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24/08/2003 - 04h52

Poder dos EUA de pacificar é questionado

FERNANDO CANZIAN
da Folha de S.Paulo, de Washington

Uma onda de pessimismo e desaprovação varreu na semana passada os principais meios acadêmicos e de pesquisa dos Estados Unidos em relação à condução da atual política externa norte-americana.

Iraque, Afeganistão e Oriente Médio estariam reafirmando a incapacidade dos EUA de lidar com situações de pós-conflito e pacificação de regiões sensíveis e onde o país tem interesses.

O consenso, segundo analistas ouvidos pela Folha de S.Paulo, é que os Estados Unidos deveriam dividir poder e responsabilidades com a ONU e outros países o mais rápido possível.

"Os fatos provam, mais uma vez, que somos apenas bons na guerra e um desastre na reconstrução e na pacificação'', afirma Lawrence Korb, ex-secretário-assistente da Defesa no governo Ronald Reagan (1981-89) e diretor do Council on Foreign Relations.

"É estúpido ser unilateralista e não chegar à conclusão de que temos de dividir o poder com outros países. Se é verdade que o objetivo dos EUA era se livrar de Saddam Hussein e fazer do Iraque um exemplo, é preciso agora dividir com a ONU e outros países a reconstrução do país'', diz Korb.

Pentágono

O principal obstáculo à divisão de poder no Iraque continua sendo imposto pelo Pentágono, que insiste em ter o comando do pós-guerra e quase toda a operação militar e de policiamento.

Para David Phillips, assessor para a área de Oriente Médio do Departamento de Estado, "as pessoas nesta administração que pensam que o objetivo no Iraque é manter o poder deveriam avaliar o que vêm acontecendo''.

"Um novo patamar de agressões a novos alvos vem se consolidando no Iraque. Mesmo em relação ao Afeganistão e Oriente Médio, é preciso um multilateralismo muito maior para lidar com os problemas'', afirma.

Segundo levantamento realizado pelo Serviço de Pesquisas do Congresso norte-americano, os EUA já realizaram mais de 200 intervenções militares ao redor do mundo desde a sua independência (1776).

Desse total, o Congresso contou 16 (ou 8%) ações caracterizadas como tentativas de reconstruir os países após a ação militar.

O saldo final mostrou, no entanto, que os norte-americanos tiveram sucesso em apenas quatro países (Alemanha e Japão, após a Segunda Guerra, Panamá, em 1989, e Granada, em 1983).

Pessimismo

Segundo o estudo, há razões para pessimismo em relação ao Afeganistão e ao Iraque, já que a maioria das tentativas fracassadas (como Haiti, Camboja, Vietnã, República Dominicana e Cuba, por exemplo) não produziu democracias nem mesmo dez anos depois das intervenções.

Para Michael O'Hallon, pesquisador do Brookings Institute e conhecido autor da área de segurança e conflitos, os EUA deveriam deixar a ONU participar "imediatamente" da reconstrução iraquiana e transferir a responsabilidade da segurança à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte, aliança militar ocidental liderada pelos EUA).

"Sem maior presença militar e representatividade, não chegaremos a lugar nenhum'', afirma O'Hallon.

Frederick Barton, especialista em reconstrução do Centro Internacional de Estudos Estratégicos e uma das pessoas que ajudaram o Pentágono nos planos para o pós-guerra, afirma que é possível esperar "mais más do que boas notícias do Iraque nos próximos dias''.

"Os Estados Unidos continuam agindo como se não precisassem de ninguém para resolver seus problemas, o que é um erro'', diz Barton, que acaba de voltar do Iraque, onde ficou durante 11 dias.

"Da viagem, tirei a conclusão de que estava errado ao achar que já havíamos saído da borda do precipício'', afirma.

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