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17/03/2003 - 11h10

Análise: Saddam Hussein, tirano ou herói dos árabes?

BARRY PARKER
da France Presse, em Dubai (Emirados Árabes)

Depois de três décadas no poder, o presidente iraquiano Saddam Hussein, considerado um tirano no Ocidente, enfrenta os poderosos Estados Unidos em um último combate por sua sobrevivência, que deve reforçar ainda mais sua dimensão de herói árabe.

O homem-forte de Bagdá, convencido de seu lugar na história, manifestou-se determinado a morrer em seu país, inclusive se os Estados Unidos levarem adiante uma guerra em que um dos objetivos é derrubar seu regime.

Reuters - 4.fev.2003
Saddam Hussein, presidente do Iraque
O homem que o Ocidente agora odeia foi ajudado pelos próprios ocidentais em sua sua aventura militar contra o Irã. Ao invadir o Kuait, Saddam Hussein converteu o Iraque, berço da civilização, em um país empobrecido e fora-da-lei, apesar de suas fabulosas riquezas.

Se a ONU, no entanto, conseguisse convencê-lo a abandonar os últimos vestígios de seu arsenal militar e assim adiar a guerra, durante o tempo que necessitaram os especialistas para terminar sua missão de desarmamento, este homem de 65 anos poderia emergir como o grande herói do povo árabe.

Dentro de um culto à personalidade igual ao de Mao Tse-tung (1893-1976), que liderou a Revolução de 1949 na China, e dos dirigentes soviéticos, Saddam Hussein não hesita em comparar-se ao rei da Balilônia Nabucodonosor (605-562 a.C.) ou a Saladino, líder muçulmano do século 12, é considerado no mundo islâmico como o homem que livrou Jerusalém do controle dos cruzado..

Um homem que tanto se dedicou a concentrar o poder entre suas mãos jamais aceitará ir para o exílio.

Apesar de resignar-se com a destruição dos mísseis Al Samoud 2 sob a pressão da ONU, Saddam não parece, em compensação, ter a intenção de abandonar o controle do país, onde seu partido, o Baath, onipresente, o fez ser reeleito, em outubro passado, com pouco menos de 100% dos votos.

A vida foi uma longa corrida de obstáculos para este pobre camponês que não conheceu seu pai e foi adotado por seu tio materno. Saddam Hussein, que conduziu o Iraque de 1980 a 1988 em uma sangrenta guerra contra o Irã e sofreu uma derrota na Guerra do Golfo (1991), conhece a arte da sobrevivência, afirmam os analistas. Ele conseguiu firmar sua autoridade em inúmeros batismos de fogo.

Os Estados Unidos inundaram Bagdá de bombas e mísseis em dezembro de 1998. Outros mísseis caíram em 1993 e 1996, mas em todas as ocasiões ele deu a volta por cima cantando vitória.

Em 1998, Washington e Londres pretendiam castigá-lo por ter resistido ao processo de desarmamento, com o qual Saddam assegura hoje em dia ter colaborado.

As duas capitais acalentaram a esperança de vê-lo derrubado por um levante interno, mas o homem soube superar qualquer tentativa de revolta. Saddam Hussein arrasou uma revolta no sul xiita e no norte curdo durante a Guerra do Golfo, depois de fazer seu nome, em sua juventude, tentando assassinar o presidente Abdel Karim Qassem, em 1959.

Ferido na perna, fugiu do Iraque para regressar quatro anos mais tarde, antes de ser enviado para a prisão, em 1964, de onde fugiu para voltar a trabalhar de forma clandestina para o partido Baath.

Participou, em 1968, no golpe de Estado que levou o Baath ao poder e que marcou o início de sua ascensão até virar o homem-forte do regime do presidente Ahmad Hassan al Baker (primo de Saddam).

Vice-secretário-geral do partido, Saddam Hussein se converteu, em 1969, no vice-presidente do Conselho de Comando da Revolução (CCR), a mais alta instância do país, e não deixou de reforçar seu poder sob a asa da presidência.

Número um desde 16 de julho de 1979, Saddam acumula os cargos de chefe de Estado, secretário-geral do partido e presidente do CCR. Saddam não tolera qualquer dissidência, multiplica as punições e não hesita em enviar seus opositores para o exílio ou cemitério. A crueldade de seu regime é constantemente denunciada pelos defensores dos direitos humanos. A delação é incentivada e os meios de comunicação estão sob seu controle.

Hoje em dia, o homem que "inspira o temor", mas que não passou em um exame de recrutamento de oficiais em sua juventude, é o marechal e o chefe supremo de um Exército que corre o risco de ser destruído.

"Morremos aqui. Morreremos neste país e preservaremos nossa honra, a honra que devemos ao nosso povo", declarou recentemente Saddam a um canal de televisão americano.

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