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29/06/2003
-
04h45
da Folha de S.Paulo
Robert Kuttner foi um dos três fundadores, em 1990, da American Prospect, um site e uma revista política que procuram ampliar a influência de uma certa esquerda moderada no Partido Democrata. A revista é apoiada por um consórcio de 125 ONGs liberais. Kuttner e seu grupo trabalharão, nas primárias democratas, pela candidatura do ex-governador de Vermont Howard Dean.
Leia a seguir sua entrevista à Folha de S.Paulo:
Folha de S.Paulo - Há talvez nos EUA um amplo consenso conservador. Não será articulada nenhuma reação?
Robert Kuttner - Não creio que exista um consenso conservador. São majoritárias, na opinião pública, opiniões liberais sobre grande parte dos assuntos. Al Gore [candidato presidencial do Partido Democrata] obteve a maioria dos votos em 2000. Bush procura mimetizar a plataforma democrata em questões saúde, educação ou políticas públicas para as crianças. O problema não está, portanto, na opinião pública. Está no fato de os norte-americanos não saberem ainda aquilo que os democratas pretendem.
Folha de S.Paulo- Qual seria a reação?
Kuttner - A reação deverá ocorrer em três planos simultâneos. Um candidato como Howard Dean elabora um programa liberal. Também vamos afrontar a infra-estrutura ideológica dos conservadores, com institutos como o da American Majority, de John Podesta, com a Revista American Prospect, com o Instituto de Política Econômica. Precisamos também trabalhar com os novos movimentos de massa.
Folha de S.Paulo - Como trabalhar com as sensações de insegurança e medo, geradas pelo 11 de Setembro?
Kuttner - Deveremos criticar o presidente Bush por não ter sido eficiente como guardião da segurança norte-americana. Ele foi ineficiente na defesa civil. Ele não está contendo a proliferação nuclear, ao sinalizar que outros países precisam de artefatos nucleares para se defenderem e ao se afastar de aliados históricos. Ele aumentou os perigos do mundo.
Folha de S.Paulo - O sr. acredita que os chamados "neo-cons" estejam trazendo algo de novo para a agenda política e social dos Estados Unidos?
Kuttner - Os neoconservadores estão circulando há duas décadas. A única diferença está no fato de estarem hoje no poder. E perigosamente no poder. Essa gente é uma mistura do idealismo de Woodrow Wilson [presidente dos Estados Unidos entre 1913 e 1921] com uma pitada do anacrônico imperialismo unilateral. É um pensamento que despreza as instituições internacionais e faz o país assumir um enorme risco.
Folha de S.Paulo - Qual seria a real importância de Leo Strauss como referência teórica do grupo?
Kuttner - Strauss foi sempre considerado um herói pelos conservadores que estudaram teoria política na Universidade de Chicago. Creio que sua influência seja hoje exagerada, mais pelos críticos dos neoconservadores do que pelos próprios integrantes do grupo. Há um fosso entre os neoconservadores e os fundamentalistas evangélicos. Mas os dois grupos são hoje aliados.
Oposição ao governo Bush procura táticas
JOÃO BATISTA NATALIda Folha de S.Paulo
Robert Kuttner foi um dos três fundadores, em 1990, da American Prospect, um site e uma revista política que procuram ampliar a influência de uma certa esquerda moderada no Partido Democrata. A revista é apoiada por um consórcio de 125 ONGs liberais. Kuttner e seu grupo trabalharão, nas primárias democratas, pela candidatura do ex-governador de Vermont Howard Dean.
Leia a seguir sua entrevista à Folha de S.Paulo:
Folha de S.Paulo - Há talvez nos EUA um amplo consenso conservador. Não será articulada nenhuma reação?
Robert Kuttner - Não creio que exista um consenso conservador. São majoritárias, na opinião pública, opiniões liberais sobre grande parte dos assuntos. Al Gore [candidato presidencial do Partido Democrata] obteve a maioria dos votos em 2000. Bush procura mimetizar a plataforma democrata em questões saúde, educação ou políticas públicas para as crianças. O problema não está, portanto, na opinião pública. Está no fato de os norte-americanos não saberem ainda aquilo que os democratas pretendem.
Folha de S.Paulo- Qual seria a reação?
Kuttner - A reação deverá ocorrer em três planos simultâneos. Um candidato como Howard Dean elabora um programa liberal. Também vamos afrontar a infra-estrutura ideológica dos conservadores, com institutos como o da American Majority, de John Podesta, com a Revista American Prospect, com o Instituto de Política Econômica. Precisamos também trabalhar com os novos movimentos de massa.
Folha de S.Paulo - Como trabalhar com as sensações de insegurança e medo, geradas pelo 11 de Setembro?
Kuttner - Deveremos criticar o presidente Bush por não ter sido eficiente como guardião da segurança norte-americana. Ele foi ineficiente na defesa civil. Ele não está contendo a proliferação nuclear, ao sinalizar que outros países precisam de artefatos nucleares para se defenderem e ao se afastar de aliados históricos. Ele aumentou os perigos do mundo.
Folha de S.Paulo - O sr. acredita que os chamados "neo-cons" estejam trazendo algo de novo para a agenda política e social dos Estados Unidos?
Kuttner - Os neoconservadores estão circulando há duas décadas. A única diferença está no fato de estarem hoje no poder. E perigosamente no poder. Essa gente é uma mistura do idealismo de Woodrow Wilson [presidente dos Estados Unidos entre 1913 e 1921] com uma pitada do anacrônico imperialismo unilateral. É um pensamento que despreza as instituições internacionais e faz o país assumir um enorme risco.
Folha de S.Paulo - Qual seria a real importância de Leo Strauss como referência teórica do grupo?
Kuttner - Strauss foi sempre considerado um herói pelos conservadores que estudaram teoria política na Universidade de Chicago. Creio que sua influência seja hoje exagerada, mais pelos críticos dos neoconservadores do que pelos próprios integrantes do grupo. Há um fosso entre os neoconservadores e os fundamentalistas evangélicos. Mas os dois grupos são hoje aliados.
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