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08/10/2002 - 16h07

40º aniversário do Concílio Vaticano 2º é celebrado com discrição

BRUNO BARTOLONI
da France Presse, na Cidade do Vaticano

Há 40 anos foi inaugurado, na Basílica de São Pedro, o Concílio Vaticano 2º, a assembléia plenária de bispos que marcou uma espécie de "revolução incompleta" dentro das estruturas da Igreja católica.

Vários eclesiásticos sobreviveram ao encontro, que contou com a presença do papa João Paulo 2º - na época, monsenhor Karol Wojtyla, bispo da Cracóvia.

O aniversário dessa importante reunião, que contou com a presença de 2.500 religiosos, não será comemorado oficialmente e é provável que o papa se limite a evocar o Concílio amanhã, durante a audiência geral.

Ao convocar o Vaticano 2º, João 23, então com 77 anos e já enfermo, não sabia exatamente o alcance da iniciativa, acreditando que poderia encerrar os trabalhos depois de uma só sessão.

Foram necessárias quatro assembléias plenárias e o Concílio durou três anos. Enquanto isso, João 23 faleceu, em 1963, e foi substituído por Paulo 6º, uma figura mais intelectual e liberal, que despertava desconfiança entre os setores ultraconservadores.

"O Concílio não foi traído, menos ainda em seu espírito e seus objetivos fundamentais, apesar do que afirmam alguns críticos", opinou Gian Franco Svidercoschi, ex-vice-diretor do "Osservatore Romano", o jornal oficial do Vaticano e autor de um livro sobre o Vaticano 2º ("Um Concílio que continua", edições Ancora).

"Não acredito que João Paulo 2º convoque o Concílio Vaticano 3º, como assegurou o cardeal italiano Carlo Maria Martini. Um Concílio agora, com sua capacidade de decisão, é prematuro", acrescentou Svidercoschi.

"Não era tampouco a obra do 'anticristo', como diziam alguns eclesiásticos, aterrorizados com a palavra 'reforma'. A revolução iniciada com esse Concílio não se completou"

Escândalos
O cardeal Martini espera que seja convocado um novo Concílio que aborde assuntos disciplinares e doutrinários, sobretudo depois dos escândalos que afetaram à Igreja e seus membros, como a pedofilia e os abusos sexuais.

O eventual Concílio Vaticano 3º deveria, segundo um religioso, examinar também o problema da mulher na sociedade e na Igreja, a participação dos laicos em algumas responsabilidades ministeriais, a sexualidade, o matrimônio, a relação entre as leis civis e os deveres morais.

É evidente que a convocação dos 4.500 bispos da Igreja implica uma série de problemas organizacionais comparáveis aos registrados em 1962 para trazer a Roma 2.500, ou em 1870, para reunir os 700 bispos do Concílio Vaticano 1º.

Para Gian Franco Svidercoschi, a decisão mais revolucionária do último Concílio foi a introdução do conceito de liberdade religiosa, que era rejeitado pela Igreja, convencida de que era a única depositária da verdade.

"Uma mudança total, que modificou completamente as relações entre católicos e judeus e que permitiu a abertura do diálogo com o Islã e com outras religiões não cristãs", acrescentou.

"Graças ao Concílio, o papa João Paulo 2º entrou pela primeira vez em 2000 anos numa sinagoga e, pela primeira vez em 1.400 anos, numa mesquita", recordou.

"Essas decisões implicaram uma abertura para o mundo e um compromisso pelos direitos humanos, considerados até esse momento pelos pontífices um tema suspeito", disse.

A eliminação da leitura da missa em latim e o fato de os sacerdotes oficiarem a cerimônia de frente para os fiéis, e não de costas, foi para alguns católicos "uma experiência chocante", recorda.

O Concílio Vaticano 2º terminou com a promulgação de 16 documentos, entre eles a constituição dogmática "Lumen gentium" (A luz dos povos), a menos aplicada.

Leia mais no especial sobre religião

 

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