Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
29/03/2003 - 05h28

Mídia americana muda previsões

JOÃO BATISTA NATALI
da Folha de S.Paulo

Parte da mídia acordou e percebeu que não era a tempestade de areia, mas a resistência dos iraquianos, que retardava o cerco anglo-americano a Bagdá.

Ainda na quinta-feira (27) o secretário norte-americano da Defesa, Donald Rumsfeld, afirmava-se "impressionado" com o avanço de suas tropas. Era uma postura otimista. O almirante britânico Michael Boyce, com rumo idêntico, dizia que a investida só dependia da melhora do tempo.

Ontem, no entanto, entrevistado pelo "The New York Times", o general americano William Wallace, comandante das forças terrestres, disse de modo eufêmico que "o inimigo está lutando de um jeito diferente do das nossas simulações". Citou como componente de surpresa a agressividade das forças paramilitares.

Com uma abordagem mais direta, o site da BBC disse que está em questão a doutrina Rumsfeld elaborada para a guerra. Segundo ela, uma força-tarefa relativamente reduzida, mas com ampla superioridade tecnológica, levaria ao colapso militar do inimigo e estimularia o levantamento da população contra Saddam Hussein.

Era também o que pensava o vice-presidente Dick Cheney, homem bastante influente no círculo do poder norte-americano. A guerra, disse ele há dias, seria "relativamente breve".

Ari Fleischer, porta-voz da Casa Branca, recuava ontem do otimismo moderado que manifestou nos primeiros dias de combate. "Sempre dissemos que os confrontos poderiam ser demorados e difíceis," afirmou.

Na quinta, o "The New York Times" já dizia que não se confirmava a previsão oficial de que os iraquianos estavam desmotivados para guerrear e a população civil receberia as forças anglo-americanas "com flores".

"Meus superiores disseram que haveria pouca ou nenhuma resistência", disse o cabo norte-americano Joshua Menard, ferido e já transferido para uma base norte-americana na Alemanha.

Tamanho da coalizão

Ainda entre os ingredientes da guerra da informação: o presidente George W. Bush disse anteontem em Camp David que "a coalizão que agora reunimos é maior que a que tínhamos em 1991, em termos de número de países participantes".

Vejamos. Na Guerra do Golfo, eram 28 os países que se juntaram contra o Iraque, entre eles Síria, França, Alemanha e até Argentina. Praticamente todos tinham condições de entrar em combate. Vizinhos árabes do Iraque deram bom suporte logístico.

Agora, segundo reportagem quase irônica de terça-feira no "The Washington Post", alguns dos aliados não têm sequer forças militares, como Palau, Costa Rica, Islândia, Ilhas Marshall e Micronésia. Entre os quase 50 apoiadores nominais da iniciativa anglo-americana há o Marrocos, monarquia árabe que não mandou soldados, mas ofereceu 2.000 macacos para testarem a existência de minas enterradas.

Outro tópico de controvérsia está na situação de Nassiriah, cidade que os norte-americanos anunciaram sábado (22) ter tomado e pela qual continuavam a combater ontem à noite. A propósito, o jornal "El País" cita um comentarista do canal britânico Sky News, que se disse enfastiado pela quantidade de despachos que recebeu com a informação de que Nassiriah não estava mais nas mãos da ditadura de Saddam.

Outra incoerência, desta vez dentro do Reino Unido: Tony Blair disse anteontem que dois dos soldados britânicos foram "executados" por tropas de Saddam. O jornal "The Guardian" noticia, no entanto, que familiares de um desses militares fora informada pelas autoridades de que ele morrera em combate. A diferença é mais que uma sutileza.

Por fim, Jean-Pierre Raffarin, primeiro-ministro francês, disse que a guerra estava sendo "tão sangrenta" quanto as demais do século 20". A França é adversária dos EUA no campo diplomático e fará tudo para atrapalhar. Unid Mubarak, ministro iraquiano da Saúde, foi no mesmo sentido: são tantos os feridos civis que os hospitais das grandes cidades correm o risco de colapso.

Essa versão é negada pela Cruz Vermelha. O presidente da seção francesa, em debate no canal TV5, disse estar surpreso com os relatos de que eram mínimos os danos físicos à população civil, tanto que permanecia engavetado o plano de reforço estrangeiro das equipes de médicos que atuam nos hospitais iraquianos.

Especial
  • Saiba tudo sobre a guerra no Iraque
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página