Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
30/05/2003 - 15h03

Saiba mais sobre a cúpula do G8

JULIE SCHMIED
especial para a Folha Online

As reuniões do atual G8 (grupo dos sete países mais ricos do mundo mais a Rússia) não são novas. Elas tiveram origem em 1975, quando o então presidente francês Valery Giscard d'Estaing (hoje encarregado de redigir a Carta da Europa), decidiu convidar os líderes da Alemanha, Japão, Estados Unidos, Reino Unido e Itália para um encontro informal e particular.

A primeira cúpula aconteceu no Chateau de Rambouillet, próximo a Paris, para discutir temas da agenda internacional, contaminada pela crise do petróleo. O êxito dessa reunião a fez anual, com a pronta inclusão do Canadá, ao se reunirem como G7, em Porto Rico, no ano seguinte de 1976.

Ao grupo, foi convidada, desde 1978, a União Européia (UE), na época Comunidade Econômica Européia --que é desprovida da capacidade de chefiar ou sediar a cúpula.

A UE é representada, especificamente, pelo líder do país que ocupa a presidência do Conselho Europeu (atualmente a Grécia), e o presidente da Comissão Européia (hoje o italiano Romano Prodi).

A idéia em manter o caráter informal e pessoal da reunião permaneceu, mas evoluíram as temáticas e a conjuntura política internacional. Como evidência do fim da Guerra Fria, a Rússia foi convidada a compor o grupo, no ano de 1997. Ao fazê-lo, em 1998, na Cúpula de Birmingham, a Rússia compareceu já sob a política de ser realizada como uma reunião privativa de chefes de Estado ou governo, separada de outras reuniões, como as dos ministros das Relações Exteriores e da Economia.

Em rodízio, compete a um dos países do grupo dar acolhida à cúpula durante um ano físico, o que atualmente cabe à França. Os próximos países que vão sediar o evento são: EUA (2004), Reino Unido (2005), Rússia (2006), Alemanha (2007), Japão (2008), Itália (2009) e Canadá (2010).

Ao presidente do encontro compete, fundamentalmente, realizar a cúpula, atuar como porta-voz do grupo e acompanhar os temas discutidos. Ademais, o presidente tem de definir a localização, estabelecer a agenda, proporcionar as reuniões preparatórias e interagir com os países que não compõem o G8, as instituições e organizações internacionais, e a sociedade internacional, nas suas mais diferentes manifestações.

Agendas pós-Guerra Fria

Diversos foram os temas debatidos ao longo dos anos no G8, mas alguns deixaram marca indelével. No ano de 1998, em Birmingham (Reino Unido), ficaram marcados: a inclusão da Rússia no grupo e o término da Guerra Fria.

Em 1999, na cidade de Colônia, teve ênfase a Iniciativa para os Países Pobres Altamente Endividados, criada anteriormente na cúpula de Denver (1996), cujo encontro resultou no levantamento de mais de US$ 37 bilhões dos débitos dos países mais necessitados e incapacitados financeiramente do mundo.

No ano de 2000, em Okinawa (Japão), foram definidas: a provisão de fundos para o combate a doenças altamente infecciosas; a adoção de uma carta sobre a nova tecnologia de informação e comunicação e a temática digital.

Em 2001, em Gênova (Itália), foi criado o Fundo Global de Combate à Aids, Tuberculose e Malária. À época, também foram convidados a comparecer os representantes das mais importantes nações da África, para o lançamento da Iniciativa da Nova Parceria para o Desenvolvimento da África.

Já no ano de 2002, em Kananaskis (Canadá), os líderes do G8 promoveram um mais sólido cometimento para com a África e estabeleceram áreas prioritárias para o desenvolvimento da assistência ao continente. Outros importantes temas foram: a luta contra o terrorismo, com a criação da Parceria Global contra a Proliferação de Armas e Materiais de Destruição de Massa; a adoção de medidas de segurança no seu transporte; e o debate sobre a situação de conflitos regionais (Oriente Médio, Afeganistão e relações Índia-Paquistão).

