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09/03/2003
-
16h41
A posição pró-guerra do premiê britânico Tony Blair cria uma grande agitação dentro de seu próprio Partido Trabalhista, como demonstra a renúncia hoje de um membro de um ministério, à qual poderão se seguir outras demissões caso Londres se comprometa em tomar parte de uma guerra contra o Iraque sem a autorização da ONU.
O deputado trabalhista Andrew Reed anunciou que abandonava seu posto no gabinete da ministra do Meio Ambiente, Margaret Beckett, embora não tenha renunciado a seu cargo de deputado.
Reed exercia a função de secretário particular parlamentar (Parliamentary Private Secretary, PPS), um trabalho não-remunerado, que constitui o primeiro grau de responsabilidade ministerial.
Esta demissão simbólica expõe o mal-estar que causa entre os trabalhistas a política belicista de Blair.
"É um dos períodos mais difíceis de que me recordo para o Partido Trabalhista, ao qual pertenço há muito tempo", admitiu o deputado Doug Henderson, ex-secretário de Estado para as forças armadas.
O número dois do governo, o vice-ministro John Prescott, negou hoje que Blair seja criticado em seu partido e afirmou que ele exerce sua autoridade e que sua posição "é a que querem os membros do partido e os cidadãos do país".
Segundo o jornal "Sunday Telegraph", cinco secretários parlamentares disseram que renunciariam a seus cargos se o Reino Unido decidir entrar em guerra sem a permissão da ONU.
O problema mais grave de Blair é que outras figuras de maior importância no governo podem seguir esses exemplos, como Robin Cook, ministro encarregado das relações com o Parlamento e que sempre se mostrou partidário de uma política externa "ética", ou Clare Short, ministra de Desenvolvimento Internacional, conhecida por suas posições radicais e sua extrema franqueza.
Para evitar uma crise política, Blair necessita que o Conselho de Segurança da ONU adote uma segunda resolução legitimando uma ofensiva militar contra o Iraque.
Telefonemas
Por isso Blair, em sua busca de adeptos à sua causa, falou durante o final de semana com vários dirigentes estrangeiros, entre eles o presidente chinês Jiang Zemin, enquanto descansava em sua casa de campo.
Zemin, entretanto, disse a Blair que a crise poderia ser resolvida politicamente e que as inspeções de armas no Iraque deveriam continuar e ser reforçadas, segundo informou a agência de notícias chinesa Xinhua.
O premiê e os membros de seu governo sempre se negaram a reconhecer que tomariam parte de uma ofensiva contra o Iraque sem a autorização das Nações Unidas, apesar de também não excluírem expressamente essa possibilidade.
Mas é difícil acreditar que depois de ter autorizado a mobilização no golfo Pérsico de cerca de 42 mil soldados o governo dê as costas aos Estados Unidos no último momento.
Em função disso, o ministro das Relações Exteriores manifestou hoje que seu país "se reservava o direito de tomar decisões" se não se chegar a um acordo sobre uma segunda resolução na ONU.
Contra-ataque
Uma segunda resolução da ONU tiraria um peso dos ombros de Blair. Jornais foram inundados hoje com relatos de uma revolta trabalhista por causa do Iraque e com o anúncio da renúncia de Reed.
A secretária da Indústria e Comércio Patricia Hewitt disse no domingo que sua secretária particular, Anne Campbell, poderia seguir Reed.
"Ela me disse que estaria muito infeliz sobre a possibilidade de uma guerra sem uma segunda resolução", disse Hewitt à TV Sky. Ela acrescentou que achava ser muito "comodista" as pessoas falarem em renúncia quando o governo ainda estava trabalhando para uma segunda resolução.
Hewitt faz parte de um contra-ataque dos políticos leais a Blair.
Blair ainda está sofrendo com uma votação recente no Parlamento na qual 122 parlamentares trabalhistas --mais de um em cada quatro- votaram contra sua posição contra o Iraque, a maior rebelião desde que ele assumiu o posto, em 1997.
Embora uma grande maioria trabalhista e o apoio dos conservadores da oposição pudessem ajudá-lo a vencer qualquer eleição futura sobre a questão do Iraque, outra grande rebelião poderia ser um tapa na cara de Blair.
E desafiar seu partido sobre a questão iraquiana poderia ser um tiro pela culatra para Blair quando ele precisar do apoio partidário em outras causas.
Pressionar por uma ação militar contra uma oposição pública e a vontade de sua base de poder político tem grandes chances de significar desastre para qualquer líder.
