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10/11/2002 - 10h03

Ação dos EUA no Iêmen evoca política da CIA dos anos 50

MARCIO AITH
da Folha de S.Paulo, em Washington

Há duas semanas, um avião não-tripulado americano Predador da CIA disparou um míssil no Iêmen, destruindo um jipe com seis supostos membros da rede terrorista Al Qaeda. Todos morreram. Para os EUA, foi uma vitória da civilização contra a barbárie. "Terroristas são assassinos e como tal serão tratados pelos Estados Unidos", disse, dias depois, o presidente americano, George W. Bush.

No entanto, para a comunidade internacional e observadores americanos independentes, a operação evoca uma antiga e controversa prática dos serviços de inteligência americanos.

"Por mais que procuremos pensar que o mundo mudou depois do 11 de setembro, não dá para deixar de associar essa operação no Iêmen à política de assassinatos da CIA praticada há 50 anos", disse à Folha Jeffrey Smith, ex-conselheiro-geral da CIA e hoje advogado num dos maiores escritórios de Washington.

Durante as décadas de 50 e 60, a CIA deu início a uma política de assassinatos por meio da qual tentou eliminar, direta ou indiretamente, inimigos no Vietnã, em Cuba e em outros países no Oriente Médio e na África.

"Quase todas as tentativas falharam e, na minha opinião, contribuíram para moldar o ódio aos EUA e o antiamericanismo no mundo", opinou Rhodri Jones, professor de história americana na Universidade de Edimburgo, na Escócia.

"A CIA sentiu-se no direito de invadir a soberania de outros países e assassinar pessoas sem prendê-las ou julgá-las. Temo que isso esteja sendo retomado."

Fidel escapou
A política foi um fracasso, como prova o fato de o ditador cubano, Fidel Castro, estar vivo. No entanto a repercussão negativa dessa política em todo o mundo motivou o presidente americano Gerald Ford a bani-la em 1976, por meio de uma ordem executiva renovada por Ronald Reagan em 1981 e, formalmente, válida até hoje. A resolução proíbe essas operações e cria mecanismos internos para executá-la.

Com base nela, os EUA acabaram reorientando sua diretriz e desenvolveram, ao menos publicamente, uma diplomacia contrária a assassinatos.

Desde então, o Departamento de Estado tem repetidamente protestado contra os ataques de Israel com mísseis a supostos líderes terroristas palestinos .

"Agora, parece que os EUA estão transmitindo a mensagem de que tais assassinatos voltaram a ser aceitáveis", disse Smith, o ex-conselheiro da CIA.

Segundo o Departamento de Estado, a operação no Iêmen não pode ser classificada como um assassinato porque os EUA estão em guerra e foram atacados pela rede Al Qaeda. Seria, portanto, uma operação de autodefesa no contexto de uma guerra contra o terrorismo.

Um dos mortos na operação do Iêmen, dizem os EUA, era Qaed Senyan al-Harthi, homem de confiança do terrorista saudita Osama bin Laden. Conhecido como Abu Ali, al-Harthi teria planejado o ataque de outubro de 2000 contra o destróier norte-americano Cole, que causou a morte de 17 marinheiros.

Segundo o porta-voz do Departamento de Estado, Richard Boucher, a ordem executiva banindo assassinatos continua válida, apesar da operação. E os EUA continuarão protestando contra a eliminação de terroristas palestinos por Israel. "Não há contradição alguma", disse ele durante uma entrevista.

No entanto, considerando a estimativa dos EUA de que a rede Al Qaeda esteja infiltrada em 72 países no mundo, a experiência no Iêmen causa apreensão. "Isso deve ser um recurso de último instância. Se os EUA utilizarem tais assassinatos com frequência, poderíamos entender que houve uma mudança de política. E, aí, as consequências podem ser inestimáveis", disse Smith.

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