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06/07/2003
-
04h00
da Folha de S.Paulo
O presidente do México, Vicente Fox, 61, que se aproxima da metade do mandato sem cumprir suas principais promessas de folcampanha, passa por importante teste nas urnas hoje, quando serão renovadas as 500 cadeiras da Câmara dos Deputados, além de parte dos governos e prefeituras.
Levado ao poder numa eleição histórica em julho de 2000, que encerrou 71 anos de governo do PRI (Partido Revolucionário Institucional), Fox gerou euforia no México com seu estilo de empresário bem-sucedido que iria trazer desenvolvimento e acabar com os privilégios e a corrupção.
Passados três anos, o governista PAN (Partido da Ação Nacional, centro-direita) não deverá, mais uma vez, obter uma maioria, comprometendo as perspectivas dos últimos três anos do mandato presidencial, que vai até 2006.
"O que está em jogo é o que poderá ou não fazer o presidente na segunda metade de seu mandato", disse à Folha de S.Paulo Jorge Castañeda, chanceler de Fox do início do governo até janeiro passado (leia entrevista na página seguinte).
Mais: o PRI, principal partido de oposição, tem chance de manter sua atual vantagem em relação ao PAN na Câmara dos Deputados. Não haverá votação para o Senado, onde o PRI lidera por uma margem um pouco maior.
Segundo pesquisas de 27 de junho, último dia de divulgação, nenhum dos três principais partidos -PRI, PAN e PRD- deve obter maioria (para a qual, por conta do sistema mexicano, seriam necessários ao menos 43% dos votos).
De acordo com o jornal "El Universal", o PAN teria 36,3% das intenções de voto, contra 33,7% para o PRI e 18,7% para o PRD (com margem de erro de 3,1 pontos percentuais). Já a Consulta Mitofsky dá ligeira vantagem para o PRI, com 35,9%, contra 32,8% para o PAN e 20,8% para o PRD (margem de erro de 4,5).
Na campanha, Fox prometeu renovar a política, promover um crescimento econômico de 7%, criar empregos e assinar um acordo com os EUA para regularizar a situação de milhões de imigrantes ilegais mexicanos. Dois anos e sete meses após a posse, ele sente o cheiro do fracasso.
Apesar de alguns bons resultados macroeconômicos (inflação e juros na faixa dos 4% ao ano, reservas acima dos US$ 55 bilhões), a economia quase não cresceu, o acordo com os EUA não saiu e a população começa a solidificar a imagem de um presidente honesto e bem intencionado, mas que não tem as rédeas do país.
Fox está sendo obrigado a conviver com uma Câmara dos Deputados na qual o PRI tem 207 deputados, contra 202 do PAN. A terceira maior agremiação, o PRD (Partido da Revolução Democrática, centro-esquerda), tem 56.
Resultado: o México vive uma paralisia, e as reformas fiscal, trabalhista e do setor elétrico -propostas por Fox e vistas por diversos setores como essenciais para o crescimento- não avançaram.
Diante da importância de obter uma maioria na Câmara, o presidente, que tem um percentual de aprovação pessoal de 63,5%, realizou uma intensa campanha publicitária de sua gestão. Nas últimas semanas, estrelou anúncios nos quais instava o eleitor a votar. A oposição reclamou, e a campanha foi tirada do ar por pressão do Instituto Federal Eleitoral.
Seu partido também tentou sensibilizar a população para a necessidade de dar maioria ao governo com a frase "Remova o freio da mudança". Mas os esforços parecem ter sido em vão.
Se as pesquisas de opinião se confirmarem, Fox não obterá uma maioria que viabilize uma virada. E estará diante de um dilema: ou parte para a negociação com seus adversários políticos ou corre o risco de ver seu governo fracassar, o que seria uma grande frustração para a jovem democracia mexicana.
México vai às urnas frustrado com Fox
OTÁVIO DIASda Folha de S.Paulo
O presidente do México, Vicente Fox, 61, que se aproxima da metade do mandato sem cumprir suas principais promessas de folcampanha, passa por importante teste nas urnas hoje, quando serão renovadas as 500 cadeiras da Câmara dos Deputados, além de parte dos governos e prefeituras.
Levado ao poder numa eleição histórica em julho de 2000, que encerrou 71 anos de governo do PRI (Partido Revolucionário Institucional), Fox gerou euforia no México com seu estilo de empresário bem-sucedido que iria trazer desenvolvimento e acabar com os privilégios e a corrupção.
Passados três anos, o governista PAN (Partido da Ação Nacional, centro-direita) não deverá, mais uma vez, obter uma maioria, comprometendo as perspectivas dos últimos três anos do mandato presidencial, que vai até 2006.
"O que está em jogo é o que poderá ou não fazer o presidente na segunda metade de seu mandato", disse à Folha de S.Paulo Jorge Castañeda, chanceler de Fox do início do governo até janeiro passado (leia entrevista na página seguinte).
Mais: o PRI, principal partido de oposição, tem chance de manter sua atual vantagem em relação ao PAN na Câmara dos Deputados. Não haverá votação para o Senado, onde o PRI lidera por uma margem um pouco maior.
Segundo pesquisas de 27 de junho, último dia de divulgação, nenhum dos três principais partidos -PRI, PAN e PRD- deve obter maioria (para a qual, por conta do sistema mexicano, seriam necessários ao menos 43% dos votos).
De acordo com o jornal "El Universal", o PAN teria 36,3% das intenções de voto, contra 33,7% para o PRI e 18,7% para o PRD (com margem de erro de 3,1 pontos percentuais). Já a Consulta Mitofsky dá ligeira vantagem para o PRI, com 35,9%, contra 32,8% para o PAN e 20,8% para o PRD (margem de erro de 4,5).
Na campanha, Fox prometeu renovar a política, promover um crescimento econômico de 7%, criar empregos e assinar um acordo com os EUA para regularizar a situação de milhões de imigrantes ilegais mexicanos. Dois anos e sete meses após a posse, ele sente o cheiro do fracasso.
Apesar de alguns bons resultados macroeconômicos (inflação e juros na faixa dos 4% ao ano, reservas acima dos US$ 55 bilhões), a economia quase não cresceu, o acordo com os EUA não saiu e a população começa a solidificar a imagem de um presidente honesto e bem intencionado, mas que não tem as rédeas do país.
Fox está sendo obrigado a conviver com uma Câmara dos Deputados na qual o PRI tem 207 deputados, contra 202 do PAN. A terceira maior agremiação, o PRD (Partido da Revolução Democrática, centro-esquerda), tem 56.
Resultado: o México vive uma paralisia, e as reformas fiscal, trabalhista e do setor elétrico -propostas por Fox e vistas por diversos setores como essenciais para o crescimento- não avançaram.
Diante da importância de obter uma maioria na Câmara, o presidente, que tem um percentual de aprovação pessoal de 63,5%, realizou uma intensa campanha publicitária de sua gestão. Nas últimas semanas, estrelou anúncios nos quais instava o eleitor a votar. A oposição reclamou, e a campanha foi tirada do ar por pressão do Instituto Federal Eleitoral.
Seu partido também tentou sensibilizar a população para a necessidade de dar maioria ao governo com a frase "Remova o freio da mudança". Mas os esforços parecem ter sido em vão.
Se as pesquisas de opinião se confirmarem, Fox não obterá uma maioria que viabilize uma virada. E estará diante de um dilema: ou parte para a negociação com seus adversários políticos ou corre o risco de ver seu governo fracassar, o que seria uma grande frustração para a jovem democracia mexicana.
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