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29/01/2003 - 10h26

Análise: Israelenses apostam em governo linha-dura ao reeleger Sharon

SAMUEL FELDBERG
especial para a Folha Online

O povo israelense foi às urnas ontem dar seu voto de confiança à política de linha dura do primeiro-ministro Ariel Sharon. Em uma eleição histórica, Sharon foi reeleito, quase dobrando sua representação no Parlamento israelense, e fundamentalmente à custa da esquerda.

Os dados da eleição confirmaram pesquisas anteriores de opinião pública que demonstravam uma guinada à direita, acompanhando a escalada de violência promovida pelos palestinos a partir da nova Intifada, iniciada em 28 de setembro de 2000.

Durante alguns poucos dias houve esperança, por parte das alas mais moderadas da sociedade, de que o escândalo financeiro envolvendo Sharon e seus familiares pudesse afetar significativamente os resultados. Mas pesaram mais os argumentos de que a segurança de Israel e a conduta da guerra contra o terror têm precedência sobre questões internas de cunho moral.

Os trabalhistas sofreram uma derrota quase tão importante quanto a de 1977, em que pela primeira vez foram alijados do poder -por apenas duas cadeiras não deixaram de estar, pela primeira vez desde a criação do Estado de Israel, entre os dois principais partidos no Parlamento.

O Shinui (mudança), de centro, tornou-se junto com os trabalhistas o fiel da balança oferecendo ao Likud uma nova constelação de possíveis coalizões, com ou sem a participação dos partidos religiosos.

Sharon já declarou que deseja retornar ao modelo anterior, de um governo de união nacional com a participação dos trabalhistas, o que lhe permitiria formar uma ampla e estável maioria. Os trabalhistas entretanto, que provocaram a realização das eleições com a sua saída do governo, já declararam que não participarão de uma nova coalizão, salientando ainda que o novo governo não durará mais que 18 meses.

Descartada esta opção restariam a Sharon as duas alternativas tradicionais: uma aliança com os partidos laicos de direita, que permitiria incluir o maior partido do centro, mas que dificultaria a obtenção de um consenso nas negociações com os palestinos, ou uma aliança com os partidos religiosos e os de direta, que lhe daria uma frágil maioria e alienaria a grande parcela da população que vê os religiosos cada vez mais como detentores de privilégios insustentáveis.

Os trabalhistas por sua vez, com uma nova liderança ainda não amadurecida, terão de recolher-se para avaliar as propostas de sua plataforma, baseada no que se convencionou chamar de "separação unilateral" -uma tática que já foi considerada radical, mas que hoje já não atende aos anseios de uma população que vê a presença de Arafat [Iasser, presidente da Autoridade Nacional Palestina] frente a uma estrutura independente como uma ameaça a sua segurança.

As eleições de ontem têm ainda de ser vistas no contexto de uma crise econômica quase sem precedentes na história israelense, com suas causas habilmente remetidas por Sharon à Intifada palestina, e do iminente ataque dos Estados Unidos ao Iraque, com a expectativa de uma imediata remoção do conflito entre israelenses e palestinos do foco das preocupações internacionais e consequente ausência de pressões norte-americanas.

Continua a batalha verbal entre os porta-vozes de israelenses e palestinos, os primeiros declarando que não haverá diálogo enquanto não cessarem as ações terroristas e os outros avisando que estas [as ações terriristas] continuarão enquanto se mantiver a ocupação israelense.

Resta somente a esperança de que o novo governo, com uma estrutura renovada e com novas perspectivas, possa gerar as condições para a retomada do diálogo, com Arafat ou a alternativa que se mostre viável.

Samuel Feldberg é professor do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da USP (Universidade de São Paulo).
 

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