Ao longo dos anos, a crítica mundial sobre as cúpulas do G8 recaiu sobre certo caráter de onipresença de sua atitude, resultando por vezes na inutilidade, por não dispor de capacidade ou estrutura de tomada de decisões, capaz de gerar ações concretas à altura.

Compreendidas suas natureza e alcance, o lado positivo incontestável está na essência de constituir uma reunião de certa cúpula do poder mundial, para debater informalmente uma agenda global.

Agenda de Evian

Em seu discurso no Palácio Elisée, no dia 21, o presidente da França, Jacques Chirac, apresentou a sua visão a respeito da cúpula dos membros do G8, em Evian-les-Bains, nos Alpes franceses, fronteira com a Suíça, que começa no domingo (1) e vai até terça-feira (3).

Chirac expressou também as suas expectativas para com a reunião alargada com chefes de Estado e governo de países do Norte e do Sul, que também junto com o encontro do G8.

O tema central, segundo a agenda francesa, corresponderá à recuperação da confiança mundial, tanto na economia, quanto na segurança. Chirac defende a necessidade do exercício mundial de uma economia de mercado responsável.

Referindo-se ao Gatt (Acordo Geral de Tarifas e Comércio, substituído em 1994 pela Organização Mundial do Comércio), defende que a rodada Doha, para ter sucesso, deve enfocar o acesso dos produtos dos países mais pobres aos mercados dos países ricos. Quanto à África, propõe que ela disponha de regras especiais de comércio internacional e de regime harmonizado preferencial.

Esses aspectos sobre a economia mundial e, particularmente, sobre o Sul, são, no mínimo, polêmicos para os membros do grupo.

Temas

À cúpula de Evian deverá, sim, corresponder o anúncio da implementação das ações levantadas no plano de ação para a África, definido em Kananaskis, no ano passado. Elas incluirão casos particulares sobre o combate à fome; a formação de uma força de paz africana; o acesso do continente ao mercado; a mobilização de fundos públicos e privados para aplicação no crescimento e na infra-estrutura regional, o combate à corrupção e o combate à degradação dos recursos naturais.

Também constam da pauta da cúpula os temas gerais do combate à mudança climática global, com o estado de adesão ao Protocolo de Kyoto, a proteção do ambiente, o combate ao declínio crescente da biodiversidade no planeta, a devastação acentuada das florestas, a pesca predatória e a ameaça aos mananciais costeiros apresentada pelos navios petroleiros fora dos padrões de segurança e conservação.

Na área da saúde mundial, o tema de importância e urgência é o da Sars (síndrome respiratória aguda grave), também conhecida com pneumonia asiática.

A ênfase norte-americana, já anunciada com substancial contribuição financeira, ao combate à Aids também terá o seu destaque. Espera-se o chamamento a que os demais membros do grupo também efetuem contribuições palpáveis.

A França considera, em enfoque mais universalista, que saúde, alimentação, acesso à água potável e ambiente saudável são direitos fundamentais dos povos.

No tema central da confiança mundial, a segurança joga papel capital. Ela se aparece especialmente abalada pelas ameaças globais, como o terrorismo, a proliferação das armas de destruição em massa, o tráfico de drogas e o crime organizado, temas que também constam da pauta de Evian.

Embora não agendada, a crise de credibilidade do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) , eclodida na guerra dos EUA contra o Iraque, não deverá passar despercebida, assim como a etapa de recuperação do território iraquiano. Esse é um campo em que as relações entre os membros do G8 apresentam fortes tensões.

Para Chirac, a globalização, tema capital da economia mundial, exige diálogo. Nesse propósito se assentam as iniciativas ou colocações sobre o tema, com origens definidas e no interesse do Japão, da Itália, do Canadá e dos países em desenvolvimento, especialmente convocados a comparecer à reunião ampliada.

Para aquecer o ameno clima primaveril dos Alpes franceses, já se encontram a postos, em Evian, os diversos e ativos grupos anti-globalização, incluída a curiosa organização "Povo Intergalático", elementos cativos da agenda das cúpulas do G8.

Julie Schmied é professora de relações internacionais e direito internacional da Universidade de Brasília (UnB)
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página