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23/10/2002 - 02h32

Militares pedem a deposição de Chávez

MARCIO AITH
enviado especial da Folha de S.Paulo a Caracas

Um grupo de 15 oficiais venezuelanos declarou-se ontem em "desobediência civil" e conclamou a população e as Forças Armadas do país a desconsiderar a legitimidade do governo do presidente Hugo Chávez.

Em pronunciamento exibido ao vivo pelas redes privadas de TV, o grupo acusou Chávez de estar preparando um "autogolpe" e pediu à população que derrube o presidente "de forma pacífica, sem derramamento de sangue", para poupar o país de sofrimento.

O grupo é formado por generais e almirantes processados pela participação no frustrado golpe de Estado de 11 de abril passado. Na ocasião, Chávez foi afastado do poder por dois dias e retornou graças à ação de simpatizantes civis e militares leais.

O porta-voz do grupo que fez o pronunciamento ontem na TV é o general do Exército Enrique Medina Gomez, que enfrenta corte marcial e que escapou da prisão na semana passada depois que manifestantes anti-Chávez o cercaram e fizeram o governo desistir da detenção.

"Território liberado"
Os militares convocaram a população para um protesto na praça França, local que tem sido palco de manifestações das oposições. Os militares denominaram a praça "território liberado das Forças Armadas".

No início da noite, cerca de mil manifestantes já estavam na praça. No entanto não havia sinal de adesão das Forças Armadas à iniciativa.

"Declaramo-nos em desobediência civil para dar uma resposta e impedir um autogolpe", disse Medina Gomez, ladeado, entre outros, pelos generais Manuel Rosendo e Efraín Vásquez Velasco, dois dos participantes do golpe cívico-militar de abril.

"Algumas individualidades das Forças Armadas estão imersas num projeto castrista inconstitucional. Nós nos declaramos em desobediência legítima e desconsideramos o governo", disse o grupo, que também acusou o governo Chávez de corrupção e de praticar crimes de "lesa-humanidade" ao provocar a morte de 19 manifestantes em abril.

A oposição atribui as mortes durante as manifestações que antecederam o golpe à ação dos Círculos Bolivarianos, grupos civis de apoio a Chávez, os quais acusam de terem se transformado em grupos paramilitares.

O governo nega que tenha armado os Círculos Bolivarianos e diz que as mortes durante as manifestações ocorreram em confrontos, com tiros disparados tanto por chavistas quanto por opositores.

"Mesmos golpistas"
No momento da declaração dos militares, a Folha de S.Paulo estava no palácio presidencial Miraflores, onde o presidente Hugo Chávez acompanhava os acontecimentos trancado em seu gabinete. Alguns deputados do governo foram ao local para saber o que estava ocorrendo. Fizeram uma reunião com o vice-presidente José Vicente Rangel.

"São os mesmos golpistas de abril", disse Juan Jose Mendoza, deputado do partido do governo, o MVR (Movimento Quinta República). "Eles estão querendo provocar a guerra civil, mas confio nas Forças Armadas".

"Pode falar para seus leitores no Brasil que a Venezuela está tranquila, não está acontecendo nada", disse Ismael Garcia, do partido Podemos, ligado ao governo. "São os mesmos militares, com os mesmos uniformes. É um filme repetido. O país está tranquilo. Esses militares alegavam que não tinham participado do golpe de abril. Acabaram de confessar. Devem receber punições disciplinares", afirmou.

"Esse grupo está desesperado, já que a greve geral de segunda-feira fracassou", afirmou a deputada Célia Flores.

O vice-presidente Rangel respondeu que as Forças Armadas ignoraram o chamado desse grupo de oficiais e prometeu puni-los. "O país está completamente tranquilo", afirmou ele.

O presidente da Assembléia Nacional, o chavista William Lara, afirmou que não via importância no pronunciamento feito pelos oficiais na TV. "Esse pronunciamento não tem nenhum eco nas Forças Armadas do país", disse.

Um dos oficiais que se rebelaram ontem foi o vice-almirante Héctor Ramirez, nomeado ministro do efêmero governo golpista de abril.

Os oficiais que participaram do golpe estão em liberdade graças a decisões da Justiça que desconsideraram as acusações contra eles. Numa das decisões, a Suprema Corte considerou que eles agiram após o anúncio de uma suposta renúncia de Chávez, feita pelo comandante das Forças Armadas.

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