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25/12/2002 - 06h01

O nome do jogo venezuelano é petróleo

CLÓVIS ROSSI
Colunista da Folha de S.Paulo

A polarização política na Venezuela pode ter como objeto de cobiça o Palácio de Miraflores, a sede governamental, mas há um outro prédio bem menos notório que é o pano de fundo da batalha: o edifício de La Campiña, sede central da PDVSA.

É a sigla de Petróleos de Venezuela S/A, uma portentosa estatal de 40 mil trabalhadores, frota própria e uma subsidiária nos Estados Unidos. Responde por 25% da economia venezuelana, 50% dos impostos arrecadados e 80% das exportações.

O petróleo foi estatizado em 1976, no primeiro governo de Carlos Andrés Pérez. Mas nos 20 anos anteriores a Chávez, iniciou-se um processo de liberalização que acabaria conduzindo à privatização da companhia.

Chávez interrompeu o processo com a Lei de Hidrocarburetos, editada junto com um pacote de medidas no ano passado, não por coincidência quando o confronto com a oposição começou a se tornar mais agudo.

A nova lei, que mal começou a ser aplicada, requer maioria do Estado em todas as novas "joint-ventures" no setor, por exemplo.

Em recente entrevista ao jornal espanhol "El País", José Toro Hardy, ex-diretor geral da PDVSA, hoje acadêmico do Instituto de Altos Estudos para Defesa Nacional, considerou "desastrosa" a gestão de Chávez, exatamente por ter interrompido a liberalização. "Se continuasse a abertura que propúnhamos a partir de 94, com um investimento de US$ 65 bilhões, a Venezuela deveria estar produzindo hoje 4 bilhões de barris/dia, quando está produzindo 2,8 bilhões", contabilizou.

É óbvio que há enormes interesses por trás da perspectiva de privatização da PDVSA, na medida em que a Venezuela conta com as maiores reservas do mundo, que dão para 500 anos. São 74 bilhões de barris de petróleo convencional e 270 bilhões de barris de petróleo cru exportável na bacia do Orenoco, muito mais que o total da Arábia Saudita.

O presidente Chávez, na entrevista que a Folha de S.Paulopublicou no último domingo, disse que o plano de privatização da empresa estava pronto e mencionou, sem especificar, o interesse de "conexões estrangeiras".

Só faltou dizer que são firmas norte-americanas e a espanhola Repsol, além do grupo Cisneros, conduzido por Gustavo Cisneros, dono da Venevisión (um dos canais mais ativos na conspiração anti-Chávez) e de um império midiático presente em 39 países, por meio de 70 empresas.

O que torna o xadrez do petróleo mais complicado é que Chávez é contra a privatização, mas é também contra a maneira como a PDVSA vem sendo conduzida, uma espécie de Estado dentro do Estado.

A companhia parece uma daquelas estatais do período soviético, que pertenciam teoricamente ao Estado mas eram conduzidas de acordo com os interesses de seus gerentes e administradores, muitos dos quais ganharam dinheiro suficiente para comprarem as estatais caso sejam privatizadas.

Certamente por isso, escreve Ibsen Martínez, um dos mais respeitados analistas econômicos venezuelanos: "O petro-Estado venezuelano, invicto, incólume, apesar de tantas mudanças políticas, é talvez quem esteja verdadeiramente à espreita e seja o verdadeiro inimigo de Hugo Chávez. E de todos nós".

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