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15/02/2003 - 10h40

Análise: Afinal, o que pretende Bush?

da France Presse, em Nova York

Acentua-se cada vez mais, na opinião dos analistas internacionais, o mistério em torno das verdadeiras intenções do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, em relação ao Iraque. Oficialmente, o mandatário se resume em proclamar que "o mundo" quer o desarmamento iraquiano. E que a guerra será inevitável se Saddam Hussein insistir em desrespeitar as Nações Unidas.

Mas, afinal, de que armas George W. Bush está falando, se os próprios chefes dos inspetores (Hans Blix e ElBaradei) confirmaram que até agora nenhuma arma de destruição em massa foi encontrada e contestaram a validade das "provas" apresentadas pelos EUA?. Além disso, seu secretário de Estado, Colin Powell, não foi nada convincente em seu pronunciamento no Conselho de Segurança. E também não apresentou nenhuma prova de vínculo do Iraque com a rede terrorista Al Qaeda, de Osama bin Laden.

Com ou sem provas, é evidente que os Estados Unidos insistem na guerra para derrubar o regime de Saddam Hussein. Mas para que?

A impressão dos analistas em geral é que George W. Bush, com o único apoio declarado do primeiro-ministro britânico Tony Blair e contando com um certo apoio velado do primeiro-ministro australiano John Howard, vai invadir o Iraque de qualquer maneira. Inclusive, passando por cima do Conselho de Segurança (ou seja, da comunidade internacional).

Entretanto, por maiores que sejam sua obsessão e suas motivações pessoais, o governante da indubitavelmente maior potência do mundo não pode deixar de pensar que, assim fazendo, estaria desafiando o mundo. Desta vez, não seria mais uma Guerra do Golfo, quando os Estados Unidos tiveram apoio total.

Nenhum governante de nenhum país do mundo, por mais força bélica de que disponha esse país, por mais dinheiro que esse país possua e possa destiná-lo às conquistas pela força, pode pretender ser o "dono" do mundo. Já passaram as eras de vikings, Átila, Gengis Kahn, Júlio César, Hitler, etc, etc, etc. Bastaria, pois, que George W. Bush parasse um pouco para ouvir os protestos e ponderar sobre as múltiplas manifestações em todo o mundo, inclusive em seu país, contra a guerra que ele parece empenhado em lançar.

Talvez, o preço a ser pago por essa obsessão seja muito alto. E não somente para ele. Para todos. Possivelmente Saddam Hussein seria derrubado, mesmo com um ataque unilateral. Mas a questão não se resume nisso. O sentimento antiamericano se enraizaria e ganharia poder em todos os continentes. A coisa, pois, não parece ser tão simples desta vez.

Certamente iria além, muito além, dos clássicos protestos inertes dos governantes opostos, que geralmente se limitam a um comunicado e depois lavam as mãos, igualzinho a Poncio Pilatos. Para agravar ainda mais o caso, é bom lembrar que, ignorando a ONU e passando ao ataque pura e simples, os EUA estariam desmoralizando e praticamente esmagando toda razão de ser da Organização das Nações Unidas.

É difícil, muito difícil, saber "qual é a de Bush". Petróleo? Controle absoluto do Oriente Médio?. O refrão de "desarmar o Iraque" se evidencia cada vez mais absurdo.

Neste mesmo sábado, o maior aliado dos Estados Unidos, o primeiro-ministro britânico Tony Blair, baixou um pouco o tom belicista e declarou que os inspetores em desarmamento da ONU terão mais tempo para realizar seu trabalho. É que por mais seguidor das idéias de Bush, Blair também sabe que politicamente está perdendo terreno em seu país e pode terminar "sumindo" da história. Daí o passo atrás.

A verdade é que não dá direito para saber ainda o que poderá acontecer. O mundo espera que não seja o apocalipse.

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