a diminuição dos elevados salários nem a flexibilização do mercado de trabalho. Hartz promete ser menos generoso com os desempregados, mas, no sistema alemão, esse tipo de promessa nem sempre é cumprido", apontou Carsten-Patrick Meier, do Instituto para Economia Mundial de Kiel.

Outro obstáculo para Schröder é diretamente ligado ao resultado da eleição. Com 306 cadeiras das 603 no Bundestag, a coalizão governamental terá apenas uma pequena vantagem sobre a oposição. No sistema político alemão, caracterizado pela busca do consenso desde o final da Segunda Guerra, isso não será nada fácil com uma oposição tão forte. E o Bundesrat (espécie de Senado) é controlado pela oposição.

Com o país dividido entre os que querem reformas para acelerar o crescimento econômico e aqueles que desejam manter um Estado do Bem-Estar Social forte, será difícil introduzir reformas drásticas e convencer os sindicatos, tradicionais aliados do SPD, a abrir mão de parte de seus benefícios. "Se a coalizão não reduzir o peso do Estado na economia, a Alemanha correrá o risco de entrar num ciclo de estagnação econômica similar ao japonês", apontou Michels.

Assim, embora tenha conseguido manter-se no poder a duras penas, o chanceler precisará de muito jogo de cintura para governar um gigante avesso a mudanças durante mais quatro anos.
 

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