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20/10/2002 - 09h02

Pressão por reformas é dilema de Schröder

da Folha de S. Paulo

Diversas reformas são necessárias para dinamizar a economia alemã, de acordo com cientistas políticos, economistas, agentes do mercado financeiro e representantes do patronato e dos trabalhadores consultados pela Folha.

O próprio chanceler (premiê) Gerhard Schröder, reeleito há um mês e que assume oficialmente nesta terça-feira, surpreendeu e indicou um superministro da Economia e do Trabalho, o "superministro das reformas", antes mesmo de apresentar o programa de trabalho de sua coalizão, que conta com seu Partido Social-Democrata (SPD) e com os Verdes.

Mas, se mudanças são necessárias, para a maioria da população -o desemprego, maior preocupação dos alemães, é de 9,9% (8,1%, segundo a metodologia da União Européia)-, o escopo, a dimensão e os agentes das reformas, além das áreas específicas que serão atingidas, constituem uma das maiores fontes de divergência da sociedade alemã.

De um lado, há os que defendem reformas estruturais, flexibilização do mercado de trabalho, diminuição das contribuições sociais etc. Do outro lado, encontram-se os que preferem um aumento das despesas públicas, visando a dar o impulso primordial para que a economia possa voltar a crescer e apostando no lado social da economia de mercado.

Schröder obteve uma vitória esmagadora contra o democrata-cristão Helmut Kohl, em 1998, graças a uma plataforma que prometia pôr fim ao Reformstau (congestionamento de reformas), que já emperrava a economia alemã à época. E conquistou a reeleição com base na promessa de dar continuidade às reformas.

Seu maior problema é que ele está no meio da disputa visceral que opõe uma corrente à outra.

"Ante as circunstâncias internacionais, podemos dizer que o chanceler fez um governo bastante razoável, mas ele terá de tomar decisões bem mais controversas agora", apontou Manfred Nitsch, da Universidade Livre de Berlim.

Outro entrave é que, após a eleição de 22 de setembro último, Schröder conta com uma maioria bem menos expressiva no Bundestag (Parlamento), o que, certamente, dificultará sua tarefa.

O SPD perdeu 47 cadeiras em relação a 1998, obtendo apenas 38,5% dos votos, a mesma porcentagem da aliança oposicionista formada pela União Democrata Cristã (CDU) e pela União Social Cristã (CSU), que conquistou três cadeiras a mais do que há quatro anos.

Os Verdes foram o fiel da balança no pleito de setembro, garantindo, com sua vitória sobre os liberais do FDP, a reeleição da coalizão governamental. Eles ficaram com oito cadeiras a mais do que na última eleição. Assim, ganharam força na administração embora não tenham obtido mais um posto de ministro (permanecem com os três que já tinham).

Joschka Fischer, ministro das Relações Exteriores, mantém-se no cargo.
"Schröder terá de demonstrar habilidade política se quiser introduzir as reformas que considera necessárias.

Afinal, ele se elegeu graças aos votos das classes trabalhadoras, que, naturalmente, não aceitam abrir mão da rede de proteção social à qual têm direito.

Trata-se de um tema delicado, pois esses benefícios começaram a ser obtidos na segunda metade do século 19, sob o comando do chanceler Otto von Bismarck", explicou Gerhard Göhler, da Universidade Livre de Berlim.

Combate ao desemprego
Para combater o desemprego, que é o ponto mais fraco do balanço de seu primeiro governo, Schröder pretende aplicar todas as medidas previstas nos planos concebidos por Peter Hartz, diretor de pessoal da Volkswagen, tendo, para tanto, indicado Wolfgang Clement, governador do Estado da Renânia do Norte-Vestfália, para ocupar o Ministério da Economia e do Trabalho.

Todavia tanto a classe patronal quanto os sindicatos de trabalhadores concordam em que os planos de Hartz só podem resolver parte da questão. "As propostas de Hartz não atingem a essência do problema do desemprego, que é a impossibilidade de criar novas vagas sem que haja um crescimento econômico considerável", apontou Alfred Boss, do Instituto para Economia Mundial de Kiel.

"As propostas de Hartz terão forte impacto sobre o desemprego, já que visam a acelerar o processo de ocupação de postos livres pelos desempregados. Contudo é importante salientar que elas não solucionarão a questão do desemprego estrutural, pois não buscam criar novos empregos", avaliou Wolfgang Scheremet, economista-chefe da Federação dos Sindicatos da Alemanha.

"O problema real é que, na melhor das hipóteses, há 1,5 milhão de postos que poderão ser ocupados assim. Os outros 2,5 milhões de desempregados só serão atingidos se o governo fizer reformas estruturais, como a redução dos tributos que pesam sobre as empresas", analisou Matthias Schoder, diretor de economia da Federação das Câmaras de Comércio e Indústria da Alemanha.

Ademais, Schröder sabe que esse é apenas um dos vários desafios que terá de enfrentar. Restam, entre outros, a reestruturação das instituições européias, as reformas educacional e da saúde e o esfriamento das relações entre Washington e Berlim.
 

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