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21/07/2003 - 11h13

Informe iraniano sobre jornalista não esclarece fratura no crânio

da France Presse, em Teerã (Irã)

A Comissão de Investigação formada pelo Governo do Irã para explicar a morte da jornalista iraniana-canadense Zahra Kazemi, anunciada no dia 11 de julho, confirmou a morte por hemorragia devido a uma fratura no crânio infligida por um golpe, cuja autoria, entretanto, não foi esclarecida no informe oficial.

"Segundo o informe do médico forense, a causa da morte de Kazemi foi uma fratura no crânio, que provocou uma hemorragia cerebral", afirma o informe, elaborado pelos ministros da Informação, Cultura, Interior, Justiça e Saúde e divulgado pela televisão estatal.

O documento, cuja elaboração foi determinada pelo presidente Mohammad Khatami, não estabelece se a fratura foi causada por um objeto com o qual se bateu a cabeça da jornalista ou se, ao cair, ela se chocou com um objeto duro.

Segundo as conclusões do comitê médico criado pelo ministro da Saúde, Masud Pezechkian, "não há marcas de golpes ou ferimentos na cabeça" além da fratura.

No informe, afirma-se que a fratura foi causada cerca de 36 horas antes da vítima ser hospitalizada no último dia 27, à meia-noite (16h30 em Brasília). Os ministros pedem que "o informe seja entregue à Justiça e que se nomeie um juiz especial e independente para identificar o culpado ou os culpados pelo incidente".

Trabalho

O informe descreve hora a hora o período que Zahra Kazemi ficou presa, desde o dia 23 de junho, "às 17h40 [10h10 em Brasília) em frente à prisão de Evin", onde tentava fazer fotografias e escrever uma reportagem sobre as famílias das pessoas detidas nas manifestações de junho.

Quando foi levada para dentro da prisão, os agentes lhe pediram sua autorização de trabalho e que deixasse seu material para buscá-lo no dia seguinte. Depois, negaram-se a entregá-lo e colocaram-na em uma cela.

Entre as 22h25 e 2h30 locais, foi submetida aos primeiros "interrogatórios realizados pelo promotor adjunto de Teerã, dos quais também participou o próprio promotor [Said Mortazavi]".

Segundo o informe, entre 23 de junho às 17h40, hora na qual foi presa, e o dia 27 de junho às 0h20, quando foi hospitalizada, Zahra Kazemi esteve 21 horas nas mãos dos agentes dos serviços da procuradoria de Teerã. Depois, durante 26 horas, ficou com a polícia, e voltou novamente para os serviços da procuradoria durante quatro horas. Finalmente, durante suas últimas 26 horas, esteve nas mãos dos serviços do Ministério das Informações.

Isto significa que a fratura foi provocada entre os dois últimos períodos. Durante todo esse tempo, "negou-se a comer, tomando apenas água", relata o informe.

Por outro lado, "também recusou-se a responder às perguntas que eram feitas ou dava respostas desconexas", acrescenta o informe. No dia 26 de junho, depois dos interrogatórios começarem às 17h, os encarregados perceberam que a acusada não estava em seu estado normal.

Quando a levaram para sua cela por volta das 21h, "começou a sangrar pelo nariz". Às 23h30, as autoridades da prisão decidiram levá-la para o hospital Baghiatolá, administrado pelos Guardiães da Revolução (exército paralelo criado no dia seguinte à Revolução Islâmica).

No dia 27 de junho, às 13h30, os médicos comprovaram a "morte cerebral"' da jornalista, que foi mantida viva com aparelhos até o último dia 10.

O informe deixa importantes lacunas. Não diz se foi golpeada na cabeça. Além disso, não diz nada sobre os possíveis culpados de sua morte. Tampouco informa porque os médicos esperaram até dia 10 julho para anunciar oficialmente sua morte.
 

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