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22/08/2003 - 17h51

Dirigente da OMS lembra primeiros momentos após atentado em Bagdá

CATHERINE RAMA
da France Presse, em Genebra (Suíça)

O diretor do setor de emergência da OMS (Organização Mundial de Saúde), David Nabarro, que estava no Hotel Canal de Bagdá na terça-feira (19), dia do atentado contra a sede da ONU, contou como foram o pesadelo e o horror dos primeiros 30 minutos depois da explosão, que matou o brasileiro Sérgio Vieira de Mello, representante das Nações Unidas no Iraque, e outras 22 pessoas.

''Chegamos ao Hotel Canal às 16h [9h em Brasília]. Na entrada principal as pessoas eram revistadas de maneira meticulosa. A segurança havia sido reforçada porque existia a preocupação de que algo grave poderia acontecer, mas não necessariamente contra a ONU'', lembra Nabarro.

O médico, que deixou Genebra para desenvolver projetos de assistência no Iraque, como a construção de hospitais na região curda, subiu ao primeiro andar do hotel e se reuniu com o responsável pelo programa Petróleo por Alimentos, Benon Sevan, e com o coordenador de ação humanitária das Nações Unidas, Ramiro Lopes da Silva.

Ao fim da reunião, Nabarro se preparava para encontrar a egípcia Nadia Yunes, sua colega de trabalho na OMS e chefe de gabinete do brasileiro Sérgio Vieira de Mello, representante da ONU no Iraque, quando a explosão aconteceu.

''Na hora ouvimos um barulho seco, muito alto. Tive a sensação de ter sido atingido na nuca, mas eram pedaços da parede que me atingiam. Depois caí no chão'', conta David Nabarro.

''Ramiro disse: 'Estou ferido!'. Um pedaço de vidro estava preso em seu corpo. Outro colega também estava sangrando. Ainda há sangue no meu caderno de anotações'', diz o doutor Nabarro ao lembrar os momentos de terror.

''A luz se apagou. Havia um cheiro horrível, numa mistura de fogos de artifício, pólvora e poeira por todos os lados. Depois ouvimos gritos e gemidos, e tentamos sair para ver o alcance dos danos'', acrescentou.

O corredor à esquerda estava bloqueado por destroços das paredes que caíram. ''À direita, um homem gemia com a camisa toda ensanguentada. Ele tinha dificuldades para respirar, pois algo havia perfurado seu pulmão. Outro estava sentado e dizia que estava com dores de cabeça'', explica o médico.

Nabarro começou a atender o homem que sangrava, mas os agentes de segurança chegaram e disseram que ele deveria sair do edifício.

''Aí percebemos que se tratava de uma grande bomba. Algumas pessoas já haviam sido levadas para o lado de fora. Elas estavam isoladas numa área com gramado na frente do hotel. Algumas estavam agonizando, outras mortas. Tinham diversos cortes'', conta.

''Um homem estava com pedaços de metal na cabeça e falava que estava morrendo.''

Nabarro e três colegas médicos começaram a prestar atendimento aos feridos. ''Naquele momento, eu pensava: Quando os militares vão chegar? Os primeiros 20 a 30 minutos passaram como um filme em câmera lenta, e só depois os americanos apareceram'', explica o médico.

''De cara, percebi que não estávamos no epicentro da bomba. Fui até o local e pensei em quem estava debaixo dos escombros. Tinha quase certeza de que Sérgio e Nadia estavam ali'', afirma.

''As equipes de emergência começaram a trabalhar com cuidado. As pessoas disseram que conseguiam ouvir Sérgio. Os soldados tentavam levantar os blocos de cimento. Naquele momento era vital não provocar novos desabamentos'', explica Nabarro, ao comentar a possibilidade de uma queda completa e um número ainda maior de vítimas. ''Era muito difícil, como um terremoto'', acrescenta.

De repente, David Nabarro interrompe sua narração: ''Desculpem, foi um monólogo. Mas eu ainda não havia falado sobre isso antes. É a primeira vez''.

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