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26/03/2003 - 06h29

Tormentas são evento comum na primavera no Iraque

CLAUDIO ANGELO
Editor-assistente de Ciência da Folha de S.Paulo

Se os EUA tivessem consultado um meteorologista árabe sobre a conveniência de invadir o Iraque nesta época do ano, início de primavera no Hemisfério Norte, provavelmente teriam ouvido uma advertência: cuidado com as tempestades de areia.

As rajadas de poeira que dificultaram o avanço das tropas anglo-americanas ontem são um fenômeno comum em regiões desérticas. No caso do Iraque e do Oriente Médio, mais comum ainda na primavera, quando frentes frias vindas de noroeste se juntam ao aquecimento superficial da areia no sul, levantando o pó.

Dependendo da violência da tormenta, as rajadas podem soprar por até três horas seguidas, e a visibilidade pode ser reduzida a um metro, no máximo.

Além de cortar a visibilidade _tornando impossível operar helicópteros, por exemplo_, elas ainda dificultam a respiração com o rosto descoberto. Um estudo feito por militares britânicos no Iraque na 1ª Guerra Mundial mostrou, ainda, que elas têm efeitos mais perversos sobre o organismo: o vento que as carrega é tão quente que não deixa o corpo dissipar o calor. "O sujeito entra em colapso", disse à Folha o meteorologista Rubens Junqueira Villela, da USP.

"As tempestades de areia são como qualquer tempestade. Acontecem mais na primavera e no verão. A diferença é que, no Brasil, por exemplo, o solo não está exposto", afirmou o meteorologista Praki Satyamurty, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que morou em Jeddah, na Arábia Saudita.

Tempestades são provocadas pelo que os meteorologistas chamam de sistemas frontais. Trata-se da região de choque entre duas massas de ar, uma fria e uma quente. O ar frio, mais denso, ao se encontrar com o quente, é forçado para baixo, jogando o ar quente para cima. O resultado é uma grande bagunça no ar, com ventos e nuvens.

"Esses sistemas geralmente estão associadas a chuva", diz Villela. "Mas naquela região o ar é tão seco que levantam areia."

No Iraque, as massas de ar frio _e os ventos que levantam as tempestades de areia_ são provenientes de noroeste, do Mediterrâneo e da Turquia. Dependendo do tamanho da massa de ar, as tempestades podem se suceder por dias.

Segundo Villela, na transição do inverno para a primavera no hemisfério Norte, o contraste de temperaturas (ainda faz frio ao norte, enquanto no deserto as temperaturas já estão altas) torna esses ventos especialmente violentos. Com eles, as tempestades de areia. Ao avançar rumo ao norte, as tropas anglo-americanas literalmente comem poeira.

Outro fator causador das tempestades, diz Satyamurty, são as chamadas instabilidades locais. Especialmente no verão, a areia do deserto esquenta a até escorchantes 60ºC. "Se você encostar no chão, queima a pele", afirma o cientista, indiano naturalizado brasileiro. O ar logo acima da superfície fica um pouco mais "fresco": 40ºC. "Nessas condições, a diferença de temperatura é tão grande que células de ar começam a subir e a descer, como numa panela com água fervendo." O resultado desse sobe-e-desce é vento soprando. E areia subindo.

A primavera no deserto junta os dois fenômenos. "Mas as tempestades de areia ainda são mais frequentes no verão", diz Villela _época do ano em que nenhum americano sonharia em marchar no deserto do Iraque.

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