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09/03/2003 - 02h31

Críticos de Bush denunciam "caça às bruxas"

SÉRGIO DÁVILA
da Folha de S.Paulo

É a luta do "bem" contra o "mal" tal qual previu George W. Bush ao definir a política externa de seu governo, mas o problema é que está acontecendo dentro de seu próprio país. Na última semana, a comunidade artística se mobilizou contra o que a entidade que reúne atores disse à Folha de S.Paulo tratar-se de "neomacarthismo".

O coro foi liderado por comunicado do site da Screen Actors Guild (SAG), em que o órgão lembra a chamada "caça às bruxas" promovida pelo senador Joseph McCarthy (1908-57), que comandava a perseguição a pessoas suspeitas de serem comunistas, principalmente em Hollywood, que eram colocadas numa lista negra e impedidas de trabalhar.

"Deploramos a idéia de que pessoas públicas devam sofrer profissionalmente por ter a coragem de expressar sua opinião", afirma o texto. "Mesmo uma leve sugestão de lista negra não pode ser nunca mais tolerada neste país." À Folha, Jae Je Simmons, diretora da SAG em Nova York, mandou dizer que o editorial se referia ao que chamou de neomacarthismo.

No papel que nos anos 40 e 50 foi do senador estariam os ultraconservadores apresentadores de "talk shows" de rádio, que vêm urgindo seus ouvintes a mandarem cartas e e-mails às emissoras de TV e estúdios pedindo que demitam atores que se posicionarem contra uma intervenção militar dos Estados Unidos no Iraque.

Do outro lado, artistas liderados pelo ativista Martin Sheen, que goza de fama no país por seu papel como o presidente democrata do seriado televisivo "The West Wing". "Nunca recebi tantos e-mails ameaçadores", disse ele ao jornal "Los Angeles Times". Sean Penn, Susan Sarandon e a cantora Sheryl Crowe, entre outros, relataram casos semelhantes.

Sheen não deveria estranhar, já que seus opositores usam os mesmos métodos que ele. Há duas semanas, o ator liderou a "Marcha Virtual sobre Washington", que convocava uma avalanche de e-mails contra a provável guerra do Iraque enviados para os membros da Casa Branca e do Congresso.

"Terrorista internacional"

Esse é apenas o exemplo mais recente da divisão por que passa o país. O clima é de confronto entre os que apóiam a intervenção militar e os que se opõem a ela, com evidente vantagem para os primeiros, que se sentem amparados pelos ares conservadores emanados pela Casa Branca de Bush.

Há alguns dias, o estudante Bretton Barber, de Dearborn (Estado de Michigan), foi expulso da sala de aula de seu colégio por usar uma camiseta com a foto do presidente e os dizeres "Terrorista internacional". "Os alunos têm direito de opinar, mas o momento é delicado, por conta do conflito iminente com o Iraque", disse Dave Mustonen, da escola.

Na mesma época, a jogadora de basquete Toni Smith foi quase crucificada pelos tablóides conservadores de Nova York, liderados pelo "Post", do empresário Rupert Murdoch, por virar, em protesto contra a guerra, de costas à bandeira dos EUA durante a execução do hino nacional.

"Saddam Hussein deve estar se sentindo confortado pelos pacifistas nova-iorquinos", bradou em texto de sua manchete o redivivo "The New York Sun", que se considera à direita de Bush e é mais afinado com o secretário da Justiça, o religioso John Ashcroft.

O bate-boca continua. No "LA Times", a seção de cartas estampava a cizânia no dia seguinte à entrevista de Martin Sheen. "Minha neta está agora numa barraca militar no Kuwait passando frio para defender o "direito" do sr. Sheen de falar o que acha", disparou Sheila Erlanson.

"Graças a Deus por Martin Sheen", escreveu George Bentley. "Quanto aos e-mails ameaçadores, lembro a "Bíblia': "Nenhum profeta é aceito em seu lar".


 

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