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26/01/2003 - 10h27

Palestinos não acreditam em mudanças

PAULO DANIEL FARAH
da Folha de S.Paulo, em Porto Alegre

Na Cisjordânia e em Gaza, uma parte significativa dos palestinos não acredita em uma mudança de regime em Israel e se diz sem esperança de ver o fim da ocupação ou mesmo a retomada do processo de paz no futuro próximo.

"Não há por que acreditar que algo vai mudar se, em eleições anteriores, chegamos a ter alguma esperança que depois se revelou falsa. É fácil continuar em nossas terras e acusar os palestinos de intransigência em vez de agir", disse à Folha de S.Paulo Abu Khalid, professor de Ramallah.

Segundo pesquisa feita no início deste mês em Gaza e Cisjordânia pelo Centro Palestino para a Opinião Pública, 48,9% dos palestinos acreditam que não fará diferença para o processo de paz um governo dirigido pelo atual premiê de Israel, Ariel Sharon, ou pelo líder trabalhista, Amram Mitzna. Apenas 16,8% acham que sua situação poderia melhorar se Mitzna chegasse ao poder.

A Autoridade Nacional Palestina descreve as eleições em Israel como "um assunto interno israelense", mas o líder palestino Iasser Arafat tem consciência dos efeitos de uma reeleição de Sharon, segundo o analista político Ali Jerbawi. "É claro que a provável reeleição de Sharon vai dificultar a situação de Arafat e uma eventual solução para o conflito israelo-palestino, e a Autoridade Nacional Palestina sabe disso", argumenta.

"O povo palestino está tão insatisfeito com a recente ampliação da ocupação e com o toque de recolher que não consegue visualizar uma solução política para a crise atual", analisa Jerbawi.

Sharon descarta discutir temas como o estabelecimento de duas capitais (uma israelense e outra palestina) em Jerusalém e o retorno dos mais de 3,6 milhões de refugiados palestinos. O premiê israelense defende ainda a necessidade de uma nova liderança palestina e reformas na ANP. Embora Arafat tenha condenado os atentados suicidas, Sharon diz que ele incentiva a ação de extremistas contra civis israelenses.

Mitzna prega a retomada das negociações com os palestinos e não descarta conversar com Arafat. Também disse que deve desmantelar parte dos assentamentos nos territórios ocupados da Cisjordânia e da faixa de Gaza.

"Não há nenhuma diferença entre um ocupante e um ocupante, tanto a direita quanto a esquerda são ocupantes", afirma Abdel Aziz Rantissi, líder do grupo extremista islâmico Hamas.

Já na opinião de Hanan Ashrawi, do Conselho Legislativo Palestino, "sem dúvida, uma mudança de regime em Israel influenciará a situação dos palestinos".

"Sabemos perfeitamente que o Partido Trabalhista e a esquerda não constituem uma solução ideal, mas ao menos estão dispostos a retomar o diálogo", diz.

Árabes-israelenses

Uma tentativa do comitê eleitoral de Israel de vetar a candidatura dos deputados árabes-israelenses Ahmad Tibi e Azmi Bishara por causa de seu apoio à Intifada (levante palestino contra a ocupação)_ decisão revogada depois pela Suprema Corte_ provocou insatisfação entre a população árabe de Israel (cerca de 20%) e deve estimular um comparecimento mais forte e o voto em partidos árabes, segundo analistas.

Atualmente, árabes-israelenses ocupam 11 das 120 cadeiras do Parlamento israelense, o Knesset.

A reportagem da Folha de S.Paulo visitou algumas regiões habitadas majoritariamente por árabes-israelenses e observou uma presença incomum de pôsteres e cartazes, além de um debate mais acirrado do que em eleições anteriores. Tibi diz que muitos eleitores haviam dito que iriam se abster, como forma de protesto, mas a tentativa de impedir sua candidatura e a de Bishara deve levar ao menos 70% dos árabes-israelenses às urnas. "Os árabes israelenses se sentem mais isolados que nunca pelo atual governo. A perspectiva é que votem em candidatos que se identificam com suas reivindicações."

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