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14/02/2003
-
04h35
Secretário de Redação da Sucursal de Brasília
da Folha de S.Paulo
No delicado equilíbrio das relações entre Estados Unidos e Brasil na era Lula, na qual qualquer retórica mal-interpretada pode virar uma crise diplomática, a declaração de Marco Aurélio Garcia sobre a Colômbia tem o potencial de cair como uma bomba.
Não que lhe falte clareza estratégica. Há muito circula no Itamaraty e nos comandos militares a preocupação com o eventual transbordamento do conflito colombiano decorrente da intervenção econômico-militar dos Estados Unidos.
Os temores só cresceram com a eleição do linha-dura Álvaro Uribe e com a ascensão do intervencionismo belicista na agenda externa norte-americana. Além disso, há dez anos as tropas regulares mais próximas do subcontinente sul-americano, em missão oficial, estavam no Panamá.
Logicamente ninguém vai falar hoje em choque direto de interesses americanos e brasileiros na fronteira colombiana, mas pensar estrategicamente significa olhar anos, décadas para frente. E prever cenários, de preferência os mais preocupantes.
Garcia verbalizou a preocupação sobre um temor consistente, em mais um sinal de que o Brasil vai adotar uma posição ''pró-ativa'' na busca de sua posição de líder regional _de resto, uma promessa de campanha do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva que parece estar sendo cumprida.
Como ocorreu no caso da ação na crise venezuelana, não faltará diplomata com medo de que Washington enxergue a posição de Brasília uma afronta desnecessária.
O medo não é despropositado: no mundo de George W. Bush não há lugar para países que contrariem interesses estratégicos dos Estados Unidos.
Quem o faz vai para algum eixo malévolo, e não se trata apenas de ser bombardeado. Basta ver o caso alemão, quando o maior aliado na Europa é tratado nos Estados Unidos como um entulho anacrônico por não concordar com a guerra contra o Iraque.
Para o Brasil, em meio a discussões sobre regras de comércio internacional e Alca (Área de Livre Comércio das Américas), há uma gama muito maior de instrumentos de pressão do que grupos de porta-aviões e bombas inteligentes.
O risco existe, assim como o prêmio em caso de sucesso na estratégia. O que falta saber é a linha exata a ser adotada pelo governo brasileiro, e se haverá coerência programática nas instâncias decisórias. Sem o Itamaraty, Garcia corre o risco de pregar no deserto. Com o Itamaraty, vai correr muitos outros.
Declaração de Lula sobre Colômbia pode cair como uma bomba
IGOR GIELOWSecretário de Redação da Sucursal de Brasília
da Folha de S.Paulo
No delicado equilíbrio das relações entre Estados Unidos e Brasil na era Lula, na qual qualquer retórica mal-interpretada pode virar uma crise diplomática, a declaração de Marco Aurélio Garcia sobre a Colômbia tem o potencial de cair como uma bomba.
Não que lhe falte clareza estratégica. Há muito circula no Itamaraty e nos comandos militares a preocupação com o eventual transbordamento do conflito colombiano decorrente da intervenção econômico-militar dos Estados Unidos.
Os temores só cresceram com a eleição do linha-dura Álvaro Uribe e com a ascensão do intervencionismo belicista na agenda externa norte-americana. Além disso, há dez anos as tropas regulares mais próximas do subcontinente sul-americano, em missão oficial, estavam no Panamá.
Logicamente ninguém vai falar hoje em choque direto de interesses americanos e brasileiros na fronteira colombiana, mas pensar estrategicamente significa olhar anos, décadas para frente. E prever cenários, de preferência os mais preocupantes.
Garcia verbalizou a preocupação sobre um temor consistente, em mais um sinal de que o Brasil vai adotar uma posição ''pró-ativa'' na busca de sua posição de líder regional _de resto, uma promessa de campanha do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva que parece estar sendo cumprida.
Como ocorreu no caso da ação na crise venezuelana, não faltará diplomata com medo de que Washington enxergue a posição de Brasília uma afronta desnecessária.
O medo não é despropositado: no mundo de George W. Bush não há lugar para países que contrariem interesses estratégicos dos Estados Unidos.
Quem o faz vai para algum eixo malévolo, e não se trata apenas de ser bombardeado. Basta ver o caso alemão, quando o maior aliado na Europa é tratado nos Estados Unidos como um entulho anacrônico por não concordar com a guerra contra o Iraque.
Para o Brasil, em meio a discussões sobre regras de comércio internacional e Alca (Área de Livre Comércio das Américas), há uma gama muito maior de instrumentos de pressão do que grupos de porta-aviões e bombas inteligentes.
O risco existe, assim como o prêmio em caso de sucesso na estratégia. O que falta saber é a linha exata a ser adotada pelo governo brasileiro, e se haverá coerência programática nas instâncias decisórias. Sem o Itamaraty, Garcia corre o risco de pregar no deserto. Com o Itamaraty, vai correr muitos outros.
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