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Anúncio acusando índios de confronto acirra crise no Peru
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da Folha Online
da Folha de S.Paulo
O governo conservador de Alan García provocou controvérsia e polarizou ainda mais o clima político no Peru ao lançar propaganda na TV na qual acusa indígenas de assassinarem com "selvageria e ferocidade" 25 policiais durante confronto no norte, na sexta-feira. A rejeição ao anúncio, que não menciona os indígenas que morreram no episódio --9, segundo o governo, e ao menos 30, segundo lideranças das manifestações--, levou Carmen Vildoso, titular do Ministério da Mulher, a pedir demissão ainda anteontem.
O presidente do Conselho de Ministros (premiê),Yehude Simon, criticou Vildoso: "Uma coisa é sentir dor e dizer que lamentamos. Mas não somos culpados [pelo ocorrido]". Segundo a agência France Presse, a pressão sobre o governo fez com que a propaganda, no ar desde domingo, deixasse de ser exibida ontem.
O vídeo de pouco mais de um minuto exibe fotos de corpos de policiais sob o título "Assim atua o extremismo contra o Peru". Repisando o discurso do presidente García, a propaganda diz que os manifestantes querem impedir que o país se beneficie das reservas de gás e de petróleo sob a floresta. "Não houve enfrentamentos. Houve assassinato ", diz o vídeo.
Na sexta, forças de segurança do governo agiram para liberar uma estrada no norte do Peru, próxima à cidade de Bagua, a 1.400 km de Lima, bloqueada por indígenas. Durante a operação e arredores, ao menos 25 policiais morreram --10, de um grupo de 38 que havia sido feito refém, foram assinados pelos manifestantes.
Ontem, a delegação peruana na OEA (Organização dos Estados Americanos) defendeu a ação em uma sessão extraordinária do Conselho Permanente para tratar do tema, em Washington. A embaixadora Maria Zavala disse que o país atuou contra uma "conspiração" que ameaçava o abastecimento do país e que policiais foram "torturados e mortos".
Os manifestantes afirmam que houve ataque deliberado contra o bloqueio e contra lideranças. Afirmam que o toque de recolher na região ajudou o governo a "limpar" corpos.
Ontem foi mais um dia em que ONGs e organizações de direitos humanos pediram investigação independente do episódio, o mais sangrento do arrastado conflito entre o governo Alan García, que assumiu em 2006, e os indígenas.
Luis Benavente, diretor do Grupo de Opinião Pública da Universidade de Lima, está entre os analistas políticos que acusam o governo de alimentar a polarização com a propaganda. "O governo só faz piorar as coisas. A morte dos policiais é um crime, mas não apaga os erros do governo", disse à Folha.
Asilo e tensão regional
Se a situação na região de Bagua acalmou, com a volta dos indígenas a suas comunidades, os analistas temem que discursos como o do anúncio insuflem a mobilização em curso em regiões como Tarapoto e Loreto, no nordeste peruano.
Os indígenas agrupados na Aidesep (Associação Interétnica de Desenvolvimento da Selva Peruana) protestam há dois meses exigindo a revogação de uma série de decretos que facilitam a exploração econômica em 60% da Amazônia peruana. Argumentam que, contrariando convênios internacionais adotados pelo país, não foram consultados sobre as leis.
Hoje, o Congresso debaterá a validade de um dos decretos, o 1090, da Lei Florestal. Segundo o jornal peruano "El Comércio", até o bloco governista, que bloqueou o tema na semana passada, aceitou tratá-lo em plenário ontem.
O premiê Yehude Simon tentava ontem ressuscitar uma mesa de diálogo com os indígenas, com a mediação da Igreja Católica. O discurso duro do presidente e o pedido de asilo político na Nicarágua por Alberto Pizango, a principal liderança indígena, tornam improvável que isso ocorra logo.
O asilo de Pizango, acusado de sedição por Lima, também contribui para aumentar a reverberação regional da crise. Ontem, o Peru evitou criticar a Nicarágua do esquerdista Daniel Ortega, uma vez que recentemente concedeu asilo político a oponentes dos governos Hugo Chávez (Venezuela) e Evo Morales (Bolívia).
O governo García insinua que os protestos têm influência dos governos vizinhos esquerdistas e ontem vazou que --EUA, França e Bolívia-- rejeitaram o pedido de Pizango.
Os dois primeiros países consideraram, segundo disse uma fonte da Chancelaria peruana à agência Efe, que ele tem garantias para ser julgado no Peru. A Bolívia, segundo a mesma fonte, decidiu não conceder asilo para não piorar as relações com Lima.
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