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05/09/2003 - 17h35

Saiba mais sobre o papel dos EUA no golpe de Estado no Chile

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LAURA BONILLA
da France Presse, em Washington

Na próxima quinta-feira (11), o golpe militar no Chile completa 30 anos. Em 1999, o desarquivamento maciço de documentos americanos sobre o golpe de Estado no Chile ajudou a esclarecer a responsabilidade de Washington na derrubada de Salvador Allende (1970-73) e na instalação no poder do general Augusto Pinochet, 87 (1973-90).

O desarquivamento, depois de um debate de três décadas sobre o papel de Washington no golpe, desenterrou detalhes sobre as operações secretas da CIA (agência de inteligência dos EUA) no Chile entre 1962 e 1975, primeiro para impedir que Allende fosse eleito, depois para desestabilizar seu governo e finalmente, após o sangrento golpe do dia 11 de setembro de 1973, para apoiar o regime militar de Pinochet, que durou 17 anos.

Os documentos da CIA, do Pentágono, do Departamento de Estado e do FBI --com desarquivamento solicitado pelo ex-presidente Bill Clinton em 1999 enquanto Pinochet estava preso em Londres a pedido da Justiça espanhola-- destacam que logo após a eleição de Allende em 1970, o ex-presidente Richard Nixon autorizou o então diretor da CIA, Richard Helms, a minar o governo chileno por temer que este se tornasse uma nova Cuba.

"O 30º aniversário do golpe levanta o debate sobre o papel e a responsabilidade dos Estados Unidos nos trágicos acontecimentos no Chile", afirmou Peter Kornbluh, diretor do projeto de documentação do Chile na ONG Arquivos de Segurança Nacional, que fez pressão em favor do desarquivamento.

O aniversário também "oferece a oportunidade de usar estes documentos para avançar na compreensão internacional dos fatos e responsabilizar não só os chilenos envolvidos no golpe, mas também os funcionários americanos que planejaram estes fatos", acrescentou Kornbluh. O livro que escreveu sobre o assunto "O Arquivo Pinochet; um dossiê desarquivado sobre atrocidade e responsabilidade" foi publicado no dia 1º de setembro.

Arquivos

A CIA aceitou a contragosto liberar os documentos, e no dia 19 de setembro de 2000 entregou ao Congresso um informe no qual revelou que o chefe da temida polícia secreta (Dina) de Pinochet, Manuel Contreras, foi seu empregado em 1975.

Os documentos também destacaram que os contatos da CIA com Contreras continuaram logo após ele ter enviado seus agentes a Washington para assassinar Orlando Letellier, ministro chileno das Relações Exteriores no governo socialista de Allende, e seu assessor americano, Ronni Moffit, em 1976.

"A CIA apoiou ativamente a junta militar após a derrubada de Allende", indicou o comunicado apresentado ao Congresso.

"Muitos oficiais de Pinochet estavam envolvidos em abusos sistemáticos dos direitos humanos (...) Alguns deles eram informantes ou agentes da CIA ou das forças armadas americanas", acrescentou.

Submetido a nove processos, Contreras foi condenado em abril no Chile a 15 anos de prisão pelo sequestro de um opositor ao regime militar, que integra a lista de mais de mil desaparecidos. Foi sua segunda condenação, depois de ter ficado preso sete anos por ter mandado matar Letellier e Moffit.

O informe também revelou que a CIA pagou US$ 35 mil a um grupo de militares chilenos pelo assassinato em 1970 do general René Schneider, comandante-em-chefe do Exército fiel a Allende, durante um fracassado golpe de Estado planejado por Washington.

Kissinger

Isso parece contradizer as declarações que Henry Kissinger, conselheiro de Segurança Nacional e depois secretário de Estado de Nixon, fez em 1975 a um Comitê do Senado americano que investigou "As ações secretas da CIA no Chile entre 1963 e 1973".

Kissinger afirmou aos senadores que Washington tinha cortado o apoio ao grupo de militares responsável pela morte de Schneider uma semana antes de ele ter sido assassinato.

A investigação do Senado revelou em 1975 que a CIA planejou operações para sabotar a eleição de Allende em troca de subornos a parlamentares, e que fomentou o fracassado golpe de Estado de 1970.

A família de Schneider pediu em 2001 para Kissinger ante uma corte da capital americana que detalhasse sua participação na morte do general chileno. A corte ainda não se pronunciou.

Kissinger, Prêmio Nobel da Paz 1973, afirma ser inocente. Nas suas memórias negou que Washington tivesse desempenhado algum papel no golpe, e declarou que se tratava de um "mito" criado pelos comunistas.

No entanto, não escondeu sua simpatia por Pinochet ao escrever que com a derrubada de Allende "o Exército chileno tinha salvado o país de um regime totalitário e os Estados Unidos, de um inimigo".

As justiças chilena, argentina, francesa e espanhola têm tentado sem sucesso interrogar Kissinger sobre o desaparecimento de pessoas durante a ditadura de Pinochet, muitas delas durante o Plano Condor de coordenação da repressão entre ditaduras sul-americanas (incluída a chilena) nos anos 70 e 80, do qual Washington estava sabendo.

Allende no Chile e Fidel Castro em Cuba transformaram a "América Latina em parede vermelha", escreveu anos depois Nixon nas suas memórias, justificando o empenho de Washington para intervir na região durante a Guerra Fria.
 

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