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17/12/2002 - 19h25

Latino-americanos emigram para fugir da crise e da violência

da France Presse, em Montevidéu (Uruguai)

Sem alternativas, milhares de latino-americanos, dos mais pobres à classe média, decidiram emigrar em 2002 para a Europa e os Estados Unidos para fugir da violência crescente e da crise econômica, política e social da região.

"A cada hora, 58 habitantes da América Latina e do Caribe -quase um por minuto- deixam seus países de origem sem intenção de regressar", segundo o último relatório da Divisão de População, do departamento de Assuntos Sociais e Econômicos da ONU.

De acordo com o estudo, nos "últimos cinco anos a América Latina tornou-se a região do mundo com o maior crescimento nas taxas de migração: a cada ano, uma em cada mil pessoas da região emigra".

Mas, diferentemente de anos anteriores, agora "novos destinos estão surgindo", afirmou Jorge Martínez, da Unidade de População e Migrações da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal).

"Hoje, os destinos preferidos são Canadá, Japão, Austrália e, sobretudo, países da Europa, com destaque para a Espanha. Há 20 anos, a Espanha tinha 50 mil latino-americanos e hoje possui 300 mil", disse Martínez.

Dificuldades
Esta diversificação é produto das "dificuldades das economias e democracias dos países da região -onde a pobreza atinge cerca de 44% da população- e da percepção de que a emigração pode ser uma alternativa para quem não encontra oportunidades nos países de origem", acrescentou.

"Colômbia, Equador e Argentina" são os casos mais preocupantes, disse Lelio Mármora, diretor regional da Organização Internacional de Migrações.

Ainda que a Colômbia seja um país de longa história migratória, esta foi exacerbada pela "crise econômica e sobretudo pela insegurança", diz Mármora. A emigração não acontecia em países como a Argentina, hoje um país em que a maioria dos emigrantes é da classe média", avaliou o especialista.

No Equador, em recessão desde 1998 e com 79% da população na pobreza, Mármora destacou o ressurgimento, depois de 80 anos, da "emigração transatlântica" de origem rural e camponesa.

Os representantes dos imigrantes equatorianos na Espanha, onde são a primeira comunidade procedente da América Latina, pediram ao presidente eleito do Equador, Lucio Gutiérrez, em visita a Madri esta semana, que solicite ao Governo espanhol a regularização da situação de 150 mil imigrantes sem documentos.

Perfil diversificado
Segundo Martínez, hoje é possível "falar de um perfil diversificado dos migrantes, que vai de profissionais e técnicos a operários e estudantes", assegurou Martínez.

As mulheres estão à frente da emigração em alguns países, o que provoca preocupação, já que "as mulheres são as preferidas pelo tráfico, que também se estende às crianças", comentou.

Mas as preocupações das autoridades não param por aí. A migração "modificou a estrutura familiar na América Latina e no Caribe: um número maior de meninos e meninas são hoje chefes de família", denunciou um estudo da Consultoria para os Direitos Humanos e o Deslocamento (Codhes), sob a coordenação da Unicef.

A fuga de latino-americanos aumentou as remessas enviadas a seus familiares, chegando a US$ 25 bilhões este ano e tiveram grande importância para vários países da região, onde representam mais de 10% do PIB, informou um estudo do Fundo Multilateral de Investimentos (Fomin) do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

O relatório afirma que a América Latina é a região do mundo que recebe o maior fluxo de remessas -que correspondem a cerca da metade dos investimentos estrangeiros diretos (IED)-, com o México à frente como o principal receptor (cerca de US$ 9,3 bilhões em 2001).

Mas, de acordo com o estudo de Codhes, o crescimento das remessas, "longe de constituir um motivo de orgulho para os governos da região, são uma demonstração do fracasso das políticas públicas que durante as últimas décadas foram implantadas na América Latina e no Caribe".

"Os migrantes saem porque seus países os expulsam e, posteriormente, esses países, que não se preocupam com a situação de sua população no exterior, tentam sustentar suas economias baseados em uma nova forma de exploração". O aumento das remessas, segundo o relatório, caracteriza uma nova forma de dependência externa.
 

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