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07/06/2003
-
02h31
da Folha de S.Paulo
A opinião pública palestina deverá ser o fator que determinará se o Hamas, principal grupo terrorista palestino, anunciará um cessar-fogo nos próximos dias ou seguirá enviando homens-bombas contra alvos israelenses, ameaçando as novas iniciativas de paz.
Segundo o israelense Amatzia Baram, especialista em grupos terroristas islâmicos, professor de história do Oriente Médio da Universidade de Haifa (Israel) e pesquisador do Instituto Brookings, em Washington (EUA), os palestinos estão cansados de violência e querem o fim da Intifada.
"Eles deixaram isso claro ao Hamas há cerca de um mês e têm repetido isso, o que influenciará o grupo. Tudo depende das ruas", disse Baram, 64. Leia entrevista por telefone à Folha de S.Paulo, de Israel.
Folha - Qual é o significado do anúncio do Hamas de que não negociará mais com Abu Mazen?
Amatzia Baram - É difícil saber exatamente. Talvez possamos compreender como uma reação às declarações de Mazen da quarta-feira, em Ácaba [Jordânia], quando ele disse que poria fim ao terrorismo contra israelenses. O Hamas tomou isso como uma ofensa pessoal, pois se considera um movimento de libertação, não um grupo terrorista. Também quer deixar claro que não entregará suas armas até que toda a Palestina esteja liberada. Só que, para o grupo, a Palestina inclui Tel Aviv, Haifa e outras cidades no coração de Israel. Ou seja, o grupo nunca abrirá mão de suas armas. Também é possível que o Hamas esteja fazendo uma demonstração de força, mas reinicie negociações em uma ou duas semanas.
Folha - Pode haver uma guerra civil entre palestinos?
Baram - Não. Vejo duas possibilidades. Um acordo entre o premiê e o Hamas que resulte num cessar-fogo. Ou a renúncia de Mazen, no caso de o grupo continuar a enviar homens-bombas para Israel. O premiê não tem o poder, as armas e as pessoas para vencer o Hamas pela força. Ele tem mais controle sobre as forças de segurança na faixa de Gaza, mas, na Cisjordânia [de onde saem a maioria dos suicidas], o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat, é mais forte. Mas há uma esperança.
Folha - Qual?
Baram - As pessoas, principalmente na faixa de Gaza, mas também na Cisjordânia, estão muito cansadas e realmente querem o fim das hostilidades. Deixaram isso claro aos líderes do Hamas há um mês e têm repetido isso. Não podemos ter certeza do que vai acontecer, mas me parece que a opinião pública palestina é contra a continuação da Intifada. E isso influenciará o Hamas.
Folha - E qual será a influência de Arafat?
Baram - Arafat quer que Abu Mazen fracasse, com a esperança de que os americanos e os israelenses se voltem novamente para ele como condutor das negociações de paz.
Folha - Mas o governo americano e o israelense já deixaram claro que não negociarão mais com Arafat.
Baram - É verdade. Isso nunca acontecerá, mas Arafat acha que eles conversarão com ele, se não houver outra opção. Mas, não esqueça, o principal protagonista no momento é o Hamas, e o mais importante é a opinião das ruas. Se os sentimentos forem no sentido de que a Intifada deva acabar, o Hamas acabará aceitando isso. Israel também tem parte da responsabilidade. Se Sharon mostrar que está fazendo algo para melhorar a vida dos palestinos, se desativar postos de controle em fronteiras, permitir a entrada de mais trabalhadores palestinos em Israel, as chances de sucesso das negociações de paz aumentam. Sharon precisará correr riscos. Se a atual tentativa de paz fracassar, creio que teremos mais dois ou três anos de banho de sangue.
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A opinião pública palestina deverá ser o fator que determinará se o Hamas, principal grupo terrorista palestino, anunciará um cessar-fogo nos próximos dias ou seguirá enviando homens-bombas contra alvos israelenses, ameaçando as novas iniciativas de paz.
Segundo o israelense Amatzia Baram, especialista em grupos terroristas islâmicos, professor de história do Oriente Médio da Universidade de Haifa (Israel) e pesquisador do Instituto Brookings, em Washington (EUA), os palestinos estão cansados de violência e querem o fim da Intifada.
"Eles deixaram isso claro ao Hamas há cerca de um mês e têm repetido isso, o que influenciará o grupo. Tudo depende das ruas", disse Baram, 64. Leia entrevista por telefone à Folha de S.Paulo, de Israel.
Folha - Qual é o significado do anúncio do Hamas de que não negociará mais com Abu Mazen?
Amatzia Baram - É difícil saber exatamente. Talvez possamos compreender como uma reação às declarações de Mazen da quarta-feira, em Ácaba [Jordânia], quando ele disse que poria fim ao terrorismo contra israelenses. O Hamas tomou isso como uma ofensa pessoal, pois se considera um movimento de libertação, não um grupo terrorista. Também quer deixar claro que não entregará suas armas até que toda a Palestina esteja liberada. Só que, para o grupo, a Palestina inclui Tel Aviv, Haifa e outras cidades no coração de Israel. Ou seja, o grupo nunca abrirá mão de suas armas. Também é possível que o Hamas esteja fazendo uma demonstração de força, mas reinicie negociações em uma ou duas semanas.
Folha - Pode haver uma guerra civil entre palestinos?
Baram - Não. Vejo duas possibilidades. Um acordo entre o premiê e o Hamas que resulte num cessar-fogo. Ou a renúncia de Mazen, no caso de o grupo continuar a enviar homens-bombas para Israel. O premiê não tem o poder, as armas e as pessoas para vencer o Hamas pela força. Ele tem mais controle sobre as forças de segurança na faixa de Gaza, mas, na Cisjordânia [de onde saem a maioria dos suicidas], o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat, é mais forte. Mas há uma esperança.
Folha - Qual?
Baram - As pessoas, principalmente na faixa de Gaza, mas também na Cisjordânia, estão muito cansadas e realmente querem o fim das hostilidades. Deixaram isso claro aos líderes do Hamas há um mês e têm repetido isso. Não podemos ter certeza do que vai acontecer, mas me parece que a opinião pública palestina é contra a continuação da Intifada. E isso influenciará o Hamas.
Folha - E qual será a influência de Arafat?
Baram - Arafat quer que Abu Mazen fracasse, com a esperança de que os americanos e os israelenses se voltem novamente para ele como condutor das negociações de paz.
Folha - Mas o governo americano e o israelense já deixaram claro que não negociarão mais com Arafat.
Baram - É verdade. Isso nunca acontecerá, mas Arafat acha que eles conversarão com ele, se não houver outra opção. Mas, não esqueça, o principal protagonista no momento é o Hamas, e o mais importante é a opinião das ruas. Se os sentimentos forem no sentido de que a Intifada deva acabar, o Hamas acabará aceitando isso. Israel também tem parte da responsabilidade. Se Sharon mostrar que está fazendo algo para melhorar a vida dos palestinos, se desativar postos de controle em fronteiras, permitir a entrada de mais trabalhadores palestinos em Israel, as chances de sucesso das negociações de paz aumentam. Sharon precisará correr riscos. Se a atual tentativa de paz fracassar, creio que teremos mais dois ou três anos de banho de sangue.
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