Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
18/08/2003 - 19h23

Corpo de cinegrafista morto no Iraque deixa Bagdá

da France Presse, em Bagdá

O corpo do cinegrafista palestino da Reuters que morreu ontem baleado pelas forças americanas perto de Bagdá foi levado hoje para Amã, na Jordânia, e deve ser enterrado perto de Hebron, na Cisjordânia, informou um porta-voz da agência de notícias britânica.

Mazen Dana, 43, morreu quando filmava do lado de fora da prisão de Abu Gharib, a oeste de Bagdá, depois de ter sido anunciado que seis presos morreram no sábado (16) vítimas de disparos de morteiro.

Premiado por seu trabalho nos territórios palestinos, Dana foi atingido no peito pelos tiros disparados por um soldado que integrava um comboio que circulava perto da prisão.

Um porta-voz da Reuters disse hoje que estava sendo feito o possível para que o corpo do jornalista fosse repatriado rapidamente. Um fotógrafo da agência indicou que as forças da coalizão anglo-americana levaram o corpo para Camp Croppe, nas instalações do aeroporto de Bagdá, imediatamente após a sua morte.

Ontem à noite, o tenente-coronel Ken McClellan, porta-voz do Pentágono, confirmou que as forças americanas mataram o cinegrafista. O coronel Guy Shield, porta-voz do Exército americano no Iraque, disse o mesmo: ''Enfrentamos um indivíduo e descobrimos depois que se tratava de um jornalista'', contou o militar, sem dar o nome da vítima. ''Abrimos uma investigação'', informou.

O incidente fez aumentar em Bagdá o sentimento de insegurança dos jornalistas, que estão à mercê dos saqueadores e, sobretudo, do nervosismo das forças americanas, que podem confundi-los com elementos hostis.

Especialmente vulneráveis estão os repórteres de TV, já que suas câmeras podem ser identificadas à distância como armas. No total, 16 jornalistas morreram e dois desapareceram desde o início da campanha militar anglo-americana no Iraque, em março passado.

As reações contra a morte de Mazen Dana não demoraram a surgir. O Instituto Internacional de Imprensa (IPI) condenou hoje em Viena, ''nos termos mais severos possíveis'', os tiros que custaram a vida do cinegrafista. ''Este acontecimento lamentável mostra que o regulamento das forças aliadas consiste em atirar primeiro e perguntar depois'', afirmou o diretor do IPI, Johann Fritz, numa carta dirigida ao secretário de Defesa americano, Donald Rumsfeld, cujo texto foi divulgado na sede da organização.

A Federação Internacional de Jornalistas, com sede em Bruxelas, denunciou a morte do cinegrafista e pediu a abertura de uma investigação independente. A morte de Dana ''traz, mais uma vez de forma trágica, a prova do que parece ser uma atitude negligente dos chefes militares frente à segurança dos jornalistas'', disse num comunicado Aidan White, secretário-geral da FIH.

Em Paris, a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) declarou-se ''aterrorizada e comovida'' com a morte de Dana. A organização exigiu que tenha início imediatamente uma investigação ''honesta e rápida, cujo objetivo não seja desculpar o Exército americano, e sim chamar a atenção para este drama''.

''Não se trata apenas de as tropas americanas terem cometido vários erros durante a guerra, e sim de que, até hoje, estes erros não tenham sido alvo de investigações dignas'', comentou o secretário-geral da RSF, Robert Menard, numa carta dirigida ao secretário de Defesa americano, Donald Rumsfeld.

Também se manifestou o Comitê de Proteção aos Jornalistas, que de Nova York ''solicita uma investigação profunda sobre este incidente, e explicações públicas sobre as circunstâncias que o envolveram'', diz um comunicado da ONG.

Especial
  • Saiba tudo sobre a guerra no Iraque
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página