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29/08/2003 - 20h11

Comissão peruana visita local de conflito que matou 69 mil

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da Folha Online

Gritando "justiça sim, esquecimento não", peruanos se reuniram hoje na região andina de Ayacucho (sul do país), para assistir à apresentação de um relatório da Comissão da Verdade e Reconciliação do Peru, que lançou luz sobre a violência política que deixou 69 mil mortos e desaparecidos nos últimos 20 anos do século 20.

"Eu acredito que pode haver justiça com a comissão. Pela primeira vez, eles estão nos ouvindo, estão apoiando as vítimas", disse Paulina Rojas, 35, camponesa cuja irmã foi estuprada e morta a tiros aos 12 anos. Os assassinos não são conhecidos.

"Quero ouvir as recomendações da comissão porque está na hora do governo ouvir", disse ela. Rojas viajou de sua cidade para assistir à cerimônia, na qual a comissão apresentou seu relatório de nove volumes. A comissão escolheu a região de Ayacucho porque 40% das vítimas do conflito vieram da região.

Relatório

O presidente da Comissão Verdade e Reconciliação, o peruano Salomón Lerner, anunciou ontem que a violência política no Peru deixou mais de 69 mil mortos e desaparecidos nos últimos 20 anos, o dobro do que se estimava anteriormente.

Lerner culpou o grupo Sendero Luminoso pelos conflitos e acusou as Forças Armadas e a polícia por crimes contra os direitos humanos.

Segundo ele, "cabe hoje ao Peru enfrentar um tempo de vergonha nacional". O chefe da comissão afirmou que "as duas décadas finais do século 20 deixaram no país uma marca de horror e de desonra para o Estado e a sociedade".

O relatório foi baseado em dois anos de investigações sobre as violações aos direitos humanos no país entre 1980 e 2000 e contou com aproximadamente 17 mil testemunhos.

A comissão teve acesso a documentos militares internos e também entrevistou líderes rebeldes detidos, ex-presidentes e outras figuras públicas.

Alvos civis

Durante os 20 anos de guerra interna, a população foi especialmente atingida, principalmente os habitantes de áreas rurais e de pequenas cidades, que muitas vezes se viram no meio do fogo cruzado entre os ataques dos grupos terroristas e a repressão desencadeada pelas forças de segurança.

As conclusões da comissão, fundada em 2001, alguns meses após a fuga do então presidente, Alberto Fujimori, para o Japão, em novembro de 2000, serão entregues ao presidente do Peru, Alejandro Toledo, do Congresso, Henry Pease, e da Corte Suprema de Justiça, Hugo Sivina.

O padre Salomón Lerner, reitor da Universidade Católica de Lima, e um dos 12 integrantes da comissão, o relatório denunciará mais de cem militares responsáveis por graves violações aos direitos humanos.

Embora o objetivo do trabalho seja buscar a reconciliação entre os peruanos, a comissão não deverá propor algum tipo de perdão aos terroristas do Sendero atualmente presos --muitos deles condenados em julgamentos quase sumários, que não respeitaram os padrões processuais reconhecidos internacionalmente.

Estima-se que haja mais de 2.000 membros do grupo nas prisões, entre eles seu líder máximo, Abimael Guzmán, capturado em 1992, no primeiro mandato de Fujimori. A prisão levou ao desmantelamento do Sendero.

O Sendero, de inspiração maoísta, é apontado como o principal responsável pela guerra interna. Na tentativa de tomar o poder pelas armas, o grupo empregou métodos extremamente violentos, comparados aos praticados pelo Khmer Vermelho, que tomou o poder no Camboja entre 1975 e 1979 e executou centenas de milhares.

Com agências internacionais

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