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08/08/2003 - 14h16

Artigo: Marcos volta para proclamar o autogoverno zapatista

JORDI ZAMORA
da France Presse, em Oventic (México)

O encapuzado subcomandante Marcos voltou a dar um audacioso golpe de mídia nesta semana ao convocar seus seguidores no Estado de Chiapas (sul do México) para criar juntas de bom governo, que são o cumprimento de uma promessa que fez às suas bases zapatistas em 1994.

Em 1º de janeiro de 1994, quando o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) se levantou em armas provocando a surpresa mundial, Marcos não somente exigiu uma mudança política radical em seu país, em mãos do Partido Revolucionário Institucional (PRI) durante 70 anos, mas o respeito à identidade indígena.

Reuters - 25.fev.2001
Subcomandante Marcos, líder zapatista
Seu movimento armado acelerou essa mudança política, encarnada pelo atual presidente Vicente Fox, mas as ambições revolucionárias de Marcos -- supostamente um ex-professor de filosofia de 46 anos, filho de classe média e apaixonado pela literatura-- não foram satisfeitas.

Desde então, Marcos se concentrou em buscar apoios, através de seus famosos comunicados, para que seus seguidores indígenas pudessem sobreviver entre a miséria e a vigilante ameaça do Exército e os grupos armados do PRI.

Sempre encapuzado e com um cachimbo na boca, Marcos prometeu em 1994, em sua primeira Declaração da Selva Lacandona, que lutaria para tornar realidade o velho sonho de Emiliano Zapata, o guerrilheiro que lutou no início do século 20 para obter terra e liberdade.

Revolução

Em Chiapas, no início dos anos 80, quando Marcos chegou para fazer a revolução, a terra já estava repartida há décadas, e a liberdade era um sonho distante, em um Estado profundamente violento e com terríveis indicadores sociais.

"Que ocorre neste país que é necessário matar e morrer para dizer algumas palavras pequenas e verdadeiras sem que se percam no esquecimento?", perguntava Marcos pouco depois do levante de 1994, que em 12 dias provocou mais de 150 mortes.

Armado com palavras mordazes, que seduziram muitos intelectuais no mundo inteiro, Marcos tem sabido ganhar ao mesmo tempo a simpatia de toda uma geração de jovens antiglobalização, especialmente no Ocidente, atraídos pelo audacioso uso da internet para difundir suas idéias.

"Somos a única guerrilha que tem dado mais importância às palavras do que às balas", disse Marcos em outra ocasião.

Até mesmo seus detratores reconhecem que Marcos conseguiu pôr Chiapas ante os olhos do mundo inteiro.

O governo do PRI contra-atacou como pôde, divulgando por exemplo sua suposta identidade. No dia 9 de fevereiro de 1995, o ex-presidente Ernesto Zedillo tirou simbolicamente a máscara que escondia seu rosto para dizer: "Rafael Sebastián Guillén Vicente, alias Marco".

Com os anos, Chiapas foi se convertendo em um laboratório de autogoverno municipal, visitado regularmente por militantes e ONGs, mas com um peso decrescente no panorama político mexicano.

Solidariedade

Os partidários de Marcos são dezenas de milhares em um Estado de 4 milhões de habitantes. E também há simpatizantes em todo o país.

Marcos foi capaz de mobilizar mais de 200 mil pessoas em pleno coração da Cidade do México, no final de seu histórico giro pelo sul do país, em fevereiro e março de 2001.

Foi talvez seu momento máximo, mas o Congresso decidiu exercer sua soberania e modificou as propostas de reforma constitucional em favor dos indígenas.

Em seguida, o comando do EZLN se encerrou em um prolongado silêncio na Selva Lacandona, que só foi rompido por seu porta-voz em setembro de 2002.

Nessa ocasião, Marcos optou por avisar que o EZLN não estava morto, e para dar seu apoio ao grupo separatista basco ETA, o que provocou mal-estar em parte da intelectualidade que o apoiava.

Esta última iniciativa que acaba de adotar é arriscada: proclamar a criação de cinco "juntas de bom governo" para governar os 30 municípios em suas mãos.

"Desde o início de nosso levante, e ainda muito antes, os indígenas zapatistas insistimos em que somos mexicanos... mas também somos indígenas", resumiu Marcos em seu último comunicado, antes de convocar mais uma vez seus simpatizantes para que o desafio tenha êxito.
 

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