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02/08/2003
-
04h03
da Folha de S.Paulo, de Buenos Aires
O presidente argentino, Néstor Kirchner, voltou a reforçar a posição de que o Brasil é um importante parceiro para a Argentina e fundamental para o fortalecimento do Mercosul, mas demonstrou preocupação com a desaceleração da economia brasileira. As declarações foram feitas à revista argentina "Veintitrés", a primeira entrevista desde a sua posse, em 25 de maio.
"Não opino sobre a gestão de Lula como presidente. Seria uma irresponsabilidade de minha parte. Acredito que a parceria entre os dois países seja fundamental para a reconstrução do Mercosul. (...) Agora, se você quer saber se os problemas da economia brasileira estão trazendo produtos para cá, isso sim. Mas as áreas econômicas da Argentina e do Brasil já estão negociando isso, porque temos de evitar que qualquer problema na economia brasileira nos cause danos e vice-versa", disse.
Recentemente, os empresários argentinos e o próprio ministro da Economia, Roberto Lavagna, demonstraram preocupação com o aumento das importações de produtos brasileiros. Em junho, por exemplo, a balança comercial ficou negativa para a Argentina pela primeira vez em quase oito anos. A Argentina teme que o mercado local sofra uma "invasão" de produtos brasileiros. Os empresários também reclamam que, por causa da desaceleração econômica, as exportações para o Brasil caíram. E o país foi, nos anos da crise, o principal comprador dos produtos argentinos.
Kirchner disse ainda que não pretende prometer o que não vai cumprir no que se refere à recuperação econômica e melhora dos indicadores sociais. "Não há saídas imediatas, nem em meses. Não temos de ter depressão quando as coisas vão mal, nem euforia quando melhoram. É preciso ter equilíbrio. Não vamos alcançar o céu em dois dias. Estamos saindo do inferno, temos primeiro de passar pelo purgatório e o caminho é longo", afirmou.
Ele disse ainda que as negociações com o FMI (Fundo Monetário Internacional) vão bem e que as exigências feitas pela instituição são "as mesmas de sempre". Disse ainda que a assinatura de um novo acordo é importante para que a Argentina volte a conquistar estabilidade interna e externa. "O FMI serve para isso."
Na entrevista, Kirchner voltou a criticar as leis de anistia --de Ponto Final e de Obediência Devida. Disse que o ideal seria julgar os ex-militares dentro da própria Argentina, mas que "já que essas leis impedem, que sejam julgados no exterior". Atacou os setores que o acusam de ir contra os interesses de soberania nacional por ter anulado o decreto assinado pelo ex-presidente Fernando de la Rúa (1999-2001) que impedia as extradições. "Nos países sérios do mundo, a justiça é algo permanente. Aqui, lamentavelmente, parece que a reconciliação nacional está baseada na impunidade."
Néstor Kirchner defende parceria com Brasil
ELAINE COTTAda Folha de S.Paulo, de Buenos Aires
O presidente argentino, Néstor Kirchner, voltou a reforçar a posição de que o Brasil é um importante parceiro para a Argentina e fundamental para o fortalecimento do Mercosul, mas demonstrou preocupação com a desaceleração da economia brasileira. As declarações foram feitas à revista argentina "Veintitrés", a primeira entrevista desde a sua posse, em 25 de maio.
"Não opino sobre a gestão de Lula como presidente. Seria uma irresponsabilidade de minha parte. Acredito que a parceria entre os dois países seja fundamental para a reconstrução do Mercosul. (...) Agora, se você quer saber se os problemas da economia brasileira estão trazendo produtos para cá, isso sim. Mas as áreas econômicas da Argentina e do Brasil já estão negociando isso, porque temos de evitar que qualquer problema na economia brasileira nos cause danos e vice-versa", disse.
Recentemente, os empresários argentinos e o próprio ministro da Economia, Roberto Lavagna, demonstraram preocupação com o aumento das importações de produtos brasileiros. Em junho, por exemplo, a balança comercial ficou negativa para a Argentina pela primeira vez em quase oito anos. A Argentina teme que o mercado local sofra uma "invasão" de produtos brasileiros. Os empresários também reclamam que, por causa da desaceleração econômica, as exportações para o Brasil caíram. E o país foi, nos anos da crise, o principal comprador dos produtos argentinos.
Kirchner disse ainda que não pretende prometer o que não vai cumprir no que se refere à recuperação econômica e melhora dos indicadores sociais. "Não há saídas imediatas, nem em meses. Não temos de ter depressão quando as coisas vão mal, nem euforia quando melhoram. É preciso ter equilíbrio. Não vamos alcançar o céu em dois dias. Estamos saindo do inferno, temos primeiro de passar pelo purgatório e o caminho é longo", afirmou.
Ele disse ainda que as negociações com o FMI (Fundo Monetário Internacional) vão bem e que as exigências feitas pela instituição são "as mesmas de sempre". Disse ainda que a assinatura de um novo acordo é importante para que a Argentina volte a conquistar estabilidade interna e externa. "O FMI serve para isso."
Na entrevista, Kirchner voltou a criticar as leis de anistia --de Ponto Final e de Obediência Devida. Disse que o ideal seria julgar os ex-militares dentro da própria Argentina, mas que "já que essas leis impedem, que sejam julgados no exterior". Atacou os setores que o acusam de ir contra os interesses de soberania nacional por ter anulado o decreto assinado pelo ex-presidente Fernando de la Rúa (1999-2001) que impedia as extradições. "Nos países sérios do mundo, a justiça é algo permanente. Aqui, lamentavelmente, parece que a reconciliação nacional está baseada na impunidade."
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