Com agências internacionais
Especial
Saiba mais sobre a crise EUA-Iraque
Blair pode enfrentar crise se atacar o Iraque sem aval da ONU
da Folha OnlineA posição pró-guerra do premiê britânico Tony Blair cria uma grande agitação dentro de seu próprio Partido Trabalhista, como demonstra a renúncia hoje de um membro de um ministério, à qual poderão se seguir outras demissões caso Londres se comprometa em tomar parte de uma guerra contra o Iraque sem a autorização da ONU.
O deputado trabalhista Andrew Reed anunciou que abandonava seu posto no gabinete da ministra do Meio Ambiente, Margaret Beckett, embora não tenha renunciado a seu cargo de deputado.
Reed exercia a função de secretário particular parlamentar (Parliamentary Private Secretary, PPS), um trabalho não-remunerado, que constitui o primeiro grau de responsabilidade ministerial.
Esta demissão simbólica expõe o mal-estar que causa entre os trabalhistas a política belicista de Blair.
"É um dos períodos mais difíceis de que me recordo para o Partido Trabalhista, ao qual pertenço há muito tempo", admitiu o deputado Doug Henderson, ex-secretário de Estado para as forças armadas.
O número dois do governo, o vice-ministro John Prescott, negou hoje que Blair seja criticado em seu partido e afirmou que ele exerce sua autoridade e que sua posição "é a que querem os membros do partido e os cidadãos do país".
Segundo o jornal "Sunday Telegraph", cinco secretários parlamentares disseram que renunciariam a seus cargos se o Reino Unido decidir entrar em guerra sem a permissão da ONU.
O problema mais grave de Blair é que outras figuras de maior importância no governo podem seguir esses exemplos, como Robin Cook, ministro encarregado das relações com o Parlamento e que sempre se mostrou partidário de uma política externa "ética", ou Clare Short, ministra de Desenvolvimento Internacional, conhecida por suas posições radicais e sua extrema franqueza.
Para evitar uma crise política, Blair necessita que o Conselho de Segurança da ONU adote uma segunda resolução legitimando uma ofensiva militar contra o Iraque.
Telefonemas
Por isso Blair, em sua busca de adeptos à sua causa, falou durante o final de semana com vários dirigentes estrangeiros, entre eles o presidente chinês Jiang Zemin, enquanto descansava em sua casa de campo.
Zemin, entretanto, disse a Blair que a crise poderia ser resolvida politicamente e que as inspeções de armas no Iraque deveriam continuar e ser reforçadas, segundo informou a agência de notícias chinesa Xinhua.
O premiê e os membros de seu governo sempre se negaram a reconhecer que tomariam parte de uma ofensiva contra o Iraque sem a autorização das Nações Unidas, apesar de também não excluírem expressamente essa possibilidade.
Mas é difícil acreditar que depois de ter autorizado a mobilização no golfo Pérsico de cerca de 42 mil soldados o governo dê as costas aos Estados Unidos no último momento.
Em função disso, o ministro das Relações Exteriores manifestou hoje que seu país "se reservava o direito de tomar decisões" se não se chegar a um acordo sobre uma segunda resolução na ONU.
Contra-ataque
Uma segunda resolução da ONU tiraria um peso dos ombros de Blair. Jornais foram inundados hoje com relatos de uma revolta trabalhista por causa do Iraque e com o anúncio da renúncia de Reed.
A secretária da Indústria e Comércio Patricia Hewitt disse no domingo que sua secretária particular, Anne Campbell, poderia seguir Reed.
"Ela me disse que estaria muito infeliz sobre a possibilidade de uma guerra sem uma segunda resolução", disse Hewitt à TV Sky. Ela acrescentou que achava ser muito "comodista" as pessoas falarem em renúncia quando o governo ainda estava trabalhando para uma segunda resolução.
Hewitt faz parte de um contra-ataque dos políticos leais a Blair.
Blair ainda está sofrendo com uma votação recente no Parlamento na qual 122 parlamentares trabalhistas --mais de um em cada quatro- votaram contra sua posição contra o Iraque, a maior rebelião desde que ele assumiu o posto, em 1997.
Embora uma grande maioria trabalhista e o apoio dos conservadores da oposição pudessem ajudá-lo a vencer qualquer eleição futura sobre a questão do Iraque, outra grande rebelião poderia ser um tapa na cara de Blair.
E desafiar seu partido sobre a questão iraquiana poderia ser um tiro pela culatra para Blair quando ele precisar do apoio partidário em outras causas.
Pressionar por uma ação militar contra uma oposição pública e a vontade de sua base de poder político tem grandes chances de significar desastre para qualquer líder.
Com agências internacionais
Especial
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