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16/07/2003 - 10h13

Artigo: Nelson Mandela, "lenda viva" aos 85 anos

PHILIPPE BERNES-LASSERRE
da France Presse, em Johannesburgo (África do Sul)

O ex-presidente sul-africano Nelson Mandela, que completará 85 anos nesta sexta-feira (18) tem carinho dos seus conterrâneos e respeito internacional, sem privar-se por isso de fazer declarações comoventes ou irônicas em favor de uma causa ou contra uma injustiça.

O ex-chefe de Estado, afastado da vida política desde 1999 e das cansativas mediações internacionais desde 2001 (Burundi), vive sem dúvida alguma seu ano mais tranquilo em muito tempo, absorvido na redação do segundo volume de suas memórias.

Reuters - 18.jul.2001
Nelson Mandela e sua mulher, Graça Machel
A outra obsessão de Mandela são as crianças. Seus netos e bisnetos (quase 40 no total) e todas as crianças do país, às quais ajuda através de seu Fundo para a Infância. Este órgão não deixa de financiar escolas, clínicas ou projetos de qualquer tipo para os meninos carentes, ajudado pelos recursos de um setor privado, incapaz de dizer "não" ao conquistador sorriso de Mandela.

"Se eu não houvesse estado na prisão durante 27 anos, não sei se teria sido tão bom com as crianças. Mas 27 anos sem ver crianças foi uma experiência terrível", declarou recentemente o ex-prisioneiro político mais famoso do mundo, que nunca viu seus filhos crescerem.

Viagens

Mandela, aparentemente recuperado de um câncer da próstata, que foi tratado em 2001, não se locomove sem sua bengala ou sem a ajuda de um assistente. Mas continua percorrendo quilômetros como poucos octogenários o fazem. No ano passado, esteve em Burundi, no Reino Unido (em duas ocasiões), na Irlanda e na França, sem contar as numerosas viagens que fez em seu país.

Mas Mandela, "símbolo mundial da reconciliação", segundo o arcebispo Desmond Tutu, pertence a todos e o mundo inteiro lhe continua pedindo para realizar "missões impossíveis", como por exemplo uma mediação no Iraque durante a crise de desarmamento ou a questão de Caxemira.

"Difícil de controlar", "ingovernável", como se queixam sorrindo seus assistentes, o ex-chefe de Estado não hesita em utilizar sua autoridade moral para expressar-se, de maneira planejada ou totalmente improvisada, sobre as causas que o apaixonam.

E faz isso quando se trata de lutas longas como a da AIDS ou de causas mais específicas. Em janeiro passado, telefonou para o ex-governador de Illinois (EUA) George Ryan e influenciou sua decisão de comutar para prisão perpétua todas as condenações à morte em seu Estado.

Nelson Mandela, cada vez mais sábio com o passar dos anos, continua sendo um homem enérgico e não perdeu a capacidade de se enfurecer que o fez tão temível durante os comícios políticos de sua juventude.

Guerra no Iraque

Mas nada encolerizou mais este ano o Prêmio Nobel da Paz de 1993 do que a escalada que precedeu a invasão do Iraque e o menosprezo dos Estados Unidos em relação às Nações Unidas ou a qualquer enfoque multilateral.

Em várias ocasiões criticou "a arrogância" dos Estados Unidos, denunciando seu "perigoso desprezo pelos princípios da multilateralidade", o que torna os americanos "uma ameaça para a paz mundial".

Mandela acusou o presidente norte-americano, George W. Bush, de "não pensar corretamente" e inclusive insinuou um elemento de racismo na atitude de Washington sobre o secretário geral da ONU, Kofi Annan, de origem africana.

O ex-presidente não se limitou a estas declarações e até telefonou para tentar influenciar o andamento da crise, intervindo ante o secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, a conselheira de segurança nacional, Condoleezza Rice, e até o ex-presidente George Bush pai, para que fizesse seu filho "entrar na razão".

Embora sua influência tenha diminuído, sua importância permanece intacta. A África do Sul, que o venera como a um "avô da Nação", lhe prepara uma festa de aniversário bem de acordo com o afeto que lhe devota.
 

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