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07/03/2003 - 03h18

Alta do desemprego fragiliza governo alemão

MÁRCIO SENNE DE MORAES
da Folha de S.Paulo

Ironicamente, no momento em que a opinião pública alemã volta a demonstrar forte aprovação à política externa da administração do chanceler (premiê) Gerhard Schröder, que é contrária à intenção dos EUA de lançar uma ofensiva militar contra o Iraque, o desemprego _o calcanhar-de-aquiles do governo_ aproxima-se do recorde histórico do país.

De acordo com estatísticas divulgadas ontem, o número de desempregados cresceu em 83,1 mil de janeiro para fevereiro, atingindo a aterradora casa de 4,7 milhões. Trata-se de 11,3% da mão-de-obra ativa do país, cuja população é de cerca de 82 milhões de habitantes. Em comparação com o mês de fevereiro de 2002, há 410 mil desempregados a mais agora.

"Para o SPD [Partido Social-Democrata, de Schröder], a situação é muito difícil. Depois de perder as eleições regionais de fevereiro, resultado que o deixou em péssimas condições no Bundesrat [Câmara Alta do Parlamento, na qual a oposição conta com quase dois terços das cadeiras], Schröder continua a enfrentar o agravamento do desemprego, o que fragiliza bastante seu governo", afirmou à Folha de S.Paulo Elmar Altvater, reputado politólogo de Berlim.

"Em fevereiro, Schröder foi punido eleitoralmente por não ter apresentado soluções para a estagnação econômica alemã e porque, após sua reeleição [setembro de 2002], não se mostrou firme em sua determinação de não apoiar um eventual ataque dos EUA ao Iraque. Sua situação melhorou no que se refere à política externa, pois ele tem sido mais ativo internacionalmente, mas o desemprego ainda o assombra."

Na verdade, Schröder está diante de um impasse, segundo alguns analistas econômicos. "Se não aplicar certas medidas consideradas conservadoras, como a flexibilização do mercado de trabalho e a redução da carga tributária que pesa sobre as empresas, o governo não conseguirá reduzir o desemprego", apontou Carsten-Patrick Meier, do Instituto para a Economia Mundial de Kiel.

"Contudo, se fizer isso, o SPD atrairá a ira dos sindicatos, que são seus aliados tradicionais. Assim, Schröder deverá decidir logo se quer colocar a economia do país nos eixos ou se só tem em mente sua reeleição, em 2006. Se a primeira hipótese for a verdadeira, ele será obrigado a distanciar-se um pouco da esquerda tradicional, embora isso possa custar-lhe a reeleição", analisou Meier.

Mas os sindicatos não concordam com ele. "O desemprego não cresce por falta de reformas estruturais. Precisamos de uma situação econômica mais apropriada para o crescimento. Isso depende das políticas monetária e fiscal. Devemos pôr fim ao Pacto de Estabilidade europeu [que limita a 3% o déficit dos países da zona do euro]", avaliou Wolfgang Scheremet, economista-chefe da Federação dos Sindicatos da Alemanha.

Ante as divisões atuais da população alemã e o recrudescimento do desemprego, uma coisa é certa: Schröder tem de agir rápido para não correr o risco de perder as rédeas da administração do país.
 

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