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14/05/2003 - 18h19

Menem confirma desistência e escapa de derrota humilhante

JOÃO SANDRINI
Editor-assistente de Economia da Folha Online

O ex-presidente argentino Carlos Menem (1989-1999) confirmou hoje que desistiu de participar do segundo turno da eleição presidencial. Com isso, seu rival Néstor Kirchner, também peronista, será aclamado novo presidente e a eleição marcada para domingo (18), cancelada.

"Não estão dadas as condições para o segundo turno. Ganhei o primeiro turno e me vou. Triunfamos contra todo mundo", disse Menem em uma breve declaração ao aparecer nos jardins da residência do governador de La Rioja, em Anillaco (Província de La Rioja).

Menem, 72, viajou a La Rioja, sua terra natal, para acabar com mais de um dia suspense e seguidas confirmações e negativas de assessores sobre sua renúncia.

Com a desistência, menem admite a primeira derrota em 30 anos de vida política e escreve mais uma página da conturbada história recente do país.

A renúncia também livra Menem de uma derrota humilhante nas urnas no próximo domingo. Segundo pesquisas divulgadas nesta semana, Menem contava com apenas 25% a 30% das intenções de voto para o segundo turno.

Já Kirchner, um político pouco conhecido em Buenos Aires até há poucos meses, arrebanhava cerca de 70% dos votos, um percentual que não foi alcançado nem pelo lendário Juan Domingo Perón.

Analistas políticos afirmam que Kirchner, ex-governador da Província patagônica de Santa Cruz, venceria com tamanha facilidade não por sua capacidade de conquistar o eleitorado argentino em tão pouco tempo mas pelos elevados índices de rejeição a Menem, que superavam 50%.

A maioria da população acredita que o ex-presidente envolveu-se em corrupção e contrabando de armas enquanto governou o país --apesar dele nunca ter sido condenado em última instância. Além disso, Menem é visto como co-responsável pelo colapso econômico argentino no final de 2001, quando foram suspensos os pagamentos da dívida externa após quase quatro anos de recessão.

Futuro

Kirchner promete fazer um pronunciamento ainda nesta tarde para falar já como presidente eleito. Em Buenos Aires, a expectativa é de que o ex-governador, também filiado ao Partido Justiicialista (peronista), tente dizimar as dúvidas sobre a legitimidade de seu governo, eleito apenas com os 22% dos votos obtidos no primeiro turno.

Ontem, porta-vozes de Kirchner já mostravam preocupação com a possível fragilidade do futuro governo. O atual presidente Eduardo Duhalde, que apoiou abertamente Kirchner, também mostrou essa preocupação hoje ao dizer que "seria muito melhor se os argentinos pudessem votar".

Já Menem deve ter um futuro muito mais modesto, pelo menos no campo político. Há pouco mais de uma semana, anunciou que, se perdesse a eleição, voltaria a viver em La Rioja com a mulher, a chilena e ex-miss Universo Cecília Bolocco, e que se dedicaria ao filho que deve nascer dentro de alguns meses.

No entanto, falar que a vida política de Menem acabou parece precipitado devido a sua capacidade de "ressurreição" e pela fidelidade de boa parcela da população. O ex-presidente conseguiu, por exemplo, vencer o primeiro turno da eleição no mês passado com 24,5% dos votos apesar de, pouco mais de um ano antes, ter estado preso por suposto envolvimento com contrabando de armas.

Política conturbada

Apesar de ser a segunda maior economia da América do Sul, a Argentina ainda não conseguiu consolidar sua democracia. Desde 1930, o único presidente civil e democraticamente eleito que havia conseguido completar um mandato era o próprio Menem --que, agora, também cede ao "carma" da renúncia.

A decadência politica, no entanto, parece ter chegado ao ápice em dezembro de 2001, quando por um curto período de tempo a Argentina foi governada por cinco presidentes diferentes.

A onda de renúncias foi iniciada por Fernando de la Rúa (1999-2001), da União Cívica Radical, que deixou o cargo após uma onda de protestos contra o governo deixar quase 30 mortos no país.

Depois de uma série de três presidentes que não chegaram a completar uma semana na Casa Rosada, Eduardo Duhalde foi eleito indiretamente pelo Congresso e teve o mérito de conseguir, ao menos, pacificar o país.

Com agências internacionais

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