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01/10/2002
-
10h23
especial para a Folha Online
As eleições para o Parlamento alemão (Bundestag) pareceram um romance policial. Poucos minutos depois das 18h de domingo (22) (13h de Brasília), quando as urnas se fecharam e as TVs divulgaram suas projeções, com base em pesquisas de boca-de-urna, a coligação democrata-cristã (CDU/CSU), do conservador Edmund Stoiber, cantou vitória antes da hora. Aos poucos, a contagem oficial dos votos foi dando um novo perfil à eleição e a frase "quem ri por último, ri melhor", de Gerhard Schröder, acabou sendo um previsão certeira, quando o SPD, com a ajuda do Partido Verde, conseguiu manter-se no controle do país.
Ao final, Schröder obteve sua reeleição graças aos Verdes, do atual ministro das Relações Exteriores, Joschka Fischer. O sócio "minoritário" da coalizão governista recebeu 8,6% dos votos, crescendo quase dois pontos percentuais em relação a 1998. O Partido Liberal Democrata (FDP), parceiro natural do CDU/CSU, ficou com 7,5%.
Os eleitores puniram o SPD por não ter encontrado solução para os problemas mais sérios do país. Mesmo com a promessa de Schröder de reduzir o desemprego para 3,5 milhões, temos mais de 4 milhões de desempregados atualmente.
A Alemanha ocupa um dos últimos lugares no ranking do crescimento econômico na Europa. O estado social está à beira do colapso. Especialistas não excluem a possibilidade de o país ter uma deflação. Além disso, as relações entre a Alemanha e os EUA estão bastante estremecidas devido à questão sobre o Iraque.
Precisamos de reformas radicais e penosas e há uma chance do governo, nos próximos quatro anos, comportar-se melhor do que no período legislativo passado. No domingo (22), o SPD e seus partidários tradicionais -os sindicatos- avistaram o perigo: A política de "mão tranquila" de Schröder não funciona.
A conjuntura mundial não desculpa negligência em casa. É preciso agir imediatamente. Se isso não ocorrer dentro dos próximos quatro anos, a alternativa vai ser um governo com a liderança do CDU/CSU, de centro-direita.
É como disse Sigmar Gabriel, governador do SPD em Niedersachsen (Baixa Saxônia): "Agora é preciso trabalhar de verdade".
Devido ao aumento dos votos que receberam os Verdes, o partido vai ter mais poder na futura coalizão governista. Essa é uma boa notícia. Pois o partido -que há 23 anos foi fundado como um movimento de pacifistas, adversários da energia nuclear, ecologistas, feministas e simpatizantes de um modo de vida alternativo- tem demonstrado sua predisposição também para as reformas internas.
Isso não aconteceu apenas com o apoio em relação às ações militares em Kosovo e no Afeganistão, mas também com posições político-econômicas progressivas.
Na realidade, foram os Verdes que nos últimos quatro anos fizeram funcionar o motor das reformas na coalizão governista.
E como fica a oposição? A bancada do Parlamento do PDS (ex-comunistas) caiu de 37 para duas cadeiras. O FDP, (liberais) com 47 cadeiras, tem idéias político-econômicas parcialmente interessantes, mas os líderes do partido não convencem. O CDU/CSU, porém, tem a maioria no Bundesrat (espécie de Senado).
Isso significa que, para uma grande parte das leis, a coalizão governista vai precisar do apoio dessa oposição. Por outro lado, o CDU/CSU interpretará seu papel parlamentar de forma errônea se bloquear reformas importantes. Tomara que os oposicionistas compreendam que vetar, apenas para "ser do contra", não levará o país a nada.
Karin Finkenzeller é jornalista do Financial Times Deutschland, na Alemanha.
Análise: Governo alemão enfrentará muitos desafios nos próximos 4 anos
KARIN FINKENZELLERespecial para a Folha Online
As eleições para o Parlamento alemão (Bundestag) pareceram um romance policial. Poucos minutos depois das 18h de domingo (22) (13h de Brasília), quando as urnas se fecharam e as TVs divulgaram suas projeções, com base em pesquisas de boca-de-urna, a coligação democrata-cristã (CDU/CSU), do conservador Edmund Stoiber, cantou vitória antes da hora. Aos poucos, a contagem oficial dos votos foi dando um novo perfil à eleição e a frase "quem ri por último, ri melhor", de Gerhard Schröder, acabou sendo um previsão certeira, quando o SPD, com a ajuda do Partido Verde, conseguiu manter-se no controle do país.
Ao final, Schröder obteve sua reeleição graças aos Verdes, do atual ministro das Relações Exteriores, Joschka Fischer. O sócio "minoritário" da coalizão governista recebeu 8,6% dos votos, crescendo quase dois pontos percentuais em relação a 1998. O Partido Liberal Democrata (FDP), parceiro natural do CDU/CSU, ficou com 7,5%.
Os eleitores puniram o SPD por não ter encontrado solução para os problemas mais sérios do país. Mesmo com a promessa de Schröder de reduzir o desemprego para 3,5 milhões, temos mais de 4 milhões de desempregados atualmente.
A Alemanha ocupa um dos últimos lugares no ranking do crescimento econômico na Europa. O estado social está à beira do colapso. Especialistas não excluem a possibilidade de o país ter uma deflação. Além disso, as relações entre a Alemanha e os EUA estão bastante estremecidas devido à questão sobre o Iraque.
Precisamos de reformas radicais e penosas e há uma chance do governo, nos próximos quatro anos, comportar-se melhor do que no período legislativo passado. No domingo (22), o SPD e seus partidários tradicionais -os sindicatos- avistaram o perigo: A política de "mão tranquila" de Schröder não funciona.
A conjuntura mundial não desculpa negligência em casa. É preciso agir imediatamente. Se isso não ocorrer dentro dos próximos quatro anos, a alternativa vai ser um governo com a liderança do CDU/CSU, de centro-direita.
É como disse Sigmar Gabriel, governador do SPD em Niedersachsen (Baixa Saxônia): "Agora é preciso trabalhar de verdade".
Devido ao aumento dos votos que receberam os Verdes, o partido vai ter mais poder na futura coalizão governista. Essa é uma boa notícia. Pois o partido -que há 23 anos foi fundado como um movimento de pacifistas, adversários da energia nuclear, ecologistas, feministas e simpatizantes de um modo de vida alternativo- tem demonstrado sua predisposição também para as reformas internas.
Isso não aconteceu apenas com o apoio em relação às ações militares em Kosovo e no Afeganistão, mas também com posições político-econômicas progressivas.
Na realidade, foram os Verdes que nos últimos quatro anos fizeram funcionar o motor das reformas na coalizão governista.
E como fica a oposição? A bancada do Parlamento do PDS (ex-comunistas) caiu de 37 para duas cadeiras. O FDP, (liberais) com 47 cadeiras, tem idéias político-econômicas parcialmente interessantes, mas os líderes do partido não convencem. O CDU/CSU, porém, tem a maioria no Bundesrat (espécie de Senado).
Isso significa que, para uma grande parte das leis, a coalizão governista vai precisar do apoio dessa oposição. Por outro lado, o CDU/CSU interpretará seu papel parlamentar de forma errônea se bloquear reformas importantes. Tomara que os oposicionistas compreendam que vetar, apenas para "ser do contra", não levará o país a nada.
Karin Finkenzeller é jornalista do Financial Times Deutschland, na Alemanha.